No Condor do Ahú, reportagem registrou flagrantes de uso indevido dos espaços reservados...| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Engenhoca

Inventor curitibano cria "dedo-duro" para coibir abusos

Imagine-se em um estacionamento ouvindo uma voz mecânica dizendo que seu vizinho de vaga está irregular e um painel piscando com informações de advertência. Essa é a ideia do engenheiro mecânico Sergio Yassuo Yamawaki, presidente da comissão de acessibilidade do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) do Paraná, que criou um equipamento para monitorar as vagas para deficientes e idosos.

Segundo Yamawaki, o sistema já foi tema do 4º Encontro Internacional de Tecnologia e Inovação para Pessoas com Deficiência, em São Paulo, entre 15 e 17 de agosto, e também foi apresentado à Secretaria de Trânsito de Curitiba. "É um sensor sobre a vaga que irá detectar o veículo, que, por sua vez, terá um dispositivo eletrônico de que pode estacionar naquele local. O equipamento dará boas vindas e, caso o motorista não tenha a credencial, ele emitirá sinal de voz e de texto, aumentando o volume com o passar do tempo até a pessoa passar vergonha", explica o engenheiro mecânico. O equipamento ainda não foi implantando, mas Yamawaki acredita que isso possa ocorrer ainda neste ano.

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Empresas alegam fazer trabalho de conscientização

Das 834 reclamações por estacionamento irregular em estabelecimentos comerciais registradas no serviço 156, da prefeitura de Curitiba, 377 se referem a apenas dez unidades (confira no infográfico acima). Apesar dos números, as empresas informaram conscientizar seus clientes sobre a importância de se respeitar a lei.

Todas as oito empresas que compõem a lista (o Big e o Condor têm duas lojas, cada) alegaram contar com funcionários para orientar os motoristas e solicitar que deixem as vagas exclusivas quando alguma irregularidade é verificada.

Estratégias

O Condor, que tem duas unidades na lista das dez que mais geraram queixas, declarou que usa informes na rádio interna das lojas e nas sacolas plásticas para ajudar a conscientizar os clientes. Já a administração do Park Shopping Barigui ressaltou que mantém número de vagas especiais maior do que a reserva exigida por lei. Por sua vez, os responsáveis pela rede Walmart, proprietária dos hipermercados Big, e pelo Shopping Palladium informaram que contam com o senso de coletividade e com a conscientização dos motoristas.

Ocupando a quinta colocação no ranking, o Museu Oscar Niemeyer informou, por meio de sua administração, que apenas uma reclamação foi feita por visitante do local e que as outras 25 foram realizadas pela própria equipe de segurança do espaço cultural.

Conscientização

O que poderia ser feito para conscientizar os motoristas e evitar o uso indevido das vagas de estacionamento exclusivas para idosos e deficientes?

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As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

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...e na unidade da Nilo Peçanha a situação se repete: falta de fiscalização favorece abusos

As vagas de estacionamento exclusivas para idosos e deficientes em estabelecimentos comerciais são constantemente ocupadas indevidamente. De acordo com dados da prefeitura de Curitiba, entre janeiro de 2011 e agosto deste ano, os telefones da Central 156 tocaram 834 vezes por causa de reclamações de uso irregular em shoppings, supermercados, ambientes culturais e gastronômicos da capital paranaense. Os campeões em queixas são os supermercados Condor (207 reclamações) e Big (92 casos) e o Shopping Park Barigui (58).

Mas foi no Shopping Esta­ção que o desrespeito a essas vagas ganhou notoriedade. Na noite de 18 de agosto, o jornalista cadeirante Rafael Bonfim ficou mais de 2 horas preso no estacionamento do local porque um motorista havia parado o carro sobre a faixa que delimita as vagas. Ele publicou um vídeo da saga no blog "Inclusilhado", hospedado no portal da Gazeta do Povo, relatando o descaso dos órgãos públicos com os telefonemas para que o veículo fosse multado. A publicação teve 10.920 acessos e gerou 59 comentários.

O descaso vai de encontro à legislação de trânsito. De acordo com o Conselho Nacional de Trânsito (Contran), 5% das vagas dos estacionamentos particulares têm de ser reservadas para idosos e 2% para pessoas com deficiência. Em caso de descumprimento, os agentes de trânsito têm de aplicar multa leve, que rende três pontos na carteira de habilitação e pagamento de R$ 53,20.

Flagrantes

Na última semana, a reportagem da Gazeta do Povo visitou duas unidades do Condor (Nilo Peçanha e Ahú) e encontrou veículos estacionados de forma irregular nas duas. A espanhola Mara Andreae, 72 anos, até conseguiu estacionar o seu Fusca em uma vaga para idosos da unidade do Ahú, mas teve de contar com a "gentileza" de uma taxista que havia estacionado na vaga. "Ele viu que eu queria parar ali e cedeu o lugar. Tenho contado com a sorte", disse.

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Mesma sorte não tem tido o cadeirante Mauro Vicenzo Cláudio Nardini, 52 anos, presidente da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná. "Todos os dias encontro vagas ocupadas indevidamente. Eu ligo para o 156, mas às vezes o agente de trânsito não chega a tempo de multar o infrator. O ideal seria uma fiscalização de rotina, que ajudaria a inibir essa prática."

A cadeirante Mirella Pros­dócimo, 38 anos, idealizadora da campanha "Esta vaga não é sua nem por um minuto", acredita que o desrespeito às vagas exclusivas seja muito maior do que o número de reclamações registradas pela prefeitura. "As pessoas acabam desanimando de fazer reclamação, porque não há efetivo suficiente para fiscalizar todas as vagas. Deveriam permitir que seguranças dos shop­pings fotografassem os carros estacionados de forma irregular para gerar a multa."

De acordo com a Secretaria de Trânsito, "a fiscalização é feita mediante chamados e denúncias, mas ela é prioritária nas vias públicas, onde circulam a maioria dos veículos e acontecem as principais infrações". A pasta informou ainda que a lei prevê a remoção do veículo estacionado de maneira irregular, mas apenas em casos extremos, como quando um carro está bloqueando a passagem de outro.

Punição

Três pontos na carteira de habilitação e pagamento de multa de R$ 53,20 é a sanção prevista pelo Código de Trânsito Brasileiro para o motorista que ocupa de forma irregular uma vaga exclusiva destinada para idosos e deficientes. Em casos extremos, o veículo também pode ser removido do local.

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