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O 12 de janeiro havia sido um bom dia para a freira Rosângela Altoé, 56 anos. O encontro dela e de Zilda Arns com religiosos do Haiti superara as expectativas. "Depois da palestra eles vieram conversar conosco. Fizeram várias perguntas. Estavam todos muito animados em implementar o trabalho da pastoral", conta.

Segundo a freira, Zilda e os padres dirigiam-se à escada do segundo andar do Centro de Formação de Religiosos de Porto Príncipe quando o mundo ruiu. "Eu virei as costas para pegar nosso material de divulgação e a bolsa da dona Zilda. Aí foi aquele estrondo muito forte. Como uma bomba", recorda. Depois disso, tudo virou caos. A laje cedeu e irmã Rosângela foi escorregando. Caiu no meio dos destroços e pulou por uma parede destruída. Quando se levantou, não via nada. "Uma nuvem de poeira tomou conta", explica. Os sons, porém, diziam tudo. "Do nosso lado havia uma escola. Eu ouvia os gritos das crianças no meio dos escombros", relata. Rosângela tentou voltar ao centro de religiosos, mas outra parede ruiu e ela voltou para a rua. Só voltaria a ver Zilda quando o corpo foi retirado dos escombros.

Parecia um fim injusto para uma jornada que teve início em 2001, na primeira viagem de Zilda ao Haiti. Inúmeros problemas atrapalharam o retorno: a instabilidade política haitiana, a falta de segurança, problemas com documentação. Em agosto, decidida a ir, Zilda encarregou irmã Rosângela de organizar a viagem. "A cada dificuldade, ela respondia: ‘Rosângela, vai dar tudo certo no final. Você vai ver’."

Pouco antes de morrer, Zilda acertava com padre William, coordenador do centro de formação religiosa, a tradução das cartilhas da pastoral para o creole, língua nativa que junta elementos do francês com idiomas africanos. O padre sobreviveu e a intenção é continuar com o trabalho.

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