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O armador turco responsável pela operação do navio Seref Kuru, com bandeira de Malta, está trocando os advogados que o representam no Brasil. A tripulação é suspeita de lançar ao mar um camaronês que viajava ilegalmente a bordo do navio. Um advogado do Rio de Janeiro, que atuou no caso inicialmente, foi afastado e será substituído pelo advogado Giordano Reinert, especialista na área criminal.

Com escritório em Paranaguá, Reinert assume a defesa a partir de segunda-feira (30). Os tripulantes da embarcação são alvos de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF) por prática dos crimes de racismo, tortura e tentativa de homicídio.

O advogado turco Arda Gürata está no litoral para acompanhar o caso ao lado de Reinert. Eles são acusados de lançar em alto-mar, a 15 km da costa, o soldador camaronês Ondobo Wilfred, 28 anos, que entrou clandestinamente no navio no Porto de Douala, em Camarões, durante a passagem da embarcação por território africano.

O armador turco trabalha com a possibilidade de manter a tripulação no Brasil por longo tempo, se a Justiça aceitar denúncia do MPF. Gürata e advogados brasileiros estudam a possibilidade de marcar uma entrevista coletiva durante a semana para apresentar a versão dos tripulantes do Seref Kuru.

Sem seguro

Por determinação da Justiça Federal, 15 tripulantes do Seref Kuru que continuam no interior do navio, com passaportes retidos, terão que deixar a embarcação até o próximo dia 5 de agosto. Eles permanecerão sob custódia armada em um hotel da cidade, juntando-se a outros quatro tripulantes que se encontram em terra. Uma nova tripulação está sendo reunida às pressas, na Turquia, e deverá chegar ao Brasil durante a semana.

O armador turco terá que pagar multa aos contratantes pela demora no porto, que ultrapassou o prazo acordado. Além disso, o operador do navio deve pagar os custos de estadia e custódia dos tripulantes. De acordo com gestores portuários, o preço médio da multa gira em torno de US$ 30 mil por dia, dependendo do tamanho da embarcação. O Seref Kuru chegou a Paranaguá em 27 de junho e atracou no porto no dia 20 deste mês para o carregamento de uma carga de açúcar. Os custos com a permanência dos tripulantes no Brasil não são cobertos pela seguradora do navio.

Além de turcos, a tripulação tem membros da Geórgia, país localizado no Leste Europeu. Familiares dos tripulantes estariam aflitos com a situação. Sem dinheiro para vir ao Brasil, eles entram diariamente em contato com o escritório do armador para saber notícias do caso.

Lanterna e dinheiro

De acordo com depoimento de Wilfred à Polícia Federal, ele foi salvo pela tripulação de um navio chileno que o recolheu e alertou a Marinha. Ele diz ter permanecido à deriva durante 11 horas, flutuando sobre um palhete de madeira. Antes de ser jogado, ele teria recebido, além do palhete, uma lanterna e 150 euros dos tripulantes.

O clandestino camaronês relatou que se escondeu no interior do navio por oito dias, até ficar sem água e comida. Disse que, ao ser descoberto, foi agredido com tapas no rosto e chutes no peito, até desmaiar. Ele contou que um dos agressores dizia que "não gostava de preto" e que "todos eram animais".

A vítima afirmou ter sido mantida em uma cabine e impedido de dormir. Segundo ele, a tripulação revezava para que sempre houvesse alguém batendo na porta de ferro do pequeno cômodo durante os 11 dias nos quais ficou preso. Após esse tempo, segundo o depoimento, o camaronês teria sido jogado no mar.

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