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O Sítio Ecológico do Guaraguaçu abriga o único sambaqui do estado, entre os 250 existentes, que já foi estudado | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
O Sítio Ecológico do Guaraguaçu abriga o único sambaqui do estado, entre os 250 existentes, que já foi estudado| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Passeio: No caminho, mais atrativos

O turista que tiver interesse em conhecer o sambaqui do Sítio Arqueológico do Guaraguaçu, que fica em Pontal do Paraná, deve ir pela estrada ecológica Domingos Mesquita Sant’Ana, que começa junto à ponte do rio Guaraguaçum na rodovia PR-407 (Paranaguá – Praia de Leste). A estrada é de terra e fica a 9 quilômetros da comunidade indígena. A partir daí o caminho até o sambaqui tem de ser feito a pé, por uma trilha, numa caminhada que dura cerca de 25 minutos.

Antes de chegar no sambaqui, a atração é um forno histórico (caieira) de 8 metros de altura, onde era acesa uma fogueira para queimar as conchas, que se transformavam em carbonato de cálcio (o cal). O produto gerado é uma espécie de argamassa de boa resistência. Esse cal era levado para Paranaguá, onde era usado na construção. A Escola Jesuíta é um exemplo de edificação feita com sambaqui.

Uma opção é fazer o roteiro Eco-Cultural, um projeto do governo do estado. O passeio, que acontece aos sábados, custa R$ 15 por pessoa, dura cerca de três horas e começa na Casa da Cultura, no balneário de Ipanema, onde os visitantes recebem informações sobre a região e a importância da preservação ambiental e cultural. As reservas podem ser feitas pelo (41) 3975-3102.

Quem viveu há 6 mil anos no Litoral do Paraná, como viveu e os seus hábitos alimentares são algumas das respostas que podem ser obtidas numa montanha de conchas, chamada de sambaqui. É a possibilidade de a história ser contada pela análise das conchas e de todo o amontoado de resto de atividade humana que forma a estrutura.

A palavra é uma derivação de tambaqui, que em tupi-guarani significa exatamente "amontoado de conchas". Só no estado são 250, mas apenas um, o Sítio Arqueológico de Guaraguaçu, foi estudado e analisado. Em todos os sete municípios do litoral há registros da existência destas áreas.

O Sítio Arqueológico do Guaraguaçu fica na Fazenda Sambaqui, uma propriedade privada no município de Pontal do Paraná. É o único sambaqui, ou casqueiro, como é conhecido pelos moradores da região, tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico no Litoral do Paraná. E por essa razão foi o único a ser analisado. A primeira concha datada encontrada no Guaraguaçu é de 6 mil anos atrás, mas alguns sambaquis podem ter até mais de 9 mil anos.

A área do entorno do sambaqui de Guaraguaçu é habitada pelos índios da aldeia M’Byà. O historiador e antropólogo André Borges conta que o estudo feito na montanha de sambaqui, com cerca de 12 metros de altura, mostra que não há qualquer relação entre os habitantes remotos e os atuais moradores da região.

Borges compara esse amontoado de conchas com uma espécie de lixão. "O nosso lixo é uma consequência de nossas atividades diárias. E na arqueologia não é diferente. Junto das conchas é possível encontrar restos de comida, que nos permitem concluir como os ancestrais se alimentavam. A diferença é que este lixão é de, pelo menos, 4 mil anos antes de Cristo ", diz.

O historiador cita o achado de uma pequena ossada, que faria parte do ouvido de um peixe. Após as análises descobriu-se que se tratava de um resto de uma garoupa de 300 quilos. "Isso nos mostrou que naquela época a técnica de pesca era altamente especializada. Encontramos anzol e até uma rede com fibra vegetal. Foram achados ainda restos de mamíferos e aves", conta Borges.

No Guaraguaçu também foram encontrados, por exemplo, mais de 70 esqueletos humanos e pedras polidas em forma de animais. Por meio da análise dos esqueletos é possível identificar quem eram os ocupantes da região.

Patrimônio ameaçado

A possibilidade de contar a história, no entanto, está ameaçada pela degradação das áreas. Na opinião do historiador, a falta de fiscalização contribui para isso. "Cada um que visita este sítio arqueológico (do Guaraguaçu) acaba levando uma concha. Se um milhão de pessoas visita, acaba", conta.

Além disso, outra ameaça é o aumento progressivo dos balneários em direção ao sítio. Borges conta que a base da estrada que dá acesso à Praia de Leste foi feita com aterro do sambaqui. "Isso é impensável do ponto de vista arqueológico e histórico", resume.

Para evitar a destruição, ele afirma que é necessário aumentar o repasse de verba do governo federal para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para preservar os sambaqui. "Em Antonina, um sambaqui foi destruído para a construção de uma piscina. A visitação no Guaraguaçu, por exemplo, acontece de forma desordenada. Seria interessante que moradores da região fossem treinados para guiar os turistas", opina.

A preservação, conta o historiador, é fundamental para que no futuro, com o avanço das técnicas de arqueologia, seja possível colher ainda mais informações. "Hoje a técnica é muito incipiente. Para analisar um sambaqui é feita a escavação, que destrói muita coisa", afirma.

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