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Baleia- José Sanches, o Baleia, é uma daquelas provas que a Vila Torres não cabe no noticiário policial. Ele foge a todos os estigmas de bairro violento. Abriu um espaço cultural no lugar em que vende espetinhos. E transformou uma ribanceira numa praça com quadros para a vizinhança apreciar. “Não saio daqui” |
Baleia- José Sanches, o Baleia, é uma daquelas provas que a Vila Torres não cabe no noticiário policial. Ele foge a todos os estigmas de bairro violento. Abriu um espaço cultural no lugar em que vende espetinhos. E transformou uma ribanceira numa praça com quadros para a vizinhança apreciar. “Não saio daqui”| Foto:

Ezequiel Bibiano, 49 anos, coordenador do Caico, faz o tipo firme: em três anos, conseguiu uma centena de empregos para adolescentes da Vila Torres, junto à iniciativa privada. José Cordeiro, 45 anos, dono de uma mercearia na beira do Belém, teve de fechar a ONG Vida Nova, mas permanece no posto que alcançou pela própria natureza: o de relações-públicas da vila. Cláudio Santos, 38 anos, o Claudinho, fundou o restaurante para carrinheiros, ganhou quase mil votos na última eleição para vereador e tem dotes de oratória.

Esse time – pequena parcela das lideranças da Vila Torres – tem planos a rodo para o local onde vive. E os colocam para fora. Empresários, políticos e técnicos que freqüentam o Observatório da Habitação, criado pelo promotor Saint-Clair Honorato dos Santos, se impressionam com a quantidade de projetos trazidos à baila.

Alguns são, de fato, inesperados. Como a vila é famosa, nada melhor que mais e mais pessoas pudessem visitá-la, a exemplo do que acontece em comunidades favelizadas do Rio de Janeiro. Faria um bem danado aos moradores. Lugares para ir, garantem, não faltaria. Um deles fica na Rua Arnoldo Ravanelo, esquina com a Manoel Martins de Abreu, principal via da região depois da Rua Guabirotuba. Ali vive José Sanches, 48 anos, o Baleia, na vila desde 1968, apelidado assim na infância, quando se banhava num córrego ainda limpo da região.

Só o papo com Baleia vale a viagem. Enquanto assa espetinhos, faz um inventário da comunidade, com dados precisos sobre personagens e fatos que contam a história da periferia de Curitiba. Para melhorar a interlocução com os visitantes – por enquanto, gente do pedaço – transformou parte de sua casa num museu das Torres. As paredes estão forradas de fotos dos times de futebol, antigos líderes, gente que se foi.

Como na frente da loja-museu tudo estava muito feio, o comerciante arrumou cimento, tinta, bancos, plantas e arranjou ele mesmo uma praça. Virou point, claro, principalmente porque o empreendedor pendurou nas cercas reproduções de telas famosas encontradas no lixo. É o caso de Nascimento de Vênus, de Botticelli – cujo original está na Galeria Uffirzi, em Florença, mas que fica muito bem no seu exílio suburbano. Dali, pode ver Baleia tirando pressão dos mais velhos e jogando conversa com a moçada. O tema, garante ele, "é a realidade". O povo da vila virou expert no assunto. (JCF)

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