São Paulo - A aluna Geisy Villa Nova Arruda, 20 anos, não poderá mais frequentar o prédio no qual estudava antes do dia 22 de outubro, quando foi perseguida, encurralada, xingada e ameaçada por cerca de 700 alunos, no câmpus de São Bernardo da Universidade Bandeirante (Uniban), alegadamente por causa do microvestido que trajava.
Ontem, o vice-reitor da instituição, Ellis Brown, disse que a classe da jovem foi transferida para outro prédio, com o objetivo de criar um ambiente "mais descontraído e agradável" para o retorno da estudante. Geisy não deve, assim, voltar a circular pelo prédio cheio de rampas onde, segundo a nota oficial que a expulsou da Uniban, divulgada domingo, aumentou "sua exposição e ensejou, de forma explícita, os apelos de alunos".
A medida foi anunciada durante entrevista em que o vice-reitor chegou a classificar como "corajosa" a decisão de expulsar a aluna, tomada na última sexta-feira pelo conselho universitário da instituição. Segundo ele, apesar de "correta" do ponto de vista "estritamente disciplinar", a decisão teve de ser retirada por causa da repercussão na opinião pública. "Às vezes, precisamos de um certo estardalhaço para refletir."
No raciocínio do vice-reitor, "se fosse um caso isolado, um problema localizado, não haveria motivo algum para mudar a decisão de expulsar a aluna. Mas, como envolveu e envolve muita gente, tivemos de adotar uma atitude educativa".
Na coletiva de ontem, Brown tinha a seu lado Décio Machado, assistente jurídico da instituição, o mesmo que, no último sábado, acusou a aluna Geisy de ter "uma postura incompatível", por sempre se vestir com roupas curtas e decotes e por suas "atitudes insinuantes". Disse ainda que "o problema não era a roupa, mas a forma de se portar, de falar, de rebolar."
Hoje, o vice-reitor recusou-se a comentar as atitudes de Geisy. "Não contribuirei para enxovalhar a reputação de quem quer que seja." Mas, segundo ele, tais atitudes teriam ferido o Regimento Universitário, no tópico que versa sobre "decoro". Décio Machado, ao seu lado, assentiu com a cabeça.
Geisy terá seguranças por perto em sua volta à faculdade, caso se vislumbre algum risco de novo ataque, mas "sem criar um ambiente de patrulhamento ostensivo", afirmou.
Segundo o vice-reitor, os 60 mil alunos da instituição, espalhados por 13 câmpus, sentem-se "injustiçados" pelo epíteto de "talebans que lhes foi atribuído depois da agressão à jovem Geisy. "Ninguém aqui quer um massacre. Ninguém aqui é contra moças vestidas com minissaias ou maquiadas", disse. Para Brown, a "reflexão educativa" começará na próxima sexta-feira, em um debate no câmpus de São Bernardo, com o senador Eduardo Suplicy.
Apesar do recuo da Uniban em sua decisão de expulsar Geisy Arruda, o Ministério Público Federal (MPF) mantém o processo contra a instituição. Segundo o procurador regional de Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias, o recuo é mais um indício de que a sindicância sobre o caso foi conduzida de maneira ilegal.