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Veja como foi o processo de identificação das ossadas |
Veja como foi o processo de identificação das ossadas| Foto:

Para relembrar

O que deu origem à Inconfidência foi a taxação imposta pela corte portuguesa, chamado de quinto (20% ou 1/5 sobre a quantidade de ouro extraído anualmente em Minas), que revoltou principalmente uma pequena elite de Vila Rica – hoje Ouro Preto (MG). Muitos não pagaram o imposto e, com a dívida, a corte costumava confiscar até as propriedades dos endividados.

  • É no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG), que está o Panteão onde serão sepultados os esqueletos dos três homens. No local há outros 13 inconfidentes enterrados
  • Imagens da reconstrução do crânio de José de Resende Costa. As partes perdidas na exumação foram preenchidas com cera branca

Foram necessários dez anos para identificar as ossadas de três inconfidentes mineiros mortos há pelo menos dois séculos. Agora, José de Resende Costa, Domingos Vidal Barbosa e João Dias Mota ganharão lugar no Panteão do Museu da Inconfidência Mineira, em Ouro Preto (MG), onde irão se juntar aos restos mortais de outros 13 inconfidentes. As informações são da Agência Brasil e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O sepultamento será feito na próxima quinta-feira pela manhã, dia de Tiradentes, com a presença da presidente Dilma Rousseff.A identificação das ossadas exigiu uma parceria entre história e ciência. Com o trabalho de especialistas do Museu da Inconfidência e profissionais em odontologia da Universidade Estadual de Cam­pinas (Unicamp) foi possível comprovar que os ossos são mesmo dos três inconfidentes.As ossadas foram submetidas a exames de densitometria e radiográfico, que medem a densidade dos ossos e identificam a idade que a pessoa tinha quando morreu. Tudo indica que José de Resende Costa tinha cerca de 70 anos, Domingos Barbosa tinha entre 30 e 32 e, João Mota, 50 anos.

Só em 1992 as ossadas dos três chegaram a Ouro Preto, ficando na Igreja Antonio Dias até que fosse realizada pesquisa sobre sua identidade. Desde 1980, o diretor do Museu, Rui Mourão, e a equipe de pesquisadores da instituição vinham estudando a autenticidade das ossadas que estavam até então no Itamaraty.

"Através de todas as informações obtidas, posso dizer que temos de 98% a 100% de certeza de que as ossadas são dos três inconfidentes", explica o professor Eduardo Daruge, que coordenou as pesquisas na Unicamp. Daruge lamenta, por outro lado, que as atividades do grupo não tenham recebido recursos do governo. "Tentei vários órgãos, mas não obtive nenhuma ajuda, pelo contrário, até gastei dinheiro do meu bolso para fazer a tomografia."

Com a grande quantidade de fragmentos ósseos pertencentes a um crânio, a equipe da Unicamp conseguiu fazer a reconstituição facial de José de Resende (veja ao lado), por uma tomografia computadorizada em três dimensões feita em uma universidade de Londres.

Ao todo, 26 nomes estão associados à Inconfidência: 10 têm paradeiro desconhecido. "Tudo o que pudermos acrescentar à história da Inconfidência Mineira é importante, até porque esses personagens deram contribuição efetiva ao movimento", diz Mourão.

História

Depois da execução brutal de Tiradentes, único condenado à morte, enforcado e esquartejado em 21 de abril de 1792, os outros inconfidentes foram exilados para Portugal e África. Entre eles estavam os mineiros José de Resende Costa, João Dias da Mota e Domingos Vidal de Barbosa. Os três foram enviados para Lisboa em junho de 1792. De Portugal, seguiram exilados para a África — dois para Cabo Verde e um para a Vila de Cacheu, Guiné Portuguesa, uma região inóspita onde viviam algumas tribos.

Conforme documentos históricos, Domingos Vidal de Barbosa e João Dias da Mota faleceram logo depois, em 1793. José de Resende Costa, em 1798. De acordo com informações prestadas pelas tribos, os três brasileiros foram enterrados ao lado de uma pequena igreja da vila.

Em 1932, a pedido do cônsul brasileiro Dakar, os despojos foram exumados na Vila de Cacheu e identificados como sendo dos três degredados. A identificação, no entanto, baseava-se em informações prestadas por uma indígena que havia ouvido de parentes a história de brasileiros enterrados na região. Os restos mortais foram repatriados para o Brasil, ficando no arquivo histórico do Itamaraty, no Rio de Janeiro. O ex-presidente Getúlio Vargas, em 1936, assinou decreto determinando o repatriamento dos despojos de todos os inconfidentes mortos em Portugal e África. No mesmo ano, as urnas de outros 13 inconfidentes chegaram ao Rio de Janeiro e, pouco depois, foram enviadas para Ouro Preto. Em 1942, seria criado o Panteão dos Inconfidentes, para onde foram levados. As ossadas dos degredados exumados em Cacheu, porém, por motivos desconhecidos, não foram juntadas às demais no Panteão. Elas permaneceram no arquivo do Itamaraty até a década de 90, o que aumentava as dúvidas dos historiadores sobre a identidade dos mortos.

José de Resende Costa (1728-1798)

Era capitão do Regimento de Cavalaria Auxiliar da Vila de São João e fazendeiro em Arraial da Laje, hoje chamado Resende Costa (MG). Foi preso em 1789, junto com seu filho de mesmo nome, e condenado ao exílio com outros inconfidentes. No degredo, foi contador e distribuidor forense até 1798, quando morreu. Seu filho voltou ao Brasil em 1803. Acima, está a reconstituição de seu rosto.

João Dias da Mota (1744 – 1793)

Nasceu em Vila Rica, foi capitão do Regimento da Cavalaria de São João. Era fazendeiro, amigo de Tiradentes. Morreu em 1793 de uma epidemia que atingiu a vila de Cacheu.

Domingos Vidal de Barbosa (1761-1793)

Estudou medicina na França. Participou de forma discreta na conspiração: conseguiu apoio, na Europa, para a Inconfidência.

Os outros 13

Inácio Peixoto, Tomaz Gonzaga, João Rodrigues, Francisco Lopes, Salvador Gurgel, Vitoriano Veloso, Vicente Mota, Antônio Lopes, José Gomes, Luiz Pisa, Domingos Vieira, Francisco Andrada e José Maciel.

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