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Overlock e patchwork fazem parte do vocabulário de 45 mulheres que aprendem a costurar num barracão em São José dos Pinhais | Brunno Covello/ Gazeta do Povo
Overlock e patchwork fazem parte do vocabulário de 45 mulheres que aprendem a costurar num barracão em São José dos Pinhais| Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo

Origem

Projeto começou em São Paulo e formou 160 costureiras

A história do Costurando o Futuro começou em 2008, quando o profissional responsável pelo descarte da fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP), procurou o braço social da companhia para dar um destino mais adequado aos uniformes usados. "Doar as peças inteiras não era uma boa ideia. Estaríamos apenas nos livrando de um problema", lembra Conceição Mirandola, uma das diretoras da fundação.

Na cidade paulista, o projeto formou 160 costureiras. A partir do segundo ano, o foco foi a estruturação de um empreendimento para produção e comércio dos produtos. Encerrado o ciclo em 2011, o objetivo agora é que essas mulheres possam replicar os conhecimentos em suas comunidades. O projeto em São José dos Pinhais é semelhante, mas tem outras parcerias com poder público e iniciativa privada. Neste ano, as alunas farão um bazar de Natal para a venda dos produtos produzidos. Será a estreia delas como profissionais de costura e manufatura.

  • Aluna do projeto, Silvani já cobra pelos serviços

Este é um projeto de divisas. A primeira delas é geográfica: no bairro São Judas Tadeu, em São José dos Pinhais, próximo ao limite com Curitiba, um barracão com máquinas de costura foi instalado a alguns metros da BR-277, à beira do Rio Iguaçu. A segunda é social: diante das máquinas, dezenas de mulheres de baixa renda aprendem o ofício de costureira, num curso gratuito financiado por uma multinacional automotiva com o apoio de uma empresa têxtil e da prefeitura local. A terceira e mais impactante delas é econômica. Dessas máquinas, pelas mãos dessas mulheres, sobras de produção industrial se transformam em produtos variados. De lixeira de carro a mochila, a confecção proporciona formação profissional e inclusão produtiva. É a alquimia do reaproveitamento.

Desde o início do ano, 45 mulheres frequentam o curso gratuito "Costurando o Futuro", ministrado quatro vezes por semana. Como escolares, elas chegam no início da tarde, sentam-se às mesas equipadas com máquinas retas e overlocks e conversam entre si até a aula começar. Leoni Machado, a professora, destaca a evolução de suas alunas. A habilidade foi aumentando e os produtos começaram a sair. Ela destaca a mudança de espírito dessas mulheres. "Elas chegaram arredias e sem expectativa. Desde então, melhoraram humor e autoestima. Estão mais próximas, unidas. Imaginam por quanto poderão vender a produção. Pensam em montar uma lojinha."

Lá se aprende sobre todos tipos de costura, embora o foco seja a confecção de brindes e acessórios – uma inclinação natural em virtude do tipo de material doado: uniformes profissionais usados, cobertura de estofamento e retalhos de tecido de algodão. As aulas são acompanhadas por um estilista, que instrui as aprendizes a criar patchworks, e por uma psicóloga. Várias mulheres apresentam problemas decorrentes da vulnerabilidade social, e o acompanhamento especializado auxilia na adaptação e minimiza a desistência. A indicação das participantes veio da prefeitura, por meio do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da região.

O curso funciona como uma oficina-escola, e o objetivo é que as futuras costureiras possam se associar em uma espécie de cooperativa. "O projeto foi pensado como um incentivo ao empreendedorismo, para fazer elas acreditarem que podem criar um futuro melhor para si e suas famílias", ressalta Conceição Mirandola, diretora de administração e relações institucionais da Fundação Volkswagen, responsável por coordenar o projeto.

Silvani varre a fábrica, mas sonha alto

Silvani Alves Pessoa, uma das alunas do projeto, chegou ao barracão antes do "Costurando o Futuro". Em 2010, ela participava de outro curso no local. Não havia serviço de limpeza, então ela passou a varrer o chão do barracão como forma de agradecimento. Ganhou a chave do local e se tornou zeladora voluntária. Ela ainda faz esse trabalho, e agora, com o curso de costura, planeja ter a sua própria fábrica para limpar. "Quero juntar umas colegas e criar uma fabriqueta, se o pessoal aqui não se juntar numa cooperativa", afirma.

Mãe de quatro filhos, Silvani parou de trabalhar após o nascimento do caçula, um ano e seis meses atrás. Ela trabalhava então como auxiliar de confeiteiro. Recentemente, um conhecido pediu a ela que consertasse a barra de uma calça, serviço pelo qual cobrou R$ 6. Foi o primeiro dinheiro ganho na nova atividade.

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