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Quem costuma passear pelo Barigüi, em Curitiba, mal pode imaginar como o rio que dá nome ao parque vem sendo tratado quilômetros acima. Um trecho do rio em Almirante Tamandaré, cidade vizinha da capital, virou um depósito de pneus. Equipes de monitoramento ambiental da prefeitura de Tamandaré, que descobriram o crime contra a natureza, já contaram quase uma centena de pneus de carreta abandonados clandestinamente no leito do Barigüi ou na mata ao lado. Pode haver mais, enterrados no lodo do rio.

"Só num trecho de 15 metros, a gente contou 23 pneus que ainda estão enterrados no rio", diz Lázaro Dutra Faleiros, assessor especial de meio ambiente da prefeitura de Almirante Tamandaré. Cerca de 20 já foram retirados da mata que cobre a encosta do Barigüi. Outros 48, removidos do leito pela prefeitura, hoje formam uma fileira à espera de um guincho que os retire dali. "Cada um desses pneus deve pesar uns 50 quilos. Temos de usar um guincho para tirá-los", justifica Faleiros. Alguns pneus menores, de carros, também esperam pela remoção na trilha que dá acesso ao leito do rio. À medida que os pneumáticos estão sendo removidos do rio, a prefeitura vai levando o material para um destino ambientalmente adequado, afirma o assessor.

Encontrar o responsável pelo crime ambiental, porém, deve ser difícil, pois não houve flagrante. "A gente acha que deve ter sido alguma borracharia que vinha despejando os pneus ao longo dos anos", diz Faleiros. Possivelmente quem jogava o material no rio parava o carro na Rodovia dos Minérios, que fica no alto da encosta, e lançava os pneus morro abaixo. Eles acabavam parando no rio.

Segundo Faleiros, os pneus abandonados não chegaram a represar o rio, pois eles acabaram enterrados no leito devido à correnteza. Mas isso não diminui a gravidade da agressão ambiental. "Essa é uma área de proteção permanente", explica o assessor ambiental.

Pneus velhos são um dos piores tipos de lixo. Eles têm tempo de degradação indeterminado. Ou seja, dependendo das condições em que estejam, podem ficar na natureza por séculos. Os pneus que não estavam imersos no rio também podem acumular água da chuva, transformando-se em foco de proliferação de insetos, como o mosquito transmissor da dengue.

Devido a esses riscos ambientais, a Resolução 258/99, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), proíbe o lançamento de pneus velhos na natureza e obriga os fabricantes a recolher e a reciclar cinco pneumáticos velhos para cada quatro produzidos. A resolução ainda recomenda que a indústria crie uma rede de postos de coleta de pneus velhos, que poderiam ser entregues pela população. O objetivo da norma, com força de lei, é justamente evitar que esse tipo de lixo continue a ser despejado na natureza, como no caso de Almirante Tamandaré.

Essa não é a primeira vez que se descobre um depósito clandestino de pneus na cidade. Um terreno de uma área rural do município já abrigou uma verdadeira montanha de 1,8 mil toneladas de pneumáticos velhos. O depósito, que se tornou notícia na imprensa nacional, porém, já foi removido há cerca de dois anos.

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