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      Há cerca de um ano sem receber shows e espetáculos, a Concha Acústica Carlos Afonso Buch, no Centro de Ponta Grossa (Campos Gerais), exibe marcas de abandono e vandalismo do alto dos 75 anos de existência. A situação piorou muito quando moradores de rua provocaram um incêndio acidental em junho do ano passado. Por vários meses, um grande buraco no forro, causado pelas chamas, foi a imagem mais marcante de um palco que chegou a receber cantores como Jair Rodrigues e Dóris Monteiro, o acordeonista Mário Zan e até um comício de Getúlio Vargas, então candidato à Presidência da República, em 1950.

      Mês passado, um tapume foi colocado em frente do palco para isolar a área afetada pelo fogo. Segundo o presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Paulo Eduardo Goulart Netto, existe um plano de restauração para o local, mas não há recursos suficientes. "Nós temos cerca de R$ 30 mil à disposição neste momento. Com essa quantia, vamos fazer os reparos nas partes danificadas pelo incêndio. Devemos concluir esta etapa dentro dos próximos 90 dias, aproximadamente", afirma. Também de acordo com Netto, a Fundação pretende completar o restauro da Concha ainda neste ano.

      Lembranças

      O baixista e tecladista Athon Gallera – filho do músico curitibano Marinho Gallera – não esconde o desânimo com a situação atual do palco em que se apresentou algumas vezes e onde também assistiu a shows que marcaram a sua carreira como músico. "Eu nasci e passei a juventude em Curitiba, mas minha avó morava aqui em Ponta Grossa, bem pertinho da Concha. Era ‘um pulinho’ e continua sendo. Agora sou eu que moro aqui perto", comenta.

      Ele participou, por diversas vezes, de um projeto que promovia shows de vários estilos todas as sextas-feiras, às 18 h. O chamado "Sexta às seis" trazia centenas de pessoas para Praça Barão do Rio Branco, onde fica a Concha, entre 1989 e 1992, na primeira fase do projeto, e de 2005 até 2012, quando houve uma retomada.

      "Eu me apresentei aqui com a banda Eletro Acústico, da qual eu fazia parte, e também acompanhando alguns cantores locais. Além disso, eu pude ver aqui shows muito bons, como uma apresentação do André Christovam [guitarrista e compositor paulistano], que é um dos principais nomes do Blues no Brasil. Inesquecível", pontua o músico, que hoje integra a banda paranaense Guaiamum.

      Gallera afirma que gostaria de ver o "Sexta" de volta à Concha Acústica. A FMC, no entanto, tem outros planos para o local. "O barulho e a movimentação intensa de pessoas na praça, em algumas ocasiões, acabou gerando reclamações de moradores do entorno. Por isso, pretendemos utilizar o espaço para eventos que não precisem de som alto, como peças de teatro, por exemplo", afirma Netto, da Fundação.

      Espaço já foi sala de operação para rede de rádio na década de 1940

      Inaugurada em abril de 1938, na gestão do então prefeito Albary Guimarães, a Concha Acústica foi batizada com o nome do músico e compositor erudito brasileiro Carlos Gomes. No entanto, em 2012, a Câmara de Vereadores rebatizou o espaço com o nome de outro Carlos (Afonso Buch), fundador da Rede de Alto-Falantes de Ponta Grossa (RAF). Nos anos 1940, quando o rádio começava a aparecer na cidade, a RAF transmitia notícias e anúncios por meio de um sistema de alto-falantes espalhados pelo Centro da cidade e a sala de operação funcionava numa sala da Concha.

      O prédio foi sede da Banda Escola Lyra dos Campos, abrigou um posto de saúde especializado em puericultura e também uma associação de artesãos, mas o forte do local foram sempre os eventos culturais. A professora universitária aposentada Maria Augusta Pereira Jorge recorda em detalhes o show da cantora Dóris Monteiro, realizado no final dos anos 1950. "A praça estava lotada. Dentre as músicas que ela cantou, lembro-me especialmente de ‘Mocinho Bonito’ [composta por Billy Blanco]. Fui me esgueirando pela lateral da Concha e consegui ficar bem na frente do palco. A Dóris trajava um vestido estampado, muito bonito, com gola grande, como era moda na época. Foi fantástico", relata.

      O pai de Maria Augusta, Luiz Frederico Daitschman, era radialista em Ponta Grossa e promoveu diversos eventos na Concha Acústica por volta dos anos 1950. "Ele apresentava um programa chamado ‘Tio Fredy’ aos domingos, voltado para as crianças. Naquela época, ele fez um carnaval infantil com a meninada. Lembro que o rei e a rainha foram coroados na Concha. Também havia apresentações de crianças que cantavam e tocavam algum instrumento", comenta.

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