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Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita). | Divulgação
Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita).| Foto: Divulgação

Algumas placas até podem indicar Champagnat, mas o nome de pia, para bons entendedores, é Bigorrilho. E fim de papo. Foi graças a um levante de moradores que, na década de 80, o mercado imobiliário teve de colocar o rabinho entre as pernas e aceitar a palavra de ordem da líder do movimento – a veterana Cecília Agner: "Não se muda nem nome de um cachorro, quanto mais de um bairro".

A vontade popular prevaleceu. Mas não se trata de final feliz. Tem sempre quem questione o resultado dos "plebiscitos". Haja vista o "Caso Dr. Goulin" – a rua que não quis virar binário. A torto e a direito se acha na redondeza quem garanta que venceu a palavra de meia dúzia. "Sou a favor de abrir rua. Se fosse prefeito, não perguntava nada para ninguém. Para que a gente precisa de uma calçada tão larga na Dr. Goulin?", barbariza o veterano Mário Augusto Carli, 84 anos, morador do Hugo Lange desde que nasceu – quando ali ficava a Vila dos Russos.

Carli é apoiado por Jorge Luiz Marchioro, 57 anos, morador da região que sonha com o dia em que a Goulin vai ligar a Avenida Nossa Senhora da Luz ao Couto Pereira, arrastando linha do trem e a pracinha da Rua Paraguaçu junto consigo. "O povo daqui quer rua tranqüila, mas não pára em casa", provoca, acenando um novo plenário. O tempo não apaga a polêmica do Hugo Lange.

Nem as da Barreirinha. Em Curitiba, talvez não exista exemplo melhor de fórum popular permanente do que as 1.001 peripécias do padre Leocádio José Zytkowski, 39 anos, pároco da Paróquia Santa Gema Galgani. Ele tem nada menos do que 30 e tantos motins nas costas, conquistados nos poucos anos em que está na Barreirinha. Antes, esteve em Araucária – onde conseguiu reduzir até salário de vereador – e durante sete anos missionou por todo o estado do Paraná. A experiência de viajante fez do religioso uma espécie de expert em causas populares. Quando desembarcou no atual posto, não deu outra: os paroquianos bateram na porta do vigário para pedir ajuda e pôr a boca na "corneta".

Palco de guerra

A Rádio Corneta – uma instituição de 40 anos em solo barreirinhense – é o canal de comunicação do padre com os fiéis, mas também a tribuna em que nascem manifestos, abaixo-assinados, cartas de intenção e verdadeiras paradas em plena Avenida Anita Garibaldi – um palco de guerra com 12 quilômetros, 18 linhas de ônibus e cruzamentos onde chegam a passar 1,3 mil carros por hora, em período de pico. Imagine um trem parado por 1h30, no meio disso tudo – pois aconteceu.

Em outras palavras, não tem vereador, nem administrador público nem comerciante poderoso que seja páreo para Leocádio – uma versão moderna do "padre de passeata" eternizado pelo jornalista Nelson Rodrigues. Graças a seu poder de mobilização na comunidade de 60 mil habitantes, parte do Rio Belém foi canalizada no bairro, uma torre de celular foi posta abaixo, o número de viaturas policiais aumentou. Mas tem muito protesto pela frente: padre Leocádio está enleado com o Ministério Público por conta de um processo contra a Rádio Corneta, acusada de poluição sonora.

Já foi ameaçado de busca e apreensão, a pagar R$ 10 mil, mais R$ 600 por dia de funcionamento, mas não tirou a Corneta do ar. Nada demais para quem já recebeu ameaças de morte, acusado de ter tirado "a paz da Barreirinha". E depois, tem sempre o consolo da vizinhança. "Pensa que é fácil reunir 200 pessoas numa manifestação? Uma missa com 5 mil fiéis tem jeito, já passeata... As pessoas me dizem: ‘Padre, não vai dar em nada.’ Quando conseguem se tornam otimistas e confiantes", ensina. "Eu me sensibilizo com o sofrimento das pessoas. Se a população não vai para a rua, ninguém vai saber o que está acontecendo. É só isso", resume o líder.

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