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 | André Rodrigues/ Gazeta do Povo
| Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

Em tempos de reprodução de medidas policiais e sociais para redução da vio­­lência, como a implantação de Unidades Paraná Seguro em cidades paranaenses, Medellín talvez possa ser o exemplo mais bem acabado de como tratar a questão. Apesar de apresentar taxa de homicídios maior do que as registradas nas grandes cidades brasileiras, inclusive Curitiba, a cidade colombiana pode ser modelo de como o urbanismo e o investimento em áreas degradadas podem ajudar a preservar vidas.

Essa é a defesa do arquiteto e urbanista Gustavo Restrepo, que esteve em Curitiba entre os dias 20 e 22 para participar de simpósio provido pela Unicuritiba e Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura. Ele falou como seu trabalho, entre 2002 e 2010, ajudou sua cidade a superar as décadas do terror promovido pelo narcotraficante Pablo Escobar e a reduzir em quase seis vezes a taxa de homicídios – passando de 383 casos por 100 mil habitantes, em 1991, para 60, no ano passado.

Qual foi o ponto de partida do trabalho de revitalização de Medellín?

Nossa primeira missão era saber quais eram os lugares mais humildes, aqueles com menor IDH. Percebemos que os homicídios se concentravam no centro, mas não onde as pessoas moravam. Nas periferias, havia a violência intrafamiliar, aquela que atinge mulheres e crianças, e os órfãos da guerrilha [de Pablo Escobar]. Por isso, em 2003, traçamos um plano estruturado em educação não onde estavam os turistas, mas sim onde as pessoas mais precisavam.

E como o urbanismo foi usado nesse processo?

Temos um terreno muito acidentado, com 1,5 mil metros de altitude no centro e até 2,4 mil nos morros (para onde a cidade estava crescendo) e uma das consequências da guerra de Pablo Escobar era a falta de espaços públicos. Por isso, fizemos uma série de projetos de grandes parques nas partes mais altas para frear esse crescimento desordenado. Hoje, temos cerca de 10 m² de espaço público por pessoa, onde a violência não entra porque são lugares de encontro.

E a educação?

Além dos lugares de recreação, construímos 19 creches, 150 colégios normais e 15 grandes colégios. Perguntamos àquela gente o que precisava por meio de consultas populares. Tudo o que fizemos era em cima do que eles falavam e o tema mais importante era a educação, pois estavam preocupados com o que as crianças seriam [no futuro].

Como essa política lida com a alternância do poder e a corrupção?

Entre 2011 e 2015, serão investidos entre US$ 7 e US$ 8 bilhões; e nos próximos 12 anos, um total de US$ 12 a US$ 14 bilhões. Por isso, temos um programa de transparência com a participação comunitária no qual 64% dos moradores de Medellín participaram dos projetos que foram implantados. Outra corrente política pode entrar e mudar tudo, mas o mais importante é ter um plano de cidade e não um plano político.

A nova administração de Curitiba deve propor a criação de mais espaços públicos na periferia. Como o senhor vê essa iniciativa?

Os bairros e favelas têm seus próprios centros, que devem ser manejados com o mesmo respeito que o centro, pois eles também precisam de suas praças. Além disso, precisa ser rediscutida a mobilidade veicular. Em um trecho de 28 quilômetros, nas margens do Rio Medellín, as vias para carros passaram a ser subterrâneas e criaremos um enorme boulevard em até cinco anos. Serão lugares de descanso e áreas de vivências, pois estamos tratando de crescer para dentro e não para fora.

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