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Oitenta voluntários trabalharam para melhorar a autoestima das 120 selecionadas pelo Clube de Mães em parceria com a Fiep | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Oitenta voluntários trabalharam para melhorar a autoestima das 120 selecionadas pelo Clube de Mães em parceria com a Fiep| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Boa ação em dobro

Às vésperas do esperado "dia de princesa", o Clube de Mães e a Fiep contavam com a participação de 40 voluntários, entre instrutores do Senac-PR (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, responsável pelo "salão") e estudantes do curso de Estética da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), que ministrariam um curso de automaquilagem. No dia, eram 80. "Nós nos surpreendemos com a quantidade de voluntários. Não imaginávamos que haveria tanta gente interessada em ajudar", salienta a coordenadora-executiva do Conselho de Cidadania Empresarial da Fiep, Carla Mocellin.

Ela relembra como surgiu a iniciativa. "Estávamos reunidas um dia para discutir ações aqui na comunidade e as moradoras disseram que queriam mais, que queriam ser bem tratadas, valorizadas, ganhar massagem, aí resolvemos fazer algo para elas e chamamos as empresas que faziam parte do conselho para nos apoiar". Para Carla, o evento foi importante para resgatar a autoestima das mulheres. "Elas não têm acesso a esses cuidados. E muitas vezes são responsáveis por tanta coisa, como casa, sustento da família, escola dos filhos, emprego, contas para pagar, que se esquecem delas mesmas."

Além do Senac e da UTP, também participou da ação a empresa de cosméticos Boticário, que cedeu instrumentos de maquiagem e os kits-brindes de limpeza e beleza. O Clube de Mães agora está à procura de empresas que aceitem bancar novas iniciativas voltadas às mulheres. A próxima está prevista parao Dia das Mães.

Direito à vaidade

Ela já foi vista como um pecado – está entre os capitais, inclusive. Também pode ser sinônimo de superficialidade, soberba, egocentrismo. A vaidade, porém, quando bem administrada, pode significar saúde e felicidade. "A vaidade faz parte da natureza humana e das convenções sociais desde os primórdios da civilização grega, através dos mitos e deuses da beleza. O universo feminino estimula este aspecto, e não será problema se a mulher souber associar a vaidade a outros valores humanos", pondera a psicóloga Vera Carvalho.

Segundo ela, a vaidade só apresenta riscos quando o consumo de produtos ou serviços voltados à beleza se torna excessivo. Nesse sentido, a propaganda e a mídia, especialmente no mês da mulher, têm grande responsabilidade em incentivar uma relação saudável entre a mulher e o que é oferecido a ela em termos de cuidados. "Há risco quando o apelo visa muito mais ao aspecto comercial do que ao desenvolvimento da mulher e sua relação com o mundo, com o meio ambiente ou sobre a sua tarefa social".

E para quem alega não ter qualquer indício de vaidade, a psicóloga alerta: "É um sinal que pode sugerir baixa autoestima, depressão, complexos sociais ou dificuldades relacionais". Vaidade com bom-senso, então, está liberada.

A diferença é visível, salta aos olhos: de cara lavada, elas entram ressabiadas, ansiosas, com os olhos baixos. Saem alegres, falantes – e com a sobrancelha feita, as maçãs do rosto coradas e as pálpebras cintilantes. Esse era o cenário de transformação que se via no último sábado, no Clube de Mães da Vila das Torres, onde 120 mulheres se espremiam num espaço apertado, esperando a vez de serem chamadas para viver um dia de princesa, com direito a massagem, escova e chapinha, limpeza de pele, maquiagem e brindes. A iniciativa, uma parceria entre o Clube de Mães e o Conselho de Cidadania Empresarial da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), era uma homenagem por ocasião do Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje.

Quem era só sorrisos durante a sessão de beleza era a costureira Lídia da Silva, 58 anos. Não foi para menos: além dela, entre as contempladas estavam também a filha, Elsa Vieira, 37, e a neta, Kellyn, de 19. "Quando foram distribuir os convites, foi um sufoco, todo mundo queria. Sorte que nós três ganhamos, vamos ficar as três bem bonitas" comentava Lídia, que até sábado não sabia o que era blush, base ou corretivo. "Nunca usei maquiagem na vida. A única coisa que cheguei a passar foi um batom. E a única vez que fui a um cabeleireiro foi quando a Elsa casou, há 19 anos, para fazer as unhas. Escova e prancha também nunca tinha feito."

A filha confirma as palavras da mãe: "Ela nunca teve esse luxo na vida, nem eu. A única vez que arrumei o cabelo em salão foi no meu casamento. Maquiagem eu nunca usei, não sei nem passar". Com Kellyn, a situação era um tanto diferente, mas não muito. "Eu faço a sobrancelha, pinto o cabelo, mas é tudo em casa. Não sobra dinheiro para ir a um cabeleireiro, para que alguém com mais experiência cuide da gente". E a ala feminina da família já tinha planos para depois do salão. "Vou pegar as crianças e dar um passeio no Jardim Botânico. À noite, vou sair com meu marido, que não sabe que vim aqui, é surpresa", revelou Elsa. "Vou chamar meu ‘velho’ e nós vamos à igreja", emendou Lídia.

A presidente do Clube de Mães, Irenilda Arruda, disse que foi difícil selecionar as 120 escolhidas. "A prioridade foi para as mais carentes e que fazem um trabalho mais pesado, como as catadoras de papel. Mas se fôssemos chamar todo mundo passaria de 500 mulheres". Segundo ela, a intenção inicial era proporcionar um dia de cuidados às moradoras, mas o evento acabou se transformando numa oportunidade para que elas saíssem de casa, largassem por um dia o serviço pesado e se encontrassem para debater ideias e até arranjar uma nova ocupação. "Aqui elas dão risada, conhecem gente nova e até descobrem que podem fazer um curso de maquiagem, por exemplo, e no futuro até largar o carrinho e virar cabeleireira, manicure".

A catadora de papel Silvana Cordeiro, 35 anos, aprovou a mudança de ambiente. "É muito bom deixar as preocupações um pouco de lado e vir cuidar da gente". Ela contou que a última vez que se deu ao luxo de arrumar a cabelo foi há nove anos, e que a mãe, que ela não via há quatro anos e reencontraria no sábado, ia "levar um susto". "Ela vai ter um infarto de me ver bonita assim", brinca. Catadora de papel há nove anos, ocupação que lhe rende R$ 55 reais semanais, Silvana tem dores fortes na coluna, problema aliviado com uma sessão de massagem rápida a que todas têm direito logo que chegam.

"Elas chegaram tensas e saíram leves. Não é só a tensão física, mas emocional. Aqui elas puderam desabafar e descarregar os problemas de todo tipo", diz a estudante de Estética e voluntária da iniciativa Adriana Arruda. "A gente diz que, depois da massagem e de um dia como esse, elas saem faceiras, vão embora com a autoestima nas alturas".

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