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Homem caminha em meio à água da enchente em Murici: cidade de 27 mil habitantes tem 60% da população dependente do Bolsa Família | Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Homem caminha em meio à água da enchente em Murici: cidade de 27 mil habitantes tem 60% da população dependente do Bolsa Família| Foto: Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Malandragem

Pessoas tiram proveito entre desabrigados

Na tentativa de receber uma casa nova do governo, falsos desabrigados se infiltraram entre os flagelados das chuvas nos alojamentos de Alagoas. As autoridades já descobriram casos em União dos Palmares e há indícios em Murici. Os aproveitadores teriam criado "flagelados fantasmas’’ para receber alimentos por, supostamente, abrigarem vítimas das enchentes em suas casas. Outros estariam vendendo alimentos recebidos. As denúncias partem dos próprios desabrigados. "Eles nos avisam quando alguém só aparece para dormir’’, conta a responsável pelas doações em União dos Palmares, Elizabeth de Oliveira.

Folhapress

  • Vida no barraco improvisado -Com a destruição das casas e o aperto nos abrigos, muitas famílias fizeram moradias improvisadas com lonas, pedaços de madeira retirados dos escombros e lençóis. Sivanilda Maria da Silva vive em um deles com seis filhos e o marido, na cidade de Murici, em Alagoas. A base do barraco é a grama encharcada e a lona com furos permite que a água invada a moradia
  • A doação de R$ 20 que faz falta -Quando via as imagens sobre a destruição em Santa Catarina, em novembro de 2008, a vendedora de bijuterias Maria Sônia Ferreira conta que chorava com as histórias dos que perderam tudo. Emocionada, doou R$ 20.
  • Em casa para evitar saques -A casa da feirante Maria Cassiano foi atingida pela enxurrada, em Rio Largo, em Alagoas, mas ficou de pé. A lama invadiu a residência, mas mesmo assim Maria quer ficar no local para evitar saques do pouco que sobrou.
  • Mortadela dos destroços -Moradora da cidade de Barreiros, em Pernambuco, Cândida Maria Andrade Santos reclama que não recebe cestas básicas. O vizinho Anderson da Silva Santos, na mesma situação, entrou em um supermercado atingido pela enxurrada e retirou do meio da lama cinco pacotes de mortadela. Um deles deu para Cândida Maria, que aceitou prontamente
  • Municípios estão em uma das regiões menos desenvolvidas do país. Conheça os índices sociais

O tumulto para receber doações é grande no município alagoano de Branquinha, uma das 95 cidades afetadas pela enxurrada em Ala­­goas e Pernambuco. O Exército pôs cordas e bancos para organizar a entrega feita na igreja, único prédio que ficou de pé no centro de Branquinha. Agentes da prefeitura cadastram as pessoas atingidas pela cheia e dizem que elas terão prioridade no recebimento de cestas básicas. "Eu preciso tanto quanto os cadastrados", retruca na fila a moradora Roseane da Silva, 32 anos. A casa onde ela vive com o marido e dois filhos não foi atingida, mas Roseane diz que não tem como comprar alimentos. "O temporal só piorou a situação."Branquinha está entre as 50 ci­­dades do país com pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de um total de 5.507 municípios. O indicador mede a combinação dos níveis de riqueza, educação e ex­­pectativa de vida. Entre os estados, Alagoas é o que tem o pior IDH. Pernambuco aparece na 23.ª colocação. Os dois estados registram 57 mortes pela chuva. Agora, os go­­vernos terão de contornar a situação diante de uma realidade que já costuma ser difícil. Há municípios afetados com mais da metade de sua população atendida pelo programa Bolsa Família, que beneficia pessoas em situação de pobreza e de extrema pobreza. "Aqui temos os desabrigados, os desalojados e os necessitados. Todos estão num patamar único", diz a prefeita de Branquinha, Renata Moraes. Cer­­ca de 60% da população da ci­­dade depende do programa do governo federal. Em Jacuípe, na divisa de Alagoas com Pernam­buco, o índice chega a 73%.Entre a população atingida pela enxurrada no Nordeste estão boias-frias, quilombolas, moradores de assentamentos rurais e trabalhadores de usinas. A economia nas cidades é muito dependente da cana-de-açúcar, do serviço público e do comércio.

Busca por emprego

Na falta de empregos, trabalhadores costumam ir para outros estados cortar cana. O marido da empregada doméstica So­­lange Bezerra do Nascimento, 36 anos, é um deles. Ele saiu no dia 5 de junho de Branquinha e a esposa ficou com os três filhos. Na cheia do dia 18, Solange dormia com as crianças e conta que, não fosse o irmão Valdemar ter batido na por­­ta, ela desceria pelo rio. "Meu marido não estava aqui na hora que mais precisava. Quem me acudiu foi minha família. Ele nem tem culpa, não sabia que ia acontecer isso."

Solange perdeu a casa e vive agora com a mãe e o irmão. O marido não pode voltar mais cedo, se­­não perde o contrato de trabalho. Deve voltar entre 23 e 24 de dezembro, para o Natal.

"A vida é sofrida porque pobre não tem vida boa", resume o trabalhador rural afastado José Sebas­­tião da Silva, 48 anos, sobre a vida dele em Branquinha. Ele ficou sem a casa, não tem economias e espera não perder o benefício que recebe por causa de um acidente de trabalho. Acha que poderia perder o auxílio caso não conseguisse uma bicicleta emprestada para ir a Murici fazer a perícia médica. "Dá mais de uma hora para Murici, mas, se não fizer a perícia, não recebo mais."* * * * *

Acompanhe os relatos de nossos enviados especiais no Blog Vida e Cidadania, no site www.gazetadopovo.com.br/blog/blogvidaecidadania/

Calaborou Jorge Olavo

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