• Carregando...
Azize Malucelli, 85 anos: após queda, idosa precisou recorrer à bengala | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Azize Malucelli, 85 anos: após queda, idosa precisou recorrer à bengala| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Apoio que virou esporte

Um exemplo prático dos benefícios da bengala veio da Finlândia. É a caminhada nórdica ou caminhada com uso de bastão, uma técnica utilizada originalmente para facilitar a locomoção na neve. Transformada em esporte, a modalidade foi trazida para o Brasil em 2002. Logo passou a ser uma das atividades preferidas entre os alunos do professor Felipe Lauriano Leme. Principalmente entre aqueles com mais de 60 anos. "Nessa idade, as pessoas tendem a ter uma postura prejudicada", explica. Além do apoio durante a caminhada, o exercício com bastão possibilitaria uma melhora da postura e um fortalecimento dos braços e pernas. A diferença com a bengala é que, em vez de segurada apenas de um lado, os praticantes da caminhada nórdica utilizam o apoio de dois bastões. "Os benefícios seriam maiores", afirma o professor. O esforço físico, contudo, também.

Escolha certo

Enquanto muitos hesitam em usar, colecionadores de bengalas buscam, cada vez mais, modelos diferenciados. No Paraná, uma das coleções mais representativas foi a do ex-deputado Aníbal Khury, que chegou a ter mais de 200 bengalas. Mas, no dia a dia, quem foi aconselhado a utilizar a bengala só precisa mesmo de uma delas. Confira algumas dicas antes de comprar a sua e não esqueça de respeitar sempre a recomendação médica:

Tipos

> O fisioterapeuta Francisco Zanardini alerta para a diversidade de tipos desse equipamento. "Basicamente as bengalas são feitas em madeira ou alumínio, fixas ou reguláveis em sua altura, com cabos de apoio da mão curvo, tipo "T" ou personalizados, com apoio único ou suplementar de 4 pontas".

Altura

> "Não basta ir à loja e comprar uma bengala. Tem que regular a altura, saber em que mão vai utilizar", avisa o geriatra Rodolfo Pedrão, que ressalta a importância de um auxílio profissional. Segundo ele, a bengala deve estar na mesma altura do fêmur e deve ser segurada no lado contra-lateral à lesão.

Borracha

> Ainda de acordo com o geriatra, a regularidade da troca da borracha de cada bengala depende do desgaste e dos locais onde a pessoa vai caminhar. "É interessante que a pessoa sempre esteja atenta para que a borrachinha esteja bem aderente ao piso", explica.

Preço

> Com exceção dos modelos artesanais, os preços de cada bengala variam entre R$ 15 e R$ 70, conforme o material utilizado na fabricação.

O começo foi difícil. Anna Kozuk resistiu o quanto pôde ao uso da bengala: só aderiu ao equipamento há seis anos, por causa de uma prótese que lhe rendeu a necessidade de um apoio ao caminhar. Hoje, aos 84 anos, já não se vê sem a companhia do instrumento de alumínio que segura na mão esquerda. "Às vezes eu saio sem bengala na rua e parece que eu estou caindo", conta.

Essa já é a segunda bengala que Anna utiliza. A primeira que comprou, de madeira, ela diz que esqueceu no portão de casa. Quando voltou para buscar, não estava mais lá. Segundo o comerciante Leandro da Silva, que trabalha em uma loja de materiais médicos, a perda em decorrência do esquecimento é um dos principais motivos que levam o idoso a trocar de bengala. Caso contrário, "a pessoa que compra uma bengala pode ficar anos com uma", ressalta o vendedor.

O aposentado Luiz Rosaldo Cardoso, de 75 anos, começou a usar o apoio há 20 anos. E não tem planos de largar. "Se eu não usar a bengala eu não tenho equilíbrio no corpo", relata. "É a minha terceira perna. Sem ela não dá", diverte-se, fazendo uma comparação com a faixa etária em que se encontra: a terceira idade.

Embora os relatos de Anna e Luiz sejam positivos, a bengala ainda divide opiniões dos idosos. Para driblar a visão negativa a respeito do equipamento, o geriatra e presidente da seção paranaense da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG-PR), Rodolfo Alves Pedrão, costuma lembrar aos pacientes que, além da necessidade de usar por uma questão de apoio, a bengala pode ter ainda um caráter de elegância. "É um acessório, mas com benefícios", explica.

Segundo o geriatra, as principais vantagens do uso da bengala estariam na diminuição do risco de quedas e na melhora da segurança e conforto ao caminhar. O equipamento é indicado para pessoas que têm problemas de equilíbrio, sofrem de doenças ósteo-mio-articulares e musculares ou possuem algum tipo de sequela nas articulações, causadas por doenças neurológicas, entre outras. "Se o idoso está com dor para caminhar, ou se recuperando de uma cirurgia, ele vai ter mais conforto com a bengala", afirma Rodolfo.

Quedas

Aos 85 anos, Azize Malucelli não imaginava que viria a utilizar a bengala um dia. O motivo que a levou a adquirir o instrumento é o mesmo de pelo menos outros 30 mil idosos: as quedas. De acordo com informações do Minis­tério da Saúde, os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) no tratamento de fraturas em idosos aumentam a cada ano. De janeiro a outubro de 2009, foram R$ 57 milhões em internações por esse motivo.

"Atualmente uma das importantes abordagens da fisioterapia junto ao idoso é a prevenção de quedas", alerta o gerontólogo e fisioterapeuta Francisco Zanar­dini, que costuma recomendar o uso de bengalas a alguns de seus pacientes. Segundo ele, em situações de redução da força muscular, perda de equilíbrio ou doenças degenerativas dos membros inferiores, a bengala pode ter função complementar ao tratamento. "O uso da bengala pode ser associado às diferentes terapêuticas impostas", diz. Três meses depois de ter caído, Azize garante: "Agora eu já estou bem melhor".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]