• Carregando...
Brown classificou expulsão como correta, mas disse que repercussão fez a universidade voltar atrás: “Às vezes, precisamos de um certo estardalhaço para refletir" | Luciano Vicione/AE
Brown classificou expulsão como correta, mas disse que repercussão fez a universidade voltar atrás: “Às vezes, precisamos de um certo estardalhaço para refletir"| Foto: Luciano Vicione/AE

Decisão foi "arbitrária e preconceituosa"

Para especialistas, a expulsão da estudante Geisy Arruda foi arbitrária, preconceituosa e inadequada. Mesmo após voltar atrás, a universidade poderá ser processada por danos morais e os prejuízos causados à imagem da instituição não serão minimizados. O advogado e professor da Uni­versidade Federal do Paraná Egon Bockmann Morei­ra explica que as universidades particulares são como empresas e têm seus próprios estatutos, mas as normas internas não podem ferir a legislação vigente no Brasil. "O Mi­­nistério da Educação tem premissas que regulam o funcionamento dos cursos, mas não das universidades em geral. A expulsão pode estar prevista internamente; no entanto, se houver algo sobre o modo de se vestir, por exemplo, há uma infração do direito constitucional relacionado à liberdade pessoal." Bock­mann Moreira argumenta que a revogação da medida não retira a possibilidade de uma indenização por danos morais.

Veja a matéria completa

São Paulo - A aluna Geisy Villa Nova Ar­­ruda, 20 anos, não poderá mais frequentar o prédio no qual estudava antes do dia 22 de outubro, quando foi perseguida, encurralada, xingada e ameaçada por cerca de 700 alunos, no câmpus de São Bernardo da Uni­versidade Bandeirante (Uniban), alegadamente por causa do microvestido que trajava.

Ontem, o vice-reitor da instituição, Ellis Brown, disse que a classe da jovem foi transferida para outro prédio, com o objetivo de criar um ambiente "mais descontraído e agradável" para o retorno da estudante. Geisy não deve, assim, voltar a circular pelo prédio cheio de rampas onde, segundo a nota oficial que a expulsou da Uniban, divulgada domingo, aumentou "sua exposição e ensejou, de forma explícita, os apelos de alunos".

A medida foi anunciada durante entrevista em que o vice-reitor chegou a classificar como "corajosa" a decisão de expulsar a aluna, tomada na última sexta-feira pelo conselho universitário da instituição. Segundo ele, apesar de "correta" do ponto de vista "estritamente disciplinar", a decisão teve de ser retirada por causa da repercussão na opinião pública. "Às vezes, precisamos de um certo estardalhaço para refletir."

No raciocínio do vice-reitor, "se fosse um caso isolado, um problema localizado, não haveria motivo algum para mudar a decisão de expulsar a aluna. Mas, como envolveu e envolve muita gente, tivemos de adotar uma atitude educativa".

Na coletiva de ontem, Brown tinha a seu lado Décio Machado, assistente jurídico da instituição, o mesmo que, no último sábado, acusou a aluna Geisy de ter "uma postura incompatível", por sempre se vestir com roupas curtas e decotes e por suas "atitudes insinuantes". Disse ainda que "o problema não era a roupa, mas a forma de se portar, de falar, de rebolar."

Hoje, o vice-reitor recusou-se a comentar as atitudes de Geisy. "Não contribuirei para enxovalhar a reputação de quem quer que seja." Mas, segundo ele, tais atitudes teriam ferido o Regi­mento Universitário, no tópico que versa sobre "decoro". Décio Machado, ao seu lado, assentiu com a cabeça.

Geisy terá seguranças por perto em sua volta à faculdade, caso se vislumbre algum risco de novo ataque, mas "sem criar um ambiente de patrulhamento os­tensivo", afirmou.

Segundo o vice-reitor, os 60 mil alunos da instituição, espalhados por 13 câmpus, sentem-se "injustiçados" pelo epíteto de "talebans’’ que lhes foi atribuído depois da agressão à jovem Geisy. "Ninguém aqui quer um massacre. Ninguém aqui é contra moças vestidas com minissaias ou maquiadas", disse. Para Brown, a "reflexão educativa" começará na próxima sexta-feira, em um debate no câmpus de São Bernardo, com o senador Eduardo Suplicy.

Apesar do recuo da Uniban em sua decisão de expulsar Geisy Ar­­ruda, o Ministério Público Fe­­deral (MPF) mantém o processo contra a instituição. Segundo o procurador regional de Di­­rei­tos do Cidadão, Jefferson Apa­recido Dias, o recuo é mais um indício de que a sindicância sobre o caso foi conduzida de maneira ilegal.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]