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 | Walter Alves / Gazeta do Povo
| Foto: Walter Alves / Gazeta do Povo

Passo a passo

Confecção de várias etapas

Os shaperes trabalham em cima de "blocos" – uma lâmina de poliuretano em forma de uma prancha rústica e mais grossa. O primeiro passo é aplainar essa peça, dando a ela o tamanho e o formato desejado. Em seguida, começa um processo de modelagem fina, em que serão definidos detalhes como curvatura, bordas e a dinâmica do fundo. É um dos momentos mais importantes, pois o fluxo da água é essencial para o desempenho do atleta. Esse trabalho pode levar de quatro a seis horas.

Encerrado o shaping, a prancha é pintada com tinta spray. Em seguida, a peça vai para a laminação – processo responsável por dar resistência ao produto. Um tecido de fibra de vidro é colado com resina e, em seguida, a prancha recebe um polimento final. Nessa parte, as escolhas do construtor também se refletem no desempenho sobre as ondas. "Eu posso fazer uma prancha indestrutível, mas, quanto mais leve, mais capacidade para manobras ela terá", diz Rubens Canfield, fabricante de Matinhos. (OT)

  • Rubens Canfield aprendeu a fazer pranchas na prática.

Eles costumam se comparar aos mecânicos da Fórmula 1, e com certa razão. A fabricação de pranchas de surfe se revela um trabalho minucioso, em que os detalhes são responsáveis por criar um diferencial para o atleta de ponta. As diferenças podem ser consideradas mínimas, mas proporcionam ganhos de rendimento que podem ser decisivos na disputa por um campeonato.

Apesar do desenvolvimento da modalidade, a fabricação de pranchas continua sendo uma atividade basicamente artesanal no Litoral do Paraná. Ainda que os criadores tenham agregado materiais e tecnologias novas à produção, as habilidades manuais de cada profissional continuam sendo a matéria-prima mais cara, e escassa, do mercado do surfe.

"A plaina precisa ser uma extensão da sua mão", ilustra Rubens Canfield, 48 anos, proprietário de uma fábrica e loja de pranchas em Matinhos. Ele trabalha há 30 anos como shaper (do inglês shape, dar forma) e afirma ter demorado anos até conseguir dominar as técnicas básicas. "No começo, era praticamente às cegas. Nunca tinha visto ninguém ‘shapeando’. Você perde muito material até conseguir algum resultado."

Sozinho

Canfield teve o primeiro contato com a parte interna da prancha ainda na adolescência, ao desmontar a própria para adaptá-la às manobras mais populares da época. Destaque entre os jovens surfistas de Praia de Leste, ele passou a fazer alterações também nas pranchas dos amigos e a curiosidade se transformou em profissão.

Hoje, ele produz 40 pranchas por mês e conta com quatro funcionários. Seu último investimento foi uma máquina computadorizada para shaping. Com isso, ele espera que 70% do trabalho de dar forma à prancha seja automatizado. As formas são desenhadas em um software gráfico e, em seguida, o maquinário molda o bloco de poliuretano. "Ainda assim, tem uma parte que precisa mesmo ser feita à mão", salienta.

O shaper Maximiliano Leviski, 39 anos, leva a predileção pelo trabalho artesanal no nome da empresa, sediada em Guaratuba. A Max Handshape produz de dez a 15 pranchas por mês – todas feitas quase integralmente por ele. "Sempre trabalhei sozinho. Agora na temporada é que tenho uma ajudante. É uma mão de obra difícil de encontrar", conta.

Ele próprio começou a construir a partir de uma necessidade. "Quando comecei a surfar, nos anos 1980, o preço da prancha era cotado em dólar e subia o tempo todo. Então era impossível comprar", lembra. Paralelo à fabricação, ele também reforma e revende pranchas de segunda mão. "Aceito [uma prancha usada] como parte do pagamento por uma no­­va. Arrumo e coloco para vender. Geralmente, vendo para alguém que vai começar no esporte e não quer investir muito ."

Parceria com atletas é essencial para chegar a equipamento ideal

Comprar uma prancha é quase como escolher um par de óculos. É necessária alguma avaliação e experimentação até chegar ao modelo ideal para cada praticante do esporte. Aos amadores e iniciantes, os fabricantes costumam recomendar al­­guns modelos a pronta entrega, ideais para a fase de aprendizado. Com os atletas de elite, en­­tretanto, a parceria é mais afinada. Antes do início da fabricação, eles se reúnem e trocam experiências.

"Temos que adaptar a prancha ao estilo de cada atleta. Eles nos repassam informações sobre o desempenho de um modelo na água e dizem quais vão ser os próximos campeonatos e que tipo de ondas vão surfar", relata Rubens Canfield, que fornece material de competição para Peterson Rosa, Jihad Kohdr, João Marcos e outros surfistas profissionais .

Novas gerações

Max Leviski, shaper em Gua­­ratuba, proprietário da MAx Handshape, está investindo por conta própria na divulgação do esporte. Desde o ano pas­­sado, ele organiza o Circuito Max de Verão, uma série de cam­­peona­­tos amadores com inscrição gra­­tuita.

Em 2011, ele recebeu uma média de 70 participações em cada uma das provas. "O surfe do Paraná está meio morto. A federação está com problemas, ninguém faz campeonato e os patrocinadores saíram. O circuito é uma forma de manter o esporte vivo", justifica.

Entre os participantes, ele destaca o interesse de crianças e adolescentes, a possível nova geração do surfe no estado. "Esse é o espírito, fazer esse pessoal aparecer. Tirar a piazada da frente do computador e colocar na praia", defende.

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