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Por dentro do Paço

• O restauro do Paço Municipal de Curitiba deve ser concluído até junho de 2008, quando passa a se chamar Paço Cultural Sesc. De acordo com os novos inquilinos, o local abrigará uma sala de projeção, auditório, áreas para arte-educação, ateliê livre, biblioteca, livraria e camarim. Haverá também sala de projeção, aumentando a oferta de salas de cinema alternativas na capital.

• Uma das propostas para o espaço é que sirva de residência artística para criadores locais – ou seja, que possam desenvolver ali, junto a interessados, parte de seus laboratórios de criação.

• O Paço Municipal foi cedido ao Sesc-PR – integrante do Sistema Fecomércio – por 25 anos. A cessão inclui o restauro, orçado em R$ 5 milhões, e a permissão de uso para fins culturais. Seis empresas concorreram à licitação para a obra, vencida pela Emadel.

• O projeto de revitalização do Paço Municipal ocorre em duas etapas. A primeira, mais tradicional, cuida do restauro do prédio, garantindo e devolvendo suas características originais da década de 10, quando foi construído. A segunda, chamada de reciclagem, adapta as instalações a sua nova finalidade – a de espaço cultural. Mas as interferências arquitetônicas devem ser mínimas, como a construção de sanitários, de um camarim e de um pequeno auditório. Todas as salas terão uso limitado.

• Uma das áreas do Paço Municipal que mais impressionam os visitantes é a sala principal, no terceiro andar. Ali, da década de 10 aos anos 60 funcionou a sala do prefeito. Os adornos das portas são de pinho, com altos-relevos do pinheiro-do-paraná. O requinte é completado com as pinturas do teto, cuja autoria é duvidosa. De acordo com o Guia dos Bens Tombados do estado do Paraná, os autores podem ter sido João Guelffi, J. Ortolarti ou Anacleto Garbacci.

• Um dos pontos mais sensíveis da obra permanece sendo o quarto andar – junto ao forro. Na intervenção feita por Cyro Correia e Abrão Assad, no início da década de 70, a cobertura de telhas de fibrocimento, importada da Bélgica e bem à moda dos casarões da Belle Époque, ganhou o acréscimo de um forro de acrílico. O material – da predileção de Assad – era bastante usado no mobiliário curitibano da época, em especial no Calçadão da XV. Dali, foi exportado para todo o Brasil. Agora, será substituído por vidro e folhas de cobre. A intenção é que o local não seja mais um "forno", como em tempos idos.

• As pinturas murais do Paço Municipal não poderão ser recuperadas em toda sua extensão – com exceção do hall de entrada. Os restauradores, nesses casos, adotam a técnica da decapagem. Faz-se um retângulo na parede e, com uma espátula, raspa-se as camadas de tinta, até chegar na camada necessária. Algumas alas têm mais de uma decoração recoberta por pintura lisa. Vão ser descobertas as mais significativas, segundo so restauradores Renato Cruz e Ademir Karas. (JCF)

Prédio da Generoso Marques está farto de guerra

A equipe de engenheiros, restauradores e arquitetos que há pouco mais de um mês montou acampamento no Paço Municipal está com a mão na cristaleira. O edifício projetado pelo engenheiro e ex-prefeito de Curitiba, Cândido de Abreu, entre 1914 e 1916, é não só um dos mais requintados exemplares da Belle Époque no Brasil como uma obra complexa.

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Há pouco mais de um mês, logo que uma equipe de restauradores pôs os pés no prédio do antigo Paço Municipal de Curitiba, na Praça Generoso Marques, a sensação foi a de estar invadindo as pirâmides do Egito. O teto do hall de entrada desabou – como nos melhores filmes da maldição da múmia. O incidente, de tão curioso, acabou demarcando o início daquela que deve ser uma das mais ambiciosas obras de resgate histórico já realizadas na capital. Em um ano, o edifício que em tempos idos abrigou a prefeitura de Curitiba e o Museu Paranaense deve ser devolvido à população com o nome de Paço Cultural Sesc – espaço projetado para oficinas de arte-educação, teatro e exposições.

Até lá, muito reboco ainda vai cair do teto. Afinal, o que se vê ao cruzar o "hall do perigo" não é nada animador. O Paço Municipal está bastante deteriorado. Parte das avarias foram causadas nos últimos quatro anos, tempo em que a construção ficou fechada, à espera de uma definição de uso. Nesse período, esteve à mercê das chuvas e da ação impiedosa dos cupins. A cada pé d'água, as canaletas entupidas das sacadas se transformavam em verdadeira piscinas, mandando o aguaceiro prédio adentro. Estão lá as paredes embolaradas, as crateras no chão e os forros desabados para comprovar.

Para o arquiteto Marcelo de Paula Soares Paiva, 43 anos, representante do Sesc na intervenção, a infiltração foi dos males o menor. Felizmente, a estrutura do Paço Municipal não está abalada, garantia de que no prazo previsto para a entrega – exatos 365 dias, a partir de 11 de junho último – será cumprido e o já chamado "prédio mais bonito da cidade" voltará a funcionar. A única preocupação é com o torreão, torre da frente, cujas rachaduras são de dar medo. Algumas medidas de segurança já foram tomadas, como o escoramento das colunas do segundo andar, mas ainda não há um veredito sobre a extensão do problema.

O que não falta são estudos específicos sobre as condições do edifício, calçando engenheiros, restauradores e arquitetos. Uma parte desses levantamentos foi feita em meados da década de 70, quando os arquitetos Abrão Assad e Cyro Corrêa assinaram a primeira grande obra de restauro no Paço. Nos anos 2000, antes do estado devolver o prédio à prefeitura, novas descrições foram encomendadas. Por fim, um estudo do mesmo Cyro apurou as possibilidades de transformar a construção num Salão de Atos do município, mas a idéia não vingou, assim como a possibilidade de que abrigasse o Espaço Unibanco, voltado principalmente para cinema de arte.

Espaços

Segundo Marcelo Paiva, há poucas adaptações a serem feitas entre as duas propostas anteriores e a do espaço cultural do Sesc. Já é possível saber, inclusive, o que vai funcionar em cada sala dos elegantes 2.205 metros quadrados da construção. De todas, a melhor notícia é que o local não será tão restrito quanto um Salão de Atos nem tão limitado aos fãs de cinema de arte, como poderia ter se tornado.

O novo projeto prevê áreas para crianças fazerem oficinas, por exemplo, além de espaços para todas as artes. Não será um uso de massa – o que colocaria o prédio a reboque novamente –, mas vai ser utilizado o tempo todo. De acordo com mentalidade vigente entre restauradores modernos, é a receita mais acertada para manter bens históricos em bom estado. Os novos inquilinos não só sabem disso como assinaram um contrato de cessão com a prefeitura de 25 anos, tempo pelo qual o Paço Municipal já tem dono.

Para poder tomar posse, o Sesc vai investir a fábula de R$ 5 milhões –, valor de entrada para fazer o edifício construído por Cândido de Abreu, nos anos 10, a mais luxuosa extensão de suas atividades em Curitiba. O investimento, aliás, vai ter de render. Não vem de leis de incentivo nem de bancos internacionais, mas dos fundos da própria instituição.

É, por sinal, a primeira vez que o Sesc se envolve no restauro de um bem cultural. E um bem cultural vigiado por todos os lados: o Paço é unidade de interesse de preservação do município de Curitiba, além de tombado pelo estado e pela União. Qualquer escorregadela dos restauradores e não vai faltar quem lhes dê um apitaço.

Quando abre?

A pressão pela reabertura do Paço Municipal é grande. "Fico impressionado com a quantidade de pessoas que nos param aqui na frente da obra, pedindo para entrar e rever o antigo Museu Paranaense", diz Paiva. Não por menos. Plantado numa zona popular da cidade – bem nas cercanias da Rua Riachuelo –, o museu recebia levas de estudantes, mas também de curiosos, atraídos pela escadaria suntuosa e pelo acervo de encher os olhos.

Estavam ali os uniformes e as armas do Cerco da Lapa, por exemplo. Foi, a seu tempo, o segundo espaço cultural mais visitado do estado, com cerca de 60 mil freqüências por ano, perdendo apenas para o Ecomuseu de Foz do Iguaçu. "Temos uma grande expectativa de reaver esse público", observa o arquiteto.

A força-tarefa cresce a cada dia. No momento, 33 funcionários trabalham no local – metade deles ocupados das obras de restauro, sob responsabilidade da empresa especializada Emadel. De acordo com o engenheiro civil José Geraldo Canhoto, 47 anos, o número de trabalhadores deve duplicar nos próximos meses, quando chegarem as equipes de encanadores, eletricistas e instaladores de ar-condicionado. O que mais fascina qualquer visitante acidental, contudo, é flagrar os restauradores raspando paredes com espátulas, em busca de tesouros perdidos. "Há mais de uma camada de pintura escondida em cada espaço", revela o restaurador Renato Cruz, do alto de um andaime desaconselhado para doentes de labirintite.

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