• Carregando...
 |
| Foto:

Aos 21 anos com 10 mil horas de jogos

Para o usuário padrão, o videogame é um trabalho em meio período. Quando chegar aos 21 anos, um jovem adepto aos games terá acumulado 10 mil horas de jogos, tempo equivalente aos estudos da 5.ª série ao início da faculdade. "Jogos são melhores que a realidade", afirma a pequisadora norte-americana Jane McGonigal. Porém, a convergência digital aproximou os dois ambientes, possibilitando aos games, historicamente situados como mecanismos de escapismo e catarse, exportar influências positivas.

O historiador grego Herótodo (485?–420 a.C.) situa o surgimento do jogo em 2,5 mil a.C., no reino de Lídia, na Ásia Menor. Para racionar alimentos e esquecer os efeitos da fome, a população passou a alternar dias de refeição e dias de jogos de dados, e assim sobreviveu por 18 anos. O pensador holandês Johan Huizinga, em sua obra Homo Ludens, de 1932, apresenta o jogo como um fenômeno fundamental da cultura. Seria até anterior a ela, pois "os animais brincam tal como os homens", e representa uma espécie de intervalo na vida cotidiana.

Os adeptos dos games, com suas 10 mil horas de prática, se tornariam bons em quê, exatamente? Uma resposta possível pode ser encontrada na análise de comportamento dos jogos em rede, em que vários jogadores atuam para conseguir um objetivo em comum. Existe uma missão importante para cada um, independente do grau de habilidade. "Jogos como World of Warcraft, que tem 10 milhões de usuários jogando continuamente há dez anos, são um sucesso retumbante", ressalta Rafael Dubiela, professor e desenvolvedor de jogos. "Existe uma grande capacidade de colaboração nesse ambiente". É uma habilidade altamente valorizada na economia das ideias. Em tempos de grandes desafios socioambientais, salvar o mundo já não é mais um objetivo restrito à fantasia.

R$105 bi é quanto faturou em 2012 o segmento de videogames, o maior segmento da indústria do entretenimento.

Um lembrete ao pai cioso que vê o filho adolescente passar horas seguidas com o controle do videogame na mão: seu próprio pai via a mesma inutilidade enquanto você ouvia seus discos de rock. Obviamente ele estava errado, assim como você está hoje. Analistas do mundo digital têm construído um consenso sobre as potencialidades do jogo eletrônico para o comportamento humano. A tarefa, porém, é tão árdua quanto atravessar os mundos do Super Mario sem perder nenhuma vida.

INFOGRÁFICO: Veja como os games podem ajudar na vida real

O maior segmento da indústria do entretenimento, com R$ 105 bilhões de faturamento em 2012, ainda não conquistou o mesmo glamour do cinema ou da literatura como forma de arte ou como instrumento de desenvolvimento humano. A designer de games norte-americana Jane McGonigal, em seu livro A Realidade em Jogo – Por que os games nos tornam melhores e como eles podem mudar o mundo (Editora Best Seller), qualifica o seu produto no segundo grupo. Ela argumenta que os games contribuem para desenvolver uma atitude positiva em relação à vida. "Não existe a frase ‘eu não consigo’ no mundo dos games", lembra.

Estímulos

Um jogador vive momentos extensos de alta concentração, em que precisa aliar raciocínio rápido a habilidades manuais. É forçado a manter o controle ante a adversidade. Tem a capacidade de identificar sentido em todas as suas ações, e é imediatamente recompensado pelo esforço (pontos, vidas, mudanças de fase). Um comportamento que, segundo a autora, pode ser transferido para o mundo real. Ao desenvolver pesquisas práticas transformando problemas reais em games, ela percebeu estímulo constante dos usuários e grande capacidade colaborativa.

O desenvolvedor de jogos Rafael Dubiela, professor das universidades Positivo e Federal do Paraná, lembra que a estratégia é usada para criar materiais didáticos mais envolventes, com resultados positivos comprovados. "O jogo é uma atividade humana que busca simular a realidade, e tem o caráter de responsabilidade social que for dado a eles", defende. Mas pesquisadores como Jane McGonigal vão além das transposições pedagógicas, e acreditam que mesmo os títulos comerciais, dedicados basicamente ao entretenimento, são uma influência positiva.

O mecanismo que torna os games tão viciantes é chamado pelos desenvolvedores como "level design". É a capacidade do programa em oferecer desafios estimulantes em todas as etapas a partir de cálculos sobre o desenvolvimento da habilidade do jogador. "Sempre existe algo importante e específico para ser feito. O jogador sempre está prestes a salvar o mundo. Por isso, ele é mais feliz se esforçando em algo do que relaxando", acentua McGonigal.

Luiz Augusto Pelisson, professor do Departamento de Informática da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, percebe semelhanças entre o ambiente virtual e o profissional. "O jogador aprende com o erro. É instigado a voltar e refazer, percebendo onde pode melhorar e qual a melhor forma de vencer o obstáculo. Algo semelhante nos é exigido no mundo do trabalho."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]