Três perfis de cultura popular

• 0

O grafiteiro - Cleverson Paes Pacheco, o Café, 23 anos, descobriu o spray na adolescência, mas foi há poucos anos que formou sua primeira crew – como são chamados os coletivos que reúnem vários criadores. O grupo já fez intervenções grandes, como as paredes da trincheira da Avenida Augusto Stellfeld, e imagens em dois vagões da América Latina Logística (ALL). Não à toa, o Sítio Cercado virou o museu a céu aberto enfeitado pelas figuras grafitadas por artistas como Café. "O grafite é a cultura da periferia", resume o mestre do spray. O único perigo é a periferia perder seu artista para a religião. Em 2007, o grafiteiro trocou a Escola de Música e Belas Artes pelos estudos de Teologia.

A mãe-de-santo - Terreiro de umbanda é cultura? A jornalista Lucília Guimarães, 47 anos, mãe-de-santo no Terreiro Pai Maneco – no Santa Cândida – garante que sim. Além de artistas, não é raro encontrar quem adote o terreiro atraído pelo excelente grupo de percussão que assiste às giras, ou pela curiosidade em conhecer um culto tido como genuinamente brasileiro. "A umbanda está deixando de ser uma religião escondida. Saiu das páginas policiais para freqüentar as de cultura. É uma boa notícia", comemora Lucília. A equipe de Ozanam de Souza identificou 237 terreiros na pesquisa, mas estima-se que em toda a cidade haja 4 mil espaços de culto.

A benzedeira - As benzedeiras e rezadeiras desaparecem com uma velocidade espantosa. "São culturas femininas, matriarcais, passam de mãe para filha", explica Ozanam. Entre as seis identificadas pela equipe da Fundação Cultural, destaca-se Genoveva Huk, 90 anos, moradora do Alto Boqueirão. "Comecei em Irati e aprendi com minha mãe. Recebi o dom quando já era casada", conta. Com a saúde frágil e castigada pela artrose, Genoveva se vê obrigada a dispensar as mães com crianças de colo que ainda a procuram em busca de uma reza. A filha Clarice não pretende continuar a tradição.