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Quase R$ 600 mil jogados fora: futura incumbadora industrial, no Guatupê, em São José dos Pinhais, virou mocó antes de atender o público | Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Quase R$ 600 mil jogados fora: futura incumbadora industrial, no Guatupê, em São José dos Pinhais, virou mocó antes de atender o público| Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo

Balanço

Avaliadores identificam 29 obras prontas, mas fora de uso

O levantamento feito pelo Crea-PR e TCE-PR abrangeu 455 obras em 147 municípios, identificadas como concluídas em 2012, por intermédio do Sistema de Informações Municipais - Acompanhamento Mensal (SIM-AM). Ao fim, o check-list foi aplicado em 418 obras, até porque algumas estavam paralisadas ou nem sequer haviam sido iniciadas.

Em alguns municípios, como em São José dos Pinhais, foram registrados casos bastante díspares. O Centro de Juventude da cidade completou um ano em novembro, em plena atividade, atendendo 230 jovens de 12 a 18 anos e sem apresentar quaisquer problemas estruturais. Por outro lado, a menos de 10 quilômetros dali, os técnicos não conseguiram fiscalizar o que deveria ser uma incubadora empresarial no bairro Guatupê porque a obra estava totalmente degradada no momento da visita, feita em julho.

O prédio chegou a ser concluído ano passado, mas, como não foi utilizado, teve as paredes pichadas, as janelas quebradas, louças e canos roubados, virando abrigo de usuários de drogas e moradores em situação de rua – o valor estimado da obra, na época da construção, era de R$ 598,2 mil.

Segundo o relatório do Crea-PR e TCE-PR, outras 29 edificações no estado se encontravam na mesma situação no momento das vistorias: obras que foram concluídas, mas nunca usadas para seu fim, em geral devido à falta de funcionários, móveis ou equipamentos. "Quanto mais tempo sem utilização, maior o dano para os prédios. Nessas situações, fica evidente que não houve um planejamento adequado", afirma o presidente do Crea-PR, Joel Krüger.

Nota baixa

Entre as 455 obras avaliadas pelo Crea-PR e TCE-PR, oito não atenderam nem sequer a metade dos itens avaliados no quesito qualidade. Somente essas oito obras correspondem a um custo total de R$ 7,9 milhões – investimento que, conforme reforçam os técnicos dos dois órgãos, acabou não sendo eficaz, visto o "alto comprometimento na qualidade destas obras". De forma geral, problemas como esse seriam resultado, principalmente, da falta de fiscalização durante a execução dos serviços.

Serviço

Veja o relatório completo e um mapa interativo produzido pelo Crea-PR com a localização e análise das obras no link http://bit.ly/198lXPS

Embora possam ser consideradas como de boa qualidade no que se refere à estrutura, revestimento, instalações elétricas e hidráulicas, as obras públicas paranaenses deixam muito a desejar quando o assunto é acessibilidade. Levantamento feito ao longo de três meses e meio pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-PR) e Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) mostra que apenas uma entre cada dez obras analisadas atendeu mais de 75% dos itens obrigatórios para facilitar o acesso em edificações a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.

INFOGRÁFICO: Veja os resultados da fiscalização do Crea-PR e TCE-PR

Entre os problemas mais comuns estão a ausência de vagas sinalizadas e destinadas a pessoas com deficiência, lavatórios sem adequações e inexistência de rebaixamentos em locais de travessia, em frente aos edifícios ou em ruas recém-construídas. No total, 418 obras, concluídas entre setembro e dezembro de 2012, foram vistoriadas por técnicos dos dois órgãos a partir de agosto deste ano, nos quesitos qualidade e acessibilidade – esse último, o mais problemático: 43% das obras nem sequer atenderam a metade dos itens verificados.

"Mesmo com campanhas de conscientização e normas específicas para proporcionar acesso aos espaços públicos a uma maior quantidade de pessoas, os profissionais envolvidos no planejamento e execução das obras públicas ainda não incorporam conceitos básicos de acessibilidade no desenvolvimento de projetos e obras", resume o relatório final das inspeções, divulgado há duas semanas. Além de comprometer a efetividade das obras, as inadequações também escancararam o mau uso do dinheiro público, uma vez que as intervenções não saíram barato – no total, todas as obras vistoriadas custaram R$ 270 milhões.

Reação

A partir da divulgação do relatório, técnicos do TCE-PR irão se debruçar sobre cada caso para verificar a responsabilidade dos problemas – se os defeitos são resultado de projetos malfeitos pelos municípios ou de execuções aquém do esperado por parte das construtoras. O Crea-PR também planeja uma série de eventos em Curitiba e no interior do estado para tentar reforçar, junto aos gestores municipais, as normativas que regem a acessibilidade em obras. "Nós temos uma legislação muito boa, que determina e orienta o que deve ser feito. Mas ainda temos dificuldade em tornar isso real", afirma Joel Krüger, presidente do Crea-PR.

Em relação às obras de pavimentação analisadas, quase metade apresenta trechos em que as calçadas têm piso irregular, e a ausência de sinalização tátil é comum. "Esses problemas já são tradicionais. Infelizmente, a falta de acessibilidade é uma questão crônica. Mesmo se sabendo que uma boa calçada é útil para todo mundo, não só para os deficientes", critica o presidente da Associação dos Deficientes Visuais do Paraná (Adevipar), Flávio Hermany.

Mediocridade construtiva ainda marca setor público

Apesar dos problemas no quesito acessibilidade, o resultado das vistorias sobre a qualidade das obras públicas foi considerado positivo na opinião do TCE-PR e do Crea-PR. Ao fim, 306 das 418 obras avaliadas – o levantamento considerou somente aquelas de responsabilidade das prefeituras –, atenderam entre 75% e 100% dos itens checados, que envolviam estrutura das edificações, alvenaria, revestimentos e instalações elétricas e hidráulicas, dentre outros.

No entanto, 72 obras (17% do total) ficaram em uma classificação intermediária, não atendendo vários itens e apresentando problemas como manchas de umidade, rachaduras e goteiras (veja infográfico). A situação é ainda mais preocupante porque todas as edificações foram concluídas há, no máximo, um ano – o que mostra que ou foram inauguradas com problemas ou apresentaram defeitos logo após a conclusão.

"Não é porque uma obra é pública que precisa ser de menor qualidade. Muito pelo contrário. O estado deveria primar pela excelência e não pela mediocridade. Mas como muitos quadros técnicos não têm sido renovados e não existe uma cultura de continuidade e de busca pela excelência, começa a se ver uma certa permissividade", analisa o engenheiro e diretor de Comunicação do Instituto Brasileiro de Auditores de Obras Públicas (Ibraop), Pedro Paulo Piovesan de Farias.

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