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O primeiro objetivo das pessoas que estão em tratamento contra a dependência química é conseguir ficar um dia sem fazer uso de drogas e também do álcool -, o que eles chamam de estar "limpo". O lema desse desafio é "só por hoje". A reportagem da Gazeta do Povo teve a oportunidade de conhecer a história e a luta de dois jovens que fazem tratamento em uma clínica particular em Curitiba, no bairro Seminário – Clínica Nova Esperança. Mateus*, de 22 anos, e Lucas*, de 25 anos, falaram de como se tornaram dependentes químicos e das dificuldades da recuperação.

As duas histórias de vida têm muito em comum e servem de alerta para que pais, familiares, amigos e professores possam contribuir para que outras pessoas não se tornem dependentes químicos. Antes do uso de drogas, Mateus* e Lucas* começaram bebendo com os amigos, o que ocorreu ainda na adolescência. "As pessoas não "ligam" para o álcool. Todo mundo bebe perto de crianças e oferece para adolescentes. Parece que ninguém sabe dos perigos que representa. Quase sempre é o primeiro passo para as drogas", afirmou Mateus, de 22 anos.

No caso de Lucas, o pai é alcoolista em recuperação e desde cedo ele presenciou o pai chegar em casa embriagado. "Lembro-me de ir buscar meu pai em bares e das brigas que havia na família", relatou Lucas, de 25 anos.

Lucas começou a beber aos 12 anos e Mateus aos 15. Logo depois do álcool, passaram a fumar maconha. "Aos 15 anos, eu nem sabia o que era um "baseado". Um amigo trouxe e experimentei. Fumei para me sentir aceito no grupo", contou Mateus. Da maconha passaram para a cocaína e depois por outras drogas, como LSD e ectasy, até que chegaram ao crack. Nessa fase Mateus tinha 17 anos e Lucas estava com 18.

Aos poucos foram perdendo tudo o que tinham e a dependência atrapalhava o ambiente familiar. Lucas teve de abandonar a graduação que cursava na Universidade Federal do Paraná e não conseguia mais trabalhar. Mateus contou que perdeu a namorada, amigos e que as drogas também o atrapalhavam no emprego.

Os rapazes deram início aos tratamentos por formas diferentes. Lucas não aguentou mais aquela situação, contou tudo para a mãe e recebeu o apoio e o auxílio dos pais para começar o tratamento. Mateus caiu em si por causa do pai, que o ajudou, assim como outros familiares e colegas de trabalho, e ele foi encaminhado para a primeira internação. "Alguns pais nem sabe que os filhos são dependentes químicos. Outros desconfiam, mas não querem encarar a verdade. E existem também aqueles que até sabem, porém, não têm ideia do que fazer para ajudar", alertou Lucas.

"Não estou muito bem hoje (quarta-feira, 12 de janeiro - data em que foi feita a entrevista). Espero estar melhor amanhã. Não queria desapontar meus pais e espero que eles saibam que estou tentando", desabafou Mateus. Em 4 de janeiro, o rapaz chegou à clinica para retomar o tratamento e continuar a luta contra a dependência química.

Já para Lucas um novo desafio tinha início naquele momento. Ele havia recebido alta, na tarde de quarta-feira, e passaria a encarar o lado de fora da clínica. "Vamos ver como vai como ser. Espero que desta vez dê tudo certo", afirmou.

De acordo com o médico psiquiatra José Leão de Carvalho Júnior, da Clínica Nova Esperança, quando o dependente químico sai do internamento precisará readaptar sua rotina. Terá de evitar locais, pessoas e coisas que o façam recordar do álcool e das drogas.

*Os nomes dos entrevistados foram mudados para preservar as suas identidades.

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