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Cartaxo: delegados que chefiaram Seki não viram a necessidade de enviá-lo ao serviço psicossocial | Antônio More/ Gazeta do Povo
Cartaxo: delegados que chefiaram Seki não viram a necessidade de enviá-lo ao serviço psicossocial| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Namoro com a estudante Paola teve vários percalços, diz amigo

Antonio Senkovski

A estudante Paola Natália Cardoso, 23 anos, conheceu o seu algoz, Napoleão Seki Júnior, quando precisava de ajuda. Sua mãe foi vítima de um assalto e ele, como investigador da Polícia Civil, recebeu Paola em uma das unidades da polícia quando a estudante foi buscar socorro.

A história, contada por um amigo de Paola que pediu para não ser identificado, é o início de um romance que teria uma série de percalços. "Ela conheceu o capeta e não conseguiu se livrar do inferno", comentou. Segundo ele, o casal vivia momentos de brigas constantes, mas Paola sempre foi uma pessoa muito feliz.

Recentemente, no aniversário de um ano do filho da estudante, o rapaz encontrou com ela pela última vez. Na ocasião, ela falou que tinha conseguido transferir o curso de Engenharia Química, que cursou parcialmente em Pelotas, no Rio Grande do Sul, para a Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.

"Ela era uma moça muito feliz, alegre, simpática. Foi um ato covarde, além de ser um tiro pelas costas ela estava algemada. Fiquei indignado com a situação", disse. A reportagem procurou por familiares de Paola, mas não conseguiu encontrá-los.

Colaborou Diego Ribeiro

O investigador da Polícia Civil Napoleão Seki Júnior, de 38 anos, que matou a namorada Paola Natália Cardoso, 23, na última quinta-feira, no bairro Alto da XV, em Curitiba, não era avaliado pelos psicólogos da corporação desde 2010, ano em que ingressou na polícia. A informação foi revelada ontem, em entrevista coletiva concedida pelo delegado-chefe da Divisão de Investigações Criminais, Luiz Alberto Cartaxo.

O caso expõe uma fragilidade no acompanhamento do comportamento dos policiais no Paraná. Segundo a Lei Estadual 15.448/2007, todos os policiais civis e militares são obrigados a cada 12 meses, a passarem por uma avaliação de três profissionais [médico, psicológico e assistente social] para exercerem suas funções.

Mesmo com a legislação exigindo essas avaliações anuais, no entanto, a estrutura da Polícia Civil conta com apenas 7 psicólogos no serviço de atendimento psicossocial. Na teoria, eles poderiam atender todos os policiais civis. Na prática, é inviável. A própria lei não especifica quem deveria prestar o atendimento aos policiais, apenas que são obrigados a passar pelas avaliações. Há cerca de 4 mil policiais civis no Paraná.

Apesar disso, Cartaxo considera que o serviço tem conseguido atender a demanda. Há atualmente cerca de 40 policiais que estão afastados do trabalho e que são atendidos pelo serviço de atendimento psicossocial. O trabalho dos psicólogos funciona quando há necessidade específica. Se um chefe ou diretor de departamento suspeita de desvios de comportamento dos policiais, pode encaminhá-los ao serviço de atendimento psicossocial.

Destempero

Ainda em estágio probatório (período de três anos de experiência dentro do serviço público), Seki Júnior respondeu a dois procedimentos por ser suspeito de protagonizar momentos de destempero emocional. Mesmo assim, os delegados que chefiaram o investigador não viram motivo para encaminhá-lo ao serviço psicossocial da Polícia Civil, segundo Cartaxo. O estágio venceu em outubro, mas como um dos processos não foi concluído, não foi possível excluir o policial.

"O que aconteceu com ele [Seki Junior] ocorre todos os dias com cidadãos comuns também", disse o delegado, lembrando que não apenas o policial está sujeito a problemas psicológicos.

O primeiro caso envolvendo Seki Júnior ocorreu logo que ele entrou na corporação, em 2010. Foi uma briga de vizinhos. O desentendimento virou um termo circunstanciado e terminou com um acordo entre as partes na Justiça.

Há pouco mais de um ano, conta Cartaxo, o investigador também teria sacado a arma em um bar na cidade de Mauá, região metropolitana de São Paulo. O episódio, ainda não confirmado no processo, rendeu mais um procedimento administrativo disciplinar ao investigador, que ainda está aberto. O procedimento ainda depende de respostas de cartas precatórias enviadas às pessoas que denunciaram o policial em Mauá. "Ele nega no processo. Não se pode aplicar nenhum tipo de punição sem o devido processo legal", afirma Cartaxo.

Inviável

Cada um dos cerca de 4 mil policiais civis do Paraná precisam, segundo a Lei Estadual 15.448/2007, passar, anualmente, por uma avaliação de três profissionais (médico, psicológico e assistente social). Não é especificado quem deveria prestar o atendimento a eles, mas a estrutura da corporação conta hoje com apenas 7 psicólogos, número inviável para o cumprimento da lei dentro da instituição.

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