Vídeo| Foto: Reprodução / Paraná TV

Há quatro meses a Polícia Militar não recebe uma reclamação sequer de arrombamento ou furto no interior de veículos estacionados no trecho da Avenida Marechal Floriano, que vai do viaduto da BR-116 até o Terminal do Boqueirão, em Curitiba. A boa nova se estende também às ruas vizinhas, como a movimentada Anne Frank. O motivo de tanta calmaria chega a surpreender de tão simpes. Dois anos atrás o Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Boqueirão decidiu cadastrar e uniformizar os cuidadores de carros da região. O resultado apareceu aos poucos, até zerar esse tipo de ocorrência, antes muito comum.

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Não foram necessárias idéias mirabolantes ou táticas de guerra. Bastou um simples diálogo da diretoria do Conseg com o comando local da PM. O coletes foram pagos com doações do comércio. No começo os flanelinhas avisavam os policiais quando aparecia gente suspeita, o que já não é mais necessário. Agora todos são conhecidos, segundo o comandante da 4.ª Companhia do 20.º Batalhão da Polícia Militar, tenente Vilson Reginaldo dos Anjos. Há 78 deles cadastrados e uniformizados, embora alguns ainda esqueçam de usar o jaleco todos os dias.

Segundo a presidente do Conseg, Suérli Nuñez, a medida deu tão certo que até flanelinhas de outros bairros estão pedindo coletes. Já correu entre eles a notícia de que, com o novo traje, as gorjetas melhoraram. "Os motoristas sentem mais confiança quando vêem o guardador uniformizado", diz Suérli. A vice-presidente do Conselho, Cyda Villa Nova, percebeu uma sensível melhora na auto-estima dos flanelinhas. É como se eles passassem a se sentir parte integrante da sociedade.

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O relacionamento com a PM também melhorou. "Antes, a polícia corria atrás da gente", lembra Raimundo Luiz da Cruz Moraes da Silva, 59 anos. Piauiense que teve passagem por São Paulo e acabou parando em Curitiba em 1982, Raimundo é guardador de carros há cinco anos, quando perdeu o emprego de laboratorista de concreto. Viúvo, mora em uma casa de fundos, em um bairro da periferia, com a enteada e os dois filhos dela. Disciplinado, está todos os dias no local de trabalho. Das 8 às 18 horas, com uma hora e meia para o almoço. Quanto aos rendimentos, resigna-se: "A gente tem de se contentar com o que tem."