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Eros Silveira, 91 anos: um dos pais do tênis de areia paranaense | Fotos: Antônio More / Gazeta do Povo
Eros Silveira, 91 anos: um dos pais do tênis de areia paranaense| Foto: Fotos: Antônio More / Gazeta do Povo

Campeonatos

Grupo abre para novos participantes

Há 15 anos, durante os fins de semana são disputados campeo­natos de tênis de areia na praia. Nessas ocasiões são armadas até quatro quadras para que vários atletas possam jogar ao mesmo tempo. Nas competições os tenistas são divididos em até três categorias, conforme o nível de jogo.

A organização dos torneios é feita pela Associação de Tênis de Praia de Caiobá, que existe há cerca de 20 anos. São aproximadamente de 300 associados e os campeonatos chegam a contar com até 60 tenistas.

O desenho da quadra de tênis de praia é o mesmo que a de tênis de campo individual. Porém a modalidade litorânea é jogada apenas em duplas, em apenas um set de até seis games, que não precisam ser decididos com dois pontos de vantagem para o vencedor, como no jogo tradicional. Outra diferença é que, em caso de empate de 5 a 5, o último game é disputado no formato de tie-break.

  • O aperto de mão de gerações: Edenilson Zanlorenzi, 44 anos, e Avelino Ericksen, 78 anos
  • O tenista Carlos Alberto Miranda, 64

O que era apenas uma atividade de improviso, com a quadra riscada na areia com raquetes, passou a ser compromisso firmado pelos tenistas, que depois de inúmeras trocas de bola em 40 anos de prática, viraram amigos.

Na praia de Caiobá, em Mati­nhos, comenta-se que o pai do tênis de praia é o médico Leôni­das Mocelin. O título é dado por outro fundador do esporte, o empresário Jairo Rosa, de 73 anos. Ele conta que Mocelin trouxe para Caiobá em 1973 um jogo parecido com o tênis jogado nas praias de Santos, em São Paulo. Se por lá as raquetes utilizadas tinham cordas e o terreno era a areia fofa, a versão paranaense preferiu raquetes ocas de madeira e a areia compactada.

No começo, quatro amigos eram os tenistas que testavam a ideia e, em pouco tempo, o número de adeptos cresceu bastante. "Depois de dois anos começou a vir mais gente jogar. Desde aquela época jogamos no mesmo lugar", diz Rosa. E este é só o primeiro item da cartilha de rituais do jogo: o local fica nas proximidades do Morro do Boi, onde a maré sobe à noite e compacta a areia que vai fazer as bolinhas pingarem na manhã seguinte.

São 12 praticantes diários, entre amigos dos amigos e curiosos que se juntaram ao time. Eles nem precisam confirmar a presença durante o verão, já que estão mais do que garantidos. Aí vem a outra parte do ritual. Por volta das 8 horas os primeiros tenistas chegam e preparam a quadra. A delimitação é feita por cordas fixadas no chão e a rede é um pouco mais alta que a tradicional.

Do grupo fundador do tênis de praia paranaense, dois têm presença certeira. Além de Rosa, Eros Silveira, de 91 anos, está todo dia com a raquete em punho. Professor aposentado e primeiro prefeito de Matinhos, ele revelou, ao fim de uma partida, a parte final do ritual: "Agora é só esperar a cervejinha depois do jogo", anuncia Silveira, que, mesmo com um problema no joelho, não abre mão de rever os amigos que fez durante os 40 anos de prática.

Outro que garante presença e não perde uma partidinha é Avelino Ericksen, de 78 anos, morador de Curitiba. Praticante há 30 anos do tênis de praia, o ex-leiloeiro oficial do estado passou há dez dias por uma cirurgia para retirar duas verrugas, uma da cabeça e outra das costas. "O médico liberou minha vinda. Aqui é muito bom por causa dos amigos e também da cervejinha", justifica.

Amigos pela raquete

Tradição boa é aquela que se renova e assim garante continuidade. E o tênis de praia está justamente neste caminho. Os praticantes afirmam que cada vez é mais comum a chegada de jo­­vens. Uns foram convidados e outros de tanto verem uma quadra de tênis montada na areia, resolveram experimentar. Até mesmo filhos e netos dos tenistas habituais dão suas raquetadas.

Depois de tantos anos, a turma do tênis de praia virou praticamente uma família. Quem chega para jogar risca o nome na areia ao lado da quadra e aguarda a vez enquanto conversa e busca as bolinhas que saem da quadra. Qualquer um pode participar, desde que saiba jogar tênis e tenha a própria raquete. "Fui muito bem recebida por todos, isso daqui é quase uma família", diz a professora Brígida Foes, de 48 anos, que começou a jogar há três meses e defende a adoção da prática pelas mulheres.

O compromisso da turma que se conheceu durante as partidas é quase religioso. Boa parte dos fiéis praticantes tem casas de veraneio na praia e todas as temporadas marcam presença na quadra pela manhã. Não é preciso nem telefonar para confirmar a ida. "A gente só liga quando vai ter jogo fora da temporada, nos fins de semana", conta o procurador de justiça José Antônio Pereira da Costa, 59 anos de idade e 20 anos de tênis de praia. Durante o ano, muitos deles jogam juntos em clubes de campo da capital.

"Na praia dá para jogar descalço e sem camisa. Isso é liberdade pra mim", explica Costa. "Jogar tênis é um passatempo. E fazer do exercício uma forma de lazer é fundamental para a minha idade. O esporte é como uma cachaça, mas no fim do jogo prefiro tomar suco", brinca o engenheiro civil de 79 anos Salomão Grupenmacher, tenista de praia há cerca de 30 anos. "Aqui tem muito mais lazer do que em um clube de campo, porque vemos o jogo dos outros, damos palpite e rimos", descreve o dentista de 68 anos José Benedito Pereira. O bom humor é presença indispensável no antes, durante e depois do esporte, quando todos se reúnem para o drinque final e comentam os lances marcantes.

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