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Edson produzindo uma das espadas de maneira artesanal na garagem de casa | Marcelo Andrade / Gazeta do Povo
Edson produzindo uma das espadas de maneira artesanal na garagem de casa| Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo

Ritual de entrega

Apesar de Edson afirmar que a maioria dos compradores é de fora do país, grande parte deles faz questão de receber a katana pessoalmente. Isso porque a entrega da espada é acompanhada por um ritual. "Coloco frutas, sal, água, incenso e faço orações japonesas pedindo harmonia e paz", conta. Todo ritual é realizado no jardim da casa. Edson usa um quimono oriental que, garante ele, está na família há quase três séculos. "Essa é uma vestimenta que passou de pai para filho por muitos anos e que agora está comigo."

Restauração

Ao pé do Buda no jardim da casa de Edson descansa há dez dias uma espada que possivelmente pertenceu ao Exército Brasileiro. Apesar de não trabalhar com restauração, aceitou o desafio a pedido de um amigo. Mas, antes de começar o serviço, ele precisa eliminar as energias negativas do material. "Essa espada deve ter matado muita gente. Não coloco para dentro de casa material usado. Precisa passar por limpeza espiritual", conta. Por isso, o artefato deve continuar recebendo orações do cuteleiro no jardim por mais 20 dias.

  • Edson em posição de meditação no jardim de casa
  • O samurai curitibano simulando treinamento de arte marcial com espadas
  • O samurai curitibano simulando treinamento de arte marcial com espadas
  • Edson apresenta foto de seu ancestral: várias gerações de samurais

A imagem de Buda repousa no jardim projetado exclusivamente para a arte de Edson Suemitsu. É nesse espaço que acende velas e incensos, reza e faz oferendas antes de forjar a milenar espada katana – modelo utilizado tradicionalmente pelos guerreiros samurais. Nos fundos da garagem de uma casa no bairro Cachoeira, em Curitiba, ele cultiva uma técnica praticamente esquecida – a cutelaria japonesa.

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Assista à reportagem em vídeo com o samurai de Curitiba

Cada katana é única. Produzida de forma artesanal, leva 12 dias para ser concluída e carrega ainda, segundo Edson, a energia de quem a produziu. Por isso, orações são realizadas antes, durante e após cada espada ser forjada. "Muitas pessoas usam as espadas como instrumento de meditação, colocando-as no colo e pensando em Deus", explica.

Hoje, aos 54 anos, Edson vive dessa arte, uma tradição que vem de seus antepassados. "Sou descendente de samurais, isso está no sangue", comenta. Ele faz parte de uma linhagem de guerreiros japoneses que está em sua sétima geração. O gosto pela cutelaria foi despertado ainda cedo. Quando menino, desmontava panelas e delas produzia pequenas facas.

Autodidata, ele se aprofunda há 30 anos nos estudos sobre espadas. "Naquela época não existia internet. Lia livros em inglês, japonês e espanhol e fui me aprofundando", conta. No entanto, o interesse era um mero hobby. Sua primeira espada foi elaborada antes de completar 30 anos a pedido do irmão.

Mas, há 10 anos, um sonho transformou a vida de Edson. "Um japonês que eu nunca tinha visto na vida me apareceu num sonho e disse que eu tinha uma missão, um resgate a fazer", revela Edson. Foi assim que ele abandonou a profissão de mecânico.

"Antes fazia espadas para dar de presente. Hoje recebo uns oito e-mails por dia com encomendas."

Ao contrário dos samurais que usavam as katanas para guerrear, Edson procura manter o legado da família com outro objetivo: buscar a paz. "O que eu faço é uma obra de arte. É um dom que tenho e como os samurais tiraram muitas vidas, preciso fazer esse resgate cultural de outra maneira", ressalta.

Compradores

A fama de Edson já atravessou oceanos. Oito katanas produzidas por ele estão no Japão e lá o valor de cada uma chega a US$ 15 mil. Estados Unidos, Inglaterra, Argentina e Venezuela são outros países que mantêm espadas do samurai curitibano. São adquiridas por colecionadores, praticantes de artes marciais e adeptos de meditação. Os modelos variam de R$ 2,5 mil a R$ 10 mil. "No Japão vale mais porque eles valorizam um material produzido por um filho de japonês que mora no Brasil e preserva a tradição de forjar as katanas", conta.

Arte milenarMatéria-prima é importada do Japão e da Áustria; produto tem até garantia

Também praticante de Ki-Aikido (uma arte marcial japonesa), Edson Suemitsu importa grande parte do material utilizado para forjar as espadas. A pele de arraia seca usada no cabo da katana sai por R$ 500, cada, e vem direto do Japão. O mesmo acontece com o cordão de seda empregado também no cabo.

As barras de aço são importadas da Áustria, onde, segundo o samurai curitibano, há material ideal para a cutelaria oriental. "A cada dois meses, eu importo algum material. Além disso, outros objetos utilizados nos detalhes das espadas também vêm do Japão", revela. As lâminas variam de 60 a 75 centímetros de comprimento. Já a bainha – chamada no Japão de saya – é feita em pinho e revestida com couro sintético. "É um material que não risca a lâmina da espada. Se alguém quebrar minha espada tem garantia e ganha outra", garante Edson, que já forjou mais de 300 katanas.

Além de espadas japonesas, Edson produz outros tipos de espada sob encomenda e até armaduras. Ano passado, após 18 meses de trabalho, entregou uma armadura samurai produzida a partir de ferro, aço, cobre e bronze que pesa 50 quilos.

Um samurai na terra do leite quente

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Vida e Cidadania | 2:59

Edson Suemitsu dedica-se à cutelaria oriental há 30 anos. Descendente da sétima geração de samurais, ele mantém vivo o legado cultural que está no sangue da família. Há 10 anos, dedica-se exclusivamente à forja das espadas katanas.

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