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A fluminense Martha Marques já atendia por irmã Maria Cristina de Sion – seu nome de consagração religiosa – quando chegou em Curitiba, em 1955. Tinha apenas 22 anos, mas já sabia o que queria. E o que queria não tinha muito a ver com o tradicionalíssimo Colégio Nossa Senhora de Sion.

Os rituais no grande prédio da Alameda Presidente Taunay, 260, cheiravam a guardado. Distinguia-se a série das alunas pela cor da faixa na cintura – até chegar ao lilás. Nas formaturas, cantava-se a "Marselhesa" a plenos pulmões e sabia-se mais da História da França do que a do Brasil.

Irmã Cristina, claro, teve de esperar para "abrir as janelas do colégio", o que conseguiu graças à renovação promovida pelo Papa João XXIII, durante o Concílio Vaticano II. O dia chegou, deixando setores da alta-sociedade curitibana prontos para uma guerra santa nas imediações do Batel.

Ao mesmo tempo em que tirou o hábito, a freira mudou os hábitos do Sion. Baniu rituais caducos, uniformes pretensiosos e diferenças de classe: crianças e adolescentes pobres ganharam vagas e bolsas. Quase deu barraco na porta do colégio. "Muitas famílias não aceitaram a mudança e retiraram seus filhos daqui para sempre", relembra.

Aos 74 anos, 50 de vida religiosa, irmã Cristina nada mais fez do que perseguir o sentimento que embalava o mundo nos anos 60. Era hora de mudar. Inclusive as saias plissadas. "Hoje, é uma escola lúdica", sintetiza Maria Carolina Suplicy, ex-aluna, responsável pelo ensino de francês e remanescente das famílias que aceitaram as novas regras.

A França, vale dizer, continua em alta. Há um coral que canta em francês, as semanas de artes são moeda corrente e a cultura judaica é estudada. Sim, judaica, pois depois de ter educado rainhas e princesas aqui e ali, as irmãs de Sion voltaram a seu carisma original: propagar o diálogo com os judeus. Os velhos tempos do Sion são ali uma vaga lembrança.

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