Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Transporte escolar

Uma conta que não fecha

Diferença entre o que as prefeituras recebem e o que elas gastam para transportar alunos daria para comprar 410 ônibus por ano

Na região de Ponta Grossa, estudantes contam com veículos sem adaptação para estradas sem boas condições de tráfego: déficit no repasse de verbas às prefeituras para transporte escolar chega a R$ 87 milhões | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Na região de Ponta Grossa, estudantes contam com veículos sem adaptação para estradas sem boas condições de tráfego: déficit no repasse de verbas às prefeituras para transporte escolar chega a R$ 87 milhões (Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo)

Ponta Grossa - As secretarias municipais de Educação têm de se debruçar na matemática para resolver uma equação que se repete ano a ano: como zerar o déficit entre o que recebem e o que gastam para transportar alunos da zona rural para as escolas no meio urbano. O saldo neste ano é de R$ 53 milhões (entre repasses do governo estadual e do federal), mas os gastos giram em torno de R$ 140 milhões. A diferença, que é de R$ 87 milhões, seria suficiente para comprar pelo menos 410 ônibus convencionais como os que são vendidos por R$ 212 mil, com subsídios do governo federal, no programa Caminho da Escola.

Essa diferença sai dos cofres municipais, e o Paraná não é o único a enfrentar esse dilema. A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) calcula que os estados devam R$ 1 bilhão para as prefeituras. É que em cada ônibus escolar se sentam lado a lado alunos da rede municipal e da estadual. "Não temos o que reclamar quanto aos alunos da rede municipal. É uma despesa nossa. O que não é correto é transportarmos alunos da rede estadual sem sermos ressarcidos", aponta o presidente nacional da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Carlos Eduardo Sanches. Devido à falta de consenso, a prefeitura de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, pretende encerrar o convênio e deixar de receber o repasse estadual no ano que vem, comprometendo assim o transporte de alunos da rede estadual. De acordo com a secretária municipal de Educação, Loireci Dalmolin de Oliveira, a suspensão ocorreria neste fim de segundo semestre, mas, como prejudicaria o término das aulas, foi adiada.

Construir e manter escolas na zona rural seria mais oneroso, por isso, o transporte precisa ser mantido. "É importante esclarecer que cada parte, no caso, mu­­nicípios e estado, é responsável pelos alunos de sua rede de ensino. Assim como educação é prioridade, todas as políticas públicas relacionadas a esse direito têm a mesma garantia constitucional e são prioritárias. Não adianta ofertar a vaga na escola e não garantir o acesso desse aluno. É nesse sentido que se dá a atuação do Ministério Público do Paraná, para assegurar a efetividade do direito à educação às crianças e aos adolescentes", analisa a promotora de Justiça Hirmínia Dorigan de Matos Diniz.

A ajuda do governo federal vem através do Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (Pnate), que repassa entre R$ 120 e R$ 172 por aluno/ano. Conforme a CNM, o recurso representa apenas 15,2% do gasto real do transporte escolar. A verba, no entanto, como está descrita no programa, é suplementar. O governo estadual também deposita dinheiro para as prefeituras. Neste ano, dos R$ 53 milhões destinados ao transporte escolar, R$ 30 milhões vieram da Secretaria de Estado da Edu­cação e o restante do Pnate. Des­de 2007, já se somam R$ 183 milhões. A secretaria respondeu, em nota pela assessoria de imprensa, que "o transporte escolar, segundo a Constituição Federal, é responsabilidade dos municípios". Hoje, 225 mil alunos dependem do transporte escolar no estado, incluindo alunos das duas redes.

Colaboraram Fabiula Wurmeister, da sucursal de Foz do Iguaçu; Marco Martins, correspondente em Santo Antônio da Platina; Fábio Luporini, do Jornal de Londrina, e Hélio Strassacapa, da Gazeta Maringá.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.