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Professores aposentados se encantaram com a Ilha do Mel e se dedicam a fazer dela um paraíso. | Felipe Rosa/Gazeta do Povo
Professores aposentados se encantaram com a Ilha do Mel e se dedicam a fazer dela um paraíso.| Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo

A Ilha do Mel é dividida em dois mundos: um deles é o mais conhecido – segundo destino turístico do Paraná, a ilha é um paraíso cheio de belezas naturais, que não tem carros e só conheceu a luz a elétrica no final dos anos 1980. O outro, só quem está lá vivendo o dia a dia conhece: o abandono do poder público e os problemas com segurança, coleta de lixo e incêndios que prejudicam a vida no paraíso. Mas, a mobilização de moradores e comerciantes como João Lino de Oliveira e Marina Galvão, donos de uma pousada na Ilha, está mudando este quadro. Apontado como um dos moradores que lidera a organização dos comerciantes dentro da Ilha, João Lino rebate: “eu também sou um fruto da mobilização”.

João Lino e Marina conhecem a Ilha antes da vinda da luz, em 1988. Os dois são professores aposentados e vinham acampar da ilha quando ainda não existiam pousadas para fugir do mundo cão e se apaixonaram pela tranquilidade e serenidade que o lugar traz. Há 16 anos resolveram se mudar para lá e pouco depois transformaram a casa que tinham em Encantadas numa pousada de frente para o mar. “A tranquilidade aqui é maravilhosa. Mas confesso que, para mim, as vezes até o silêncio é demais”, conta Marina, que se diz prisioneira de dois mundos. “Quando estou na cidade, não quero voltar. Quando estou aqui, não quero mais sair”, brinca.

João Lino e MarinaFelipe Rosa/Gazeta do Povo

Os dois conhecem bem as vantagens e desafios destes dois mundos e, de alguma forma, a Ilha do Mel consegue reunir um pouco dos dois – a tranquilidade da natureza e os problemas tradicionais da urbanização. Natureza, inclusive, é o nome da cadela comunitária que visita as pousadas de Encantadas e acompanha a entrevista. “Acho o nome dela sugestivo. Ninguém é dono da Natureza, ela anda solta e recebe o carinho de todos por aqui. Como deveria ser sempre”, diz João Lino.

Em busca de respostas

Para João Lino, por muitos anos foi muito difícil ter respostas do poder público. A Ilha é administrada pelo governo do Paraná, por meio do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), e também pela prefeitura de Paranaguá, município ao qual a Ilha do Mel pertence. “Sempre foi muito difícil fazer o poder público entender que a nossa realidade aqui é outra e não se encaixa com os projetos feitos dentro de gabinetes”, explica. Esse processo vem se modificando e, nos últimos cinco anos os moradores e comerciantes têm buscado participar ativamente das decisões que alteram suas rotinas e suas vidas. “Isto aqui era uma República do Amém. Tudo o que nos diziam, era levado como verdade absoluta. Mas, aos poucos isso está mudando, estamos em um permanente processo de desconstrução. Nós somos todos sujeitos no processo de modificar e melhorar o nosso próprio cotidiano”, conta João Lino, após participar de uma reunião com outros moradores para discutir os problemas enfrentados no momento.

A vontade é tanta que os comerciantes deixaram seus locais de trabalho durante a alta temporada para participar e buscar novos rumos para a comunidade.

Os problemas não são poucos

A lista de problemas não é pequena, afinal são 120 hectares ocupados dentro da Ilha. A coleta de lixo, que normalmente é feita uma vez por semana, falha durante a temporada. Um dia durante o período de alto movimento equivale a uma semana de geração de lixo fora de temporada. Os incêndios que já ocorreram em casas e pousadas também preocupam os moradores, que se organizam para criar um Plano de Ajuda Mútua (PAN) para evitar novos acidentes. A compra de materiais vai ficar por conta de cada um. “Quando o Estado não cumpre a sua função nós mesmos precisamos colocar a mão na massa. Não adianta ficar esperando que o pior aconteça”, diz João.

Os problemas não são poucos, mas as conquistas também não. Depois de muitas reuniões com o poder público, os moradores conseguiram, desde a temporada passada, a permanência de pelo menos dois a três guardas municipais na Ilha do Mel, algo que só acontecia durante a temporada. Uma conquista importante já que eles pedem uma presença mais efetiva das polícias Militar e Civil na região. “Conseguimos uma aproximação grande com os nossos representantes. Finalmente estamos vendo uma vontade de fazer a coisa certa”.

A Polícia Militar informou que atua na Ilha com dois destacamentos: um policiamento regular, em Encantadas, e outro da Polícia Militar Ambiental, em Nova Brasília, ambos de maneira fixa. Além disso, a PM ressalta que faz operações específicas para combater o tráfico de drogas e outros crimes.

Na Ilha do Mel, coleta de lixo é um problema crônico

De acordo com os moradores da região, a coleta do lixo produzido dentro da Ilha do Mel é um problema crônico. “O maior problema é a falta de continuidade nas ações, causadas pela troca de administração”, explica João Lino. Quando a quantidade de pessoas aumenta na Ilha, como no caso da temporada de verão, o problema se agrava. Há um ano e meio, os carrinhos elétricos que eram utilizados para fazer a coleta do lixo no local estragaram e os funcionários voltaram a utilizar os carrinhos manuais, com uma capacidade menor. Desde então, os moradores se reúnem de forma contínua para buscar uma solução para o problema. De acordo com João Lino, este foi o problema que uniu todos os moradores para buscar esta e outras soluções para os problemas da Ilha do Mel. “A questão do lixo foi crucial para a união dos comerciantes para buscar uma solução duradoura. Pelo menos agora estamos tendo uma resposta para a nossa demanda”, disse.

Durante esta temporada, o governo estadual fez um repasse para que as próprias prefeituras fizessem a coleta do lixo no litoral. De acordo com o Secretário da Agricultura, Pesca e Abastecimento da prefeitura de Paranaguá, Sílvio Geraldo, a prefeitura foi informada poucos dias antes do início da Operação Verão e não conseguiu a certidão negativa do Tribunal de Contas para acessar o dinheiro para a temporada. Ainda de acordo com o secretário, um acordo foi feito entre as secretarias para disponibilizar um número maior de funcionários para a limpeza. “Para faz a retirada do lixo acumulado de forma emergencial, duas barcas estão sendo utilizadas – uma em Encantadas e uma em Brasília”, disse. Sobre os carrinhos elétricos que estavam quebrados, o secretário afirmou que quatro novos carrinhos chegarão até a ilha neste sábado (9).

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