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Do salão do restaurante, José Bandeira viu Caiobá se transformar na praia mais agitada do Litoral | Antônio More/Gazeta do Povo
Do salão do restaurante, José Bandeira viu Caiobá se transformar na praia mais agitada do Litoral| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo
  • José e Helena Bandeira na Praia Brava de Caiobá, no começo dos anos 60

Um paredão de prédios tapa a vista para o mar do restaurante de José Bandeira, em Caiobá. Mas a visão nem sempre foi o concreto. Há 50 anos, quando ele e a esposa, que dá o nome do restaurante, Helena Bandeira, decidiram se fixar em Matinhos, ainda dava para ver a praia dali. A rua era a mais próxima da orla, separada do mar por uma extensa faixa de restinga. Tudo bem diferente de hoje.

Para quem chega, o salão de 100 metros quadrados, decorado com mesas simples e poucos quadros, parece tímido em meio à região mais nobre de Caiobá – próxima à ligação entre as praias Brava e Mansa. Mas sob o ponto de vista deste comerciante de 80 anos, é como se fosse a cidade quem tivesse corrido para a frente das janelas do estabelecimento.

Com 50 anos de atendimento, a história do Restaurante Helena Bandeira se mistura com a do desenvolvimento da praia mais famosa do Paraná. Ao se estabelecer na região, o ponto comercial tinha como vizinhos meia dúzia de comerciantes, além das rãs do mato em volta. Energia elétrica não havia e clientes eram poucos.

A própria vinda do casal Bandeira foi influenciada pela construção da cidade. Pedreiro de formação e natural de Bocaiúva do Sul, região metropolitana de Curitiba, ele foi contratado para trabalhar na construção de alguns dos primeiros edifícios de Matinhos. Terminado o trabalho, o patrão sugeriu a ele montar um restaurante. Poderia atender veranistas e operários que chegariam para trabalhar em outros empreendimentos. "Comprei as panelas de uma mulher que tinha acabado de fechar um restaurante na Praia Mansa", lembra. "Diziam que eu era louco porque estava construindo aqui no meio do mato", recorda hoje, rodeado por prédios.

O meio século de funcionamento do Helena Bandeira foi traçado sobretudo pelo trabalho solitário do casal. Nos primeiros anos, quando os clientes ainda não proporcionavam renda suficiente, Bandeira continuou a trabalhar de pedreiro. Voltava na hora do almoço, mas não para comer. Servia as mesas enquanto Helena ficava no comando das panelas.

O restaurante tornou-se o mais antigo da cidade a funcionar ainda sob o controle dos fundadores. Virou ainda ponto de encontro da velha guarda praieira, que frequenta o local para relembrar tempos idos. "Conheci toda a velharada daqui. Hoje, o mais velho sou eu", diverte-se Bandeira.

Comida caseira

No preparo dos pratos, o casal também é tradicionalista. Os destaques são o peixe e o camarão, acompanhados por generosas porções de arroz, feijão, salada, maionese e farofa. A comida caseira vem de um fogão à lenha. "Temos um a gás, também, mas a mulher não abre mão do fogo vivo", explica Bandeira.

Essencialmente, a equipe de atendimento ainda é a mesma: Bandeira e Helena, que em 73 anos de vida, jamais venceu a timidez e fica apenas na cozinha. Bandeira permanece como anfitrião, garçom e caixa. Na temporada de verão, dois ajudantes se unem ao casal. "Não sinto canseira, mesmo tendo '40 anos em cada perna'. Se a gente parar de trabalhar, logo morre", constata Bandeira.

Ele refuta todos os clichês saudosistas geralmente atribuídos à terceira idade. Afirma ser este o melhor momento do restaurante, e também da cidade. "Não tem nada que eu desaprovo. Quanto mais prédio e mais gente, melhor. Daí eles vêm gastar aqui", antecipa.

Torcedor do desenvolvimento de Matinhos, Bandeira chegou a ser vereador no mandato entre 1978 e 1981, posteriormente prorrogado até 1984. Da época, guarda a foto oficial, pendurada na parede do estabelecimento e a lembrança das aberturas de rua cujos projetos foi o autor. E em 2012 pretende se candidatar uma vez mais. "Política é importante, sem ela não se faz nada. Hoje, é bom também para a gente dar umas risadas."

Atendimento gera fidelidade há décadas

Bandeira não tem os números de telefone dos clientes mais chegados. Da maioria, desconhece até o sobrenome. Mas quando um frequentador habitual entra no restaurante, percebe que a alegria pelo reencontro é sempre renovada.

"Seu Bandeira e dona He­­­le­­­na têm uma humildade que transparece no ar", descreve o representante comercial Ser­­gio Francisco Baptistella, 56 anos, frequentador do restaurante há 25. "O que eu adoro ouvir são as histórias da vida dele. O José fala muito sobre o começo, as dificuldades iniciais. É um sentimento de homem honesto que tem de ser valorizado", afirma.Baptistella, que mora em Curitiba, almoça no Restaurante Helena Bandeira uma vez a cada dois meses, em média. Na última visita, semana passada, levou outros 14 familiares.

"No dia em que meu pai conheceu o mar, aos 60 anos de idade, eu o trouxe para comer aqui. Hoje, costumo trazer al­­­guns dos seis filhos e nove netos", enfatiza. "Temos um carinho especial pela família Bandeira. O casal faz a comida com muita dedicação. É gostoso ser atendido por eles", ressalta Baptistella.

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