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Faz quase quatro anos que a vida do agricultor Alessandro Ternoski, 23 anos, não é a mesma. Morador da Colônia Ipiranga, em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), Ternoski diz que ficou doente depois que a propriedade de sua família recebeu lotes de lodo de esgoto para utilização como adubo. O lodo, material resultante do tratamento de esgoto bruto, é processado pela Sanepar e distribuído para pequenos agricultores da RMC pelo Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).

Segundo ambientalistas, o material é altamente tóxico e pode contaminar mananciais e oferecer riscos à saúde humana. O Brasil ainda não possui uma regulamentação sobre a utilização do lodo na agricultura. O assunto vem sendo discutido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que deverá aprovar uma resolução no próximo mês. Em países europeus e nos Estados Unidos, a utilização do material é altamente controlada.

A Sanepar e a Emater alegam que no Paraná o assunto é regulamentado por uma norma do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). A reportagem solicitou ao IAP a data de homologação do documento. Até o fechamento desta matéria, no entanto, a assessoria da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) não havia dado resposta.

Sem orientação

Ternoski diz que sua família recebeu e aplicou o lodo entre junho e julho de 2002. Dois meses depois, a família já estava plantando feijão no local (a resolução a ser aprovada pelo Conama menciona prazo de até 48 meses). "Falaram que era para melhorar o solo", diz. "Eu que esparramei o lodo. Estava sem chinelo, sem bota, não me deram orientação nenhuma", conta.

O diagnóstico de Ternoski indica que ele sofre de síndrome de Crohn, uma doença rara que causa inflamação no intestino e cuja causa ainda não foi identificada pela medicina. "Uns 15 dias depois de mexer no lodo comecei a botar sangue no lugar de fezes", conta o agricultor.

O tio de Alessandro, o também agricultor Celso Ternoski, 54 anos, disse que a família não sabia a origem do material. "Às vezes eu nem via descarregarem, vinham durante a noite", conta. Quando suspeitaram que o lodo fazia mal à saúde já era tarde demais. "Pensamos em pedir para levarem embora, mas não sabíamos quem trouxe. Fomos obrigados a incorporar na terra, porque não tínhamos outra escolha", diz.

Na época, a Secretaria de Meio Ambiente de Araucária se posicionou contra a distribuição do lodo. "Houve alguns problemas por falta de manejo correto", conta o diretor-geral da secretaria, Tadeu Lucaski. "A Sanepar alegou que o maquinário destinado a fazer o espalhamento estava quebrado. O lodo ficou amontoado e surgiu uma série de problemas, começaram a surgir larvas e moscas." Lucaski diz que a Sanepar não consultou a secretaria para levar o lodo até o município.

O engenheiro agrônomo Benno Weigert Doetzer, coordenador do Programa de Reciclagem da Emater, nega a possibilidade de a aplicação ter sido feita sem acompanhamento. "A Emater faz um acompanhamento completo, dá orientações e indica as áreas", garante. Ele negou que tenha havido problemas com o maquinário. "Não tem como o produtor espalhar 40 a 50 toneladas por hectare com a mão." Em relação à doença de Ternoski, Doetzer nega que haja relação com a utilização do lodo. "Ele já tinha uma infecção intestinal e coincidiu com a aplicação do lodo."

Outra polêmica é em relação à classificação do material. O lodo classe A é o mais apropriado, já que passa por um processo que diminui o risco de contaminação. Já o lodo de classe B oferece maiores riscos e países como os Estados Unidos vêm discutindo a proibição de seu uso. Doetzer diz que o material produzido pela Sanepar "tem parâmetros similares" ao lodo classe A. Segundo ele, atualmente o material é destinado para produtores de São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande, Mandirituba, Araucária, Contenda, Balsa Nova e Campo Largo.

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