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Claudemir pensa em buscar tratamento para se livrar do crack... | Fotos: Brunno Covello/ Gazeta do Povo
Claudemir pensa em buscar tratamento para se livrar do crack...| Foto: Fotos: Brunno Covello/ Gazeta do Povo
  • ... Paulo, por sua vez, chora ao lembrar do pai, que ficou em Beltrão

O Viaduto João Negrão, também conhecido como Ponte Preta, no Centro de Curitiba, não é só parte da história do Paraná. A estrutura metálica tombada pelo patrimônio histórico também virou lar de uma dezena de pessoas que não têm onde morar. Em vãos que se formam nas cabeceiras, os "moradores da ponte" penduram seus cobertores, improvisando espécies de tendas. Ali, vivem à margem, como se fossem invisíveis às centenas de transeuntes e carros que passam diariamente pelo local.

Em geral, eles vieram de outras regiões em busca de uma "vida melhor", mas tiveram as suas destruídas pelas drogas. O morador mais antigo do viaduto é Claudemir Rodrigues Rocha, o Pequeno, de 32 anos. Depois da morte da mãe, ele se afundou no crack até ser expulso da casa em que morava, em Almirante Tamandaré, pelo próprio irmão. Sem ter pra onde ir, decidiu que os trilhos da velha ponte lhe serviriam de teto.

"O ruim é a ‘rataiada’. Não dá pra guardar comida que eles atacam", conta. "Quando chove, não tem lona que resolva.É um frio que você não imagina. Cada chuva é um cobertor que a gente perde", lamenta.

Pequeno dividia a tenda apertada (um cubículo de meio metro de altura por dois de largura) com a namorada, de 16 anos. Na última semana, no entanto, ela foi encaminhada pela Secretaria de Saúde a uma clínica para dependentes químicos em Cascavel, no Oeste. A garota está grávida de quatro meses. "Eu não queria que ela perdesse a criança. Procurei tratamento pra ela", diz o rapaz, que fuma três pedras de crack por dia. "Eu uso pouco, mas também queria me tratar", assente.

Sonho

No extremo oposto, outras duas "barracas" servem de abrigo a outros moradores. Entre eles, o guardador de carros Paulo Renato de Paula, de 29 anos. Há quatro meses, ele migrou de Francisco Beltrão, no Sudoeste, iludido pelo sonho de vida melhor. "Eu queria muito crescer na vida. Achei que aqui daria certo. Meu sonho agora é ter um carrinho para catar latinha e papelão", revela.

Paulo não se deixa fotografar. Seus olhos se enchem de água quando lembra do pai, que ficou em Beltrão. "Eu não queria que ele me visse nessa situação", desabafa. Sob o teto improvisado, Paulo tem necessidades urgentes: a próxima refeição, arrumar uma nova calça, conseguir uns trocados. "Semana passada, eu queria fazer a barba. Achei uma gilete no lixo, arrumei água e rapei. A gente acaba perdendo a vergonha."

Pequeno e Paulo estimam que cerca de dez pessoas vivam sob a Ponte Preta. Muitos, aliás, não quiseram conversar com a reportagem. A cada dia, chega um novo morador, ou então alguém vai embora. Apesar da precariedade, florescem ali gestos de solidariedade. Paulo interrompe a entrevista e pega um pacote aberto de bolachas e entrega a um jovem que acabou de chegar do interior de São Paulo. "O irmão ali tá com fome. Não sabe se vai ou se fica."

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