Flagrantes
Autoridades e familiares usam veículos roubados sem nenhum constrangimento.
Os flagrantes foram registrados este ano.
Dia 10/03: um caminhão Mercedez Benz roubado em 2005 no município de Rancharia (SP) foi recuperado em San Pedro del Ycuamandyyú. O caminhão estava com um comerciante. O veículo estava em trâmite de legalização no Registro Automotor paraguaio.
Dia 1º/03: um Mercedes Benz Classe A 160 roubado no Brasil foi apreendido com um juiz de Pedro Juan Caballero. O veículo estava com placa falsa e não existia para o Registro Automotor.
Dia 25/02: o filho do prefeito de Presidente Franco furou uma barreira policial na Ponte da Amizade, lado paraguaio, com um Fox 1.6 roubado.
Dia 18/02: um Toyota Corolla ano 2003 foi encontrado com uma assistente do Palácio de Justiça da cidade de Villarrica. O carro tinha sido roubado em Coronel Sapucaia (MS). A proprietária disse que tinha comprado o veículo do funcionário de um banco do Paraguai.
Dia 6/02: uma caminhonete Ford F 250, roubada em 2005 em Sete Quedas, foi apreendida com o sobrinho do prefeito de Yasy Cañy. A caminhonete tinha o chassi adulterado e estava legalizada.
Dia 28/01: um ônibus roubado em Foz do Iguaçu foi encontrado em Guayaybí, departamento de San Pedro. O veículo, que estava sendo usado por uma empresa de transporte, tinha o chassi adulterado, número do motor raspado e já tinha sido pintado.
Famoso por ser o paraíso dos carros roubados, o Paraguai não consegue coibir a ilegalidade na própria frota de veículos. Caminhões, ônibus e automóveis de luxo brasileiros estão sendo legalizados como veículos importados e trafegam livremente pelas rodovias do país sem levantar suspeita. De acordo com o Registro Automotor do Paraguai, hoje circulam 720 mil veículos, dos quais 180 mil estão em situação irregular porque são de origem duvidosa.
A legalização dos carros começa no Brasil, segundo autoridades paraguaias. Depois do furto ou roubo, os automóveis recebem documentos frios em nome de falsos proprietários e têm os chassis adulterados. Com a papelada em mãos, se inicia um trâmite de importação do veículo, via aduana paraguaia. O próximo passo é o emplacamento do carro.
A estratégia de forjar importação dos veículos foi a saída das quadrilhas para manter o mercado negro de carros roubados. Desde 2002, quando terminou o prazo para registro de automóveis sem documentação comprovada, a entrada de carros irregulares no país caiu 70%. Em contrapartida, as quadrilhas passaram a falsificar documentos de importação para legalizá-los. "Veículos brasileiros roubados figuram aqui como comprados legalmente no Brasil", diz o promotor adjunto do Ministério Público do estado de Alto Paraná, Paraguai, Eber Ovelar.
Entre 2000 e 2002, o Serviço de Matrícula e Cédula de Automotores permitiu que carros das mais variadas cores e preços fossem integrados ao parque automotor paraguaio. O governo permitia o emplacamento de carros cujos proprietários não conseguiam comprovar a origem. Na época, esses automóveis foram enquadrados em uma categoria denominada de "especial e transitória" e recebiam placas caso ninguém reclamasse a posse. Como a maioria vinha do Brasil, dificilmente havia reclamações. Estimativas indicam que até 2002 foram regularizados cerca de 30% dos automóveis suspeitos.
Para Ovelar, há fragilidade no sistema de controle e existe conivência por parte de funcionários públicos. "Não há controle da documentação ou do certificado de nacionalização. Não se controla se o documento é autêntico ou não, porque este controle tem de ser feito na aduana. O registro é um segundo passo", afirma.
Após legalizados, os carros, e até mesmo carretas e colheitadeiras, são vendidos a terceiros. A maioria dos compradores sabe que está adquirindo um automóvel furtado.
Além da falsificação de documentos, placas clonadas, tanto no Brasil quanto no Paraguai, também são utilizadas para mascarar a origem dos carros. O investigador Alberto Amarilla, que trabalha para seguradoras no Brasil, diz que pelo menos 30% dos automóveis brasileiros roubados que entram em território paraguaio recebem placa dublê ainda no país de origem. "O crime está no Brasil. O que está chamando a atenção é onde se faz a placa dublê". Segundo Amarilla, há uma rede organizada responsável pela falsificação da placa e pagamento de propina aos policiais nas rodovias paraguaias para fazer vistas grossas aos veículos roubados. "Paga-se uma taxa por semana para a polícia deixar circular o carro. É a polícia que sustenta e dá cobertura aos criminosos."
Corrupção
O ministro do Interior do Paraguai, Rafael Filizzola, reconhece o problema e a corrupção existentes no setor. "Não é muito fácil detectar por que se adulteram os números e também é preciso reconhecer que muitas vezes autoridades locais estão vinculadas à rede de tráfico. Há cumplicidade de autoridades aduaneiras, policiais e do registro automotor."
Para o ministro, é preciso fortalecer os mecanismos de integração regional entre os países do Mercosul para vencer o tráfico de veículos. Apesar dos esforços que têm sido feitos, ele reconhece que os resultados ainda são insuficientes.
A dificuldade do Paraguai em combater o crime começa dentro do próprio governo. Juízes, políticos e policiais costumam desfilar escancaradamente com veículos brasileiros roubados.
O presidente da ONG Socorro com sede em Assunção (organização criada para atender vítimas que tiveram carros roubados), Luis Calderón, diz que não há vontade política para tratar com seriedade o roubo de veículos. "Não há confiança no registro automotor. É uma instituição ineficiente que não goza de confiança da cidadania."
-
Relatório americano expõe falta de transparência e escala da censura no Brasil
-
Jim Jordan: quem é campeão de luta livre que chamou Moraes para a briga
-
“A ditadura está escancarada”: nossos colunistas comentam relatório americano sobre TSE e Moraes
-
Aos poucos, imprensa alinhada ao regime percebe a fria em que se meteu; assista ao Em Alta
Justiça suspende norma do CFM que proíbe uso de cloreto de potássio em aborto
Relatório americano expõe falta de transparência e escala da censura no Brasil
STF estabalece regras para cadastro sobre condenados por crimes sexuais contra crianças
Órgão do TSE criado para monitorar redes sociais deu suporte a decisões para derrubar perfis
Deixe sua opinião