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R$ 150 é o preço cobrado pelo voo que decola pela praia. O equipamento custa entre R$ 8 e R$ 12 mil | Hugo Harada/Gazeta do Povo
R$ 150 é o preço cobrado pelo voo que decola pela praia. O equipamento custa entre R$ 8 e R$ 12 mil| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Curso de até 6 meses para habilitação

As regras para voar de paraglider se assemelham às aplicadas aos motoristas de automóvel. O condutor precisa ter uma habilitação expedida pela Associação Brasileira de Parapente ("pente" e "glider" são sinônimos). Os níveis de habilitação variam de 1 a 4 e representam a capacidade de voar sozinho, levar um passageiro e ministrar cursos de pilotagem.

"Quem es­­tiver interessado em fazer um voo deve exigir a apresenta­­ção da carteira pelo profissional. É a garantia de segurança", aconselha Márcio André Lichtnow, da Escola de Voo Livre Vento Norte.

Um salto duplo pode ser feito por qualquer pessoa que não tenha problemas cardíacos e esteja apta a realizar esforço físico de nível médio. Embora a subida do Morro do Boi seja desafiadora, existem rampas com acesso facilitado. No litoral, a escola de Márcio costuma decolar do chão, usando uma mochila-motor com hélice.

Quem quiser viver a sensação de pilotar precisa se submeter a um curso com duração de 4 a 6 meses. As primeiras aulas são teóricas, com noções de meteorologia, aerodinâmica, legislação, tráfego aéreo, uso de equipamentos eletrônicos, manobras de emergência e primeiros socorros. Os primeiros voos são feitos a pequenas alturas – barrancos de um ou dois metros de altura. "O tempo para essas etapas depende do ritmo com que o aluno vai assimilando as lições", explica Lichtnow. "É um esporte que não deve se tentar aprender sozinho", alerta o instrutor.

Na praia, um dos locais preferidos para a prática, os praticantes devem tomar cuidado redobrado na hora do pouso. Além da presença de veranistas, a presença de pipas e balões pode causar acidentes. Garante-se, porém, que o paraglider é totalmente dirigível, tornando possível o pouso em áreas não ocupadas da orla.

Serviço

Escola de Voo Livre Vento Norte

Telefone (41) 3068 6675 www.voeventonorte.com.br

Existem dois tipos de aviadores de primeira viagem: os que jamais pensam que vão cair e os que somente pensam nisso. Quando o caso é um salto de paraglider a partir do Morro do Boi, em Matinhos, Litoral do Paraná, facilmente os que têm medo se convertem no primeiro grupo, porque a trilha é tão íngreme, estreita e irregular que, após subir os 95 metros até o cume, voltar pelo mesmo caminho deixa de ser uma alternativa. O cansaço vence e você passa a pensar que despencar é improvável.

Antes de subir, é difícil ter noção do esforço físico a ser empreendido para se chegar até a principal zona de salto do Litoral do estado. Como ba­­tismo, os no­­vatos ainda car­­regam o equipamento com o qual voarão pela primeira vez. A mochila de 25 quilos, que se estende da nuca ao joelho, compensa pela capacidade de chamar a atenção. Andar pelo calçadão carregando uma vela de paraglider nas costas arranca olhares de admiração dos veranistas. Você acaba se sentindo o dono da praia. Mas a vaidade tem seu preço.

Por causa do peso, é necessário fazer três vezes mais esforço a cada degrau escalado, sob o risco de ser puxado para trás e cair. Quanto mais se avança na "escalada", mais frequentes e demoradas se tornam as pausas para descanso. Se no início a preocupação era não sujar os tênis no barro, um pouco mais tarde você acaba se segurando com todas as forças em galhos e pedras enlameadas.

O colega de aventura é o piloto e comerciante Marcelo Lessa Derci, de 42 anos. Praticante de paraglider há três, ele conta com algumas subidas ao Morro do Boi.

Desafio

Ainda no fim da trilha, há um paredão de pedra de quatro me­­tros que interrompe a caminhada antes do cume. Marcelo teve de assumir a mochila, segurou no cipó e escalou com os pés na rocha. Para quem nunca praticou, a subida parece irrealizável. "Tinha outro caminho sem precisar subir", informou ele com atraso.

Marcelo é um piloto que inspira segurança. Suas piadas prontas sugerindo falta de experiência têm efeito inverso. Alguém que brinca com a possibilidade de desastre está certo de que nada vai ocorrer. "A descida é bem mais fácil", garante ele.

Após a chegada, uma pausa para descanso de 20 minutos, de­­pois foi só se preparar para o voo. A partir desse momento, os movimentos são cegos; as instruções são seguidas, mas é difícil saber o que vai ocorrer em seguida.

Foram três tentativas de decolar, sem sucesso. Não batia vento na vela, que acabou embolando e precisou ser reaberta. Num dos piques, a desistência ocorreu faltando apenas um metro para o precipício. Surge meia dúzia de ajudantes. Então, basta um puxão de Marcelo para que o paraglider assuma a posição vertical. O vento forte do morro iça o paraglider para cima quase em linha reta. O voo é bastante estável – não há chacoalhão. Durante vinte minutos, dá-se voltas em frente ao morro, "surfando" a corrente de ar a uma velocidade que varia entre 18 e 60 km/h, conforme a posição em relação ao vento. As ondas do mar parecem se aproximar em câmera lenta, extinguindo-se aos pés de minúsculos guarda-sóis e veranistas imóveis. "É uma paz que Deus manda", define Marcelo.

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