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Obra de prédio no bairro Cabral usou potencial construtivo para passar de seis para oito pavimentos |
Obra de prédio no bairro Cabral usou potencial construtivo para passar de seis para oito pavimentos| Foto:

Cidade

Legislação mais flexível facilita o planejamento urbano

Usar o potencial construtivo nada mais é do que flexibilizar a Lei de Zoneamento. O professor Clóvis Ultramari, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo e também do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUCPR, defende essa flexibilização em alguns casos, principalmente quando resultam na perspectiva de investimentos públicos. "Esse instrumento está disponível há muito tempo, mas não era muito usado até mesmo porque o mercado imobiliário não estava aquecido", diz.

Porém, Ultramari diz que determinar limites para a construção civil é essencial e que a Lei de Zoneamento é uma maneira de planejar um modelo mais racional de cidade. "Se numa área poucas pessoas vivem e circulam, ou seja, a densidade populacional é baixa, é caro para o poder público bancar os investimentos em infraestrutura, como asfalto. Mas alta densidade também precisa ser pensada, porque as vias públicas, por exemplo, deverão ser ampliadas", explica. Nesse sentido, a lei estabelece limites, incentivando ou restringindo formas de uso do espaço.

Curitiba é pioneira no Brasil na comercialização de potencial construtivo. Em 1982 surgiu o primeiro projeto, voltado para a restauração de imóveis históricos. Logo depois foi aplicada em obras de interesse social da Companhia de Habitação. Reformas de importantes prédios da capital, como a catedral, foram parcialmente custeadas com a venda de títulos. O direito de construir foi estabelecido formalmente em 2004 pelo Estatuto das Cidades. (KB)

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A emissão de potencial cons­­trutivo pela prefeitura de Curitiba bateu recorde em 2011, com 218 mil metros quadrados (m2) de área, e rendeu o equivalente a R$ 70 milhões. São 66 mil m2 negociados a mais do que no ano anterior. A comercialização do direito de construir além dos limites fixados na Lei de Zoneamento é uma tendência cada vez mais aproveitada pelo mercado imobiliário. E representa mais uma fonte de recursos para o poder público, que pode aplicar o dinheiro em obras de interesse geral.

A maior parte da área adicional de construção foi negociada diretamente pelo município – 168 mil m2 – e rendeu R$ 35 milhões. De acordo com o superintendente de projetos da Secretaria Municipal de Urbanismo, Roberto Marangon, o dinheiro foi direcionado para construir escolas e para capitalizar o projeto da Rua da Cidadania no Tatuquara. Ele lembra que, além dos títulos concedidos pela prefeitura, há também a negociação direta entre proprietários de imóveis. Donos de prédios históricos e de áreas de preservação ambiental, por exemplo, podem captar recursos – como compensação pela conservação do imóvel – comercializando o chamado potencial construtivo. Contudo, a área vendida é bem menor, com 46 mil m2.

Marangon diz acreditar que o aumento dos montantes negociados de potencial construtivo se deve a dois fatores: ao crescimento do mercado de construção civil nos últimos anos e à ampliação da confiança dos construtores em fazer uso dessa possibilidade.

Normando Baú, presi­­dente do Sindicato da In­­dústria da Construção Civil no Paraná (Sinduscon-PR), confirma que a compra de potencial construtivo está ficando cada vez mais atrativa. Ele explica que os terrenos se valorizaram muito nos últimos anos e até mesmo ficaram escassos em algumas regiões. "Tem lugares em que o metro quadrado do terreno está saindo, por exemplo, R$ 1,5 mil. Se é possível comprar o adicional por valores na faixa de R$ 300 a R$ 400, então compensa muito", diz. Em alguns bairros da cidade, a construção só se viabiliza financeiramente com a aquisição do potencial construtivo.

Exemplo

O arquiteto Luiz Ba­­coc­­cini recorre ao adicional em quase todas as obras que projeta. Em áreas nos bairros Juvevê, Água Verde e Cabral, por exemplo, há terrenos em que só é possível construir prédios de até seis pavimentos. Nesses locais, conseguir erguer edificações de até dez pavimentos é um bom negócio, relata o arquiteto. Ele exemplifica: na Rua da Bandeira, está concluindo uma obra com oito pavimentos e 434 m2 por andar. Sem o potencial construtivo, o prédio teria seis andares e menos 20% de área útil por laje. "Não é uma liberalidade total. Não dá para erguer um prédio de quantos andares eu quiser. Tem limites. Mas amplia as vantagens para o construtor", explica.

Linha Verde deve alavancar comercialização

Uma nova modalidade de venda de potencial construtivo em Curitiba está em via de implantação – e pode elevar em muito os valores que são movimentados ao ano. A prefeitura espera a aprovação pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) do projeto chamado de Operação Urbana Consorciada, que prevê a venda de R$ 1,5 bilhão em títulos na Bolsa de Valores ao longo de 30 anos. Nesse caso, o potencial construtivo só pode ser usado ao longo da Linha Verde. A proposta está na CVM desde 9 de março.

Também os recursos conseguidos com a negociação podem ser aplicados apenas em melhorias na Linha Verde. Entre os projetos previstos está a viabilização da Vila Olímpica – um espaço de integração entre as várias estruturas esportivas já existentes na região do Tarum㠖 e nove trincheiras. O superintendente de projetos da Secretaria Municipal de Urbanismo, Roberto Marangon, acredita que o modelo de venda de potencial construtivo deve ser ainda mais ampliado nos próximos anos. Para ele, é uma forma justa de financiar investimentos públicos. Curitiba é uma das cidades que mais recorre a essa possibilidade.

Mercado vive expectativa por títulos da Arena

Há a perspectiva de surgir, em breve, no mercado – que está com grande procura – o potencial construtivo a ser cedido para a ampliação da Arena da Baixada, na condição de estádio-sede da Copa de 2014. Uma lei foi aprovada estabelecendo que R$ 90 milhões podem ser usados pelo Clube Atlético Paranaense como garantia em um empréstimo para financiar as obras. O potencial ainda não foi liberado – o que deve acontecer apenas depois da concretização do financiamento. O clube está tentando usar como garantia o Centro de Treinamento (CT) do Caju. O potencial construtivo não será repassado ao clube de uma só vez, mas aos poucos. O mecanismo vai financiar a revitalização do es­­­tádio que receberá quatro partidas da Copa.

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