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Treinamento para alpinistas industriais é de ao menos 40 horas | Fotos: Brunno Covello / Gazeta do Povo
Treinamento para alpinistas industriais é de ao menos 40 horas| Foto: Fotos: Brunno Covello / Gazeta do Povo

Qualificação

Lei exige regularização, com normas rígidas

O trabalho do profissional de acesso por corda é regido por pelo menos duas normas reguladoras: a NR-18 trata da construção civil e a NR-35, do trabalho em altura. Todo trabalho feito em uma distância do solo superior a dois metros é considerado trabalho em altura e deve obedecer aos mesmos procedimentos dos realizados no topo dos edifícios: o uso de equipamentos de proteção, o manuseio de duas cordas e toda a ancoragem (fixação das cordas na edificação).

"Qualquer profissional que vá fazer um trabalho em altura precisa de um treinamento mínimo de oito horas. O problema é que quase ninguém obedece isso", diz Joenice Molina, responsável pela parte de treinamento da JCB Soluções Industriais. Já Eduardo Gobo, coordenador da parte técnica da empresa, diz que o treinamento para alpinistas industriais é ainda maior: 40 horas. "A certificação dura três anos e tem três níveis de capacitação. Ela é feita por um auditor externo, então nem todo mundo que faz o treinamento é aprovado, como em alguns cursos."

  • Alpinistas industriais limpam paredes no Campo Comprido

Basta dar uma volta pelos bairros Ecoville e Campo Comprido em uma ensolarada manhã de quarta-feira para vê-los por aí. Dependurados apenas por cordas – às vezes um banquinho para descanso –, trabalhadores fazem todo tipo de trabalho nas fachadas dos novos condomínios que se erguem na parte Oeste da cidade. E não apenas por ali. O trabalho de acesso por corda, também chamado de alpinismo industrial, é uma demanda cada vez mais frequente com a verticalização das grandes cidades, e ganha espaço no mercado pelo custo-benefício e pela agilidade no serviço.

A Associação Nacional das Empresas de Acesso por Corda (Aneac), que fornece certificação necessária e reúne e difunde informações sobre o setor, não sabe precisar quanto o alpinismo industrial cresceu no país, mas é possível ter uma ideia se analisados os dados da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi/PR) sobre a produção imobiliária em Curitiba.

Segundo os dados, entre 2008 e junho de 2014, Curitiba ganhou 771 novos edifícios residenciais e comerciais. Repare que esses números desconsideram a quantidade de estruturas industriais, viadutos e estádios esportivos que foram construídos no último ano. Ou seja, mostram apenas uma parte grande de um todo ainda maior.

Some-se isso à exigência de algumas empresas em fazer limpezas periódicas – fábricas da indústria alimentícia precisam ter limpeza da fachada e chaminés a cada três meses e prédios devem ser lavados a cada dois anos, por exemplo – e aos outros serviços que devem ser feitos em prédios pelo lado de fora , como reparos, pinturas, inspeções e mudanças, e podemos começar a entender porque as empresas que prestam o serviço de alpinismo industrial em Curitiba estão em alta.

Existem duas certificações para trabalhos de acesso com corda: uma nacional, fornecida pela Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção (Abendi), e uma internacional, fornecida pela Industrial Rope Access Trade Association (Irata). Empresas ou construtoras geralmente exigem uma dessas duas certificações, explica Mailson Vieira, alpinista e sócio-proprietário da Pentágono, que presta serviços de alpinismo industrial na cidade.

Vieira conta que um alpinista é bem melhor remunerado que um operário que trabalha com andaime, por exemplo, o que pode encarecer o serviço, mas que a diferença tende a ser compensada pela agilidade e segurança do trabalho. "A grande vantagem de um trabalho certificado como esse é que os profissionais são muito melhor capacitados e sabem fazer serviços em altura que um profissional que use o andaime pode não saber. Além disso, o empregador tem que pagar o aluguel do andaime e a diá­­­ria do profissional, e o andaime limita muito a mobilidade", diferencia.

Adrenalina e bons salários

Calmamente fazendo a limpeza da fachada do 12.º andar de um prédio no Campo Comprido, o alpinista Vinícius André Brixel, de 23 anos, conversa com os amigos enquanto ouve no radinho os seus artistas favoritos: Charlie Brown Junior, o Rappa e Filipe Ret. "O que eu mais gosto nesse trabalho é o ambiente. Todo mundo faz o que gosta e ganha dinheiro com isso", diz. Ele é profissional de acesso por corda há seis anos.

Brixel trabalhava com serviços gerais na área industrial quando surgiu a oportunidade de fazer o curso para capacitação Irata. "A remuneração é diferenciada, estamos com serviço até o final do ano e tive a oportunidade de aprender mais sobre o alpinismo." A modalidade esportiva, aliás, virou hobbie. "É o que eu faço agora nos fins de semana."

Mailson Vieira é alpinista há oito anos e trabalhava para a Petrobras quando resolveu montar o próprio negócio. "É um serviço para quem gosta de adrenalina, mas o bom é o silêncio", diz. A remuneração de um alpinista industrial predial pode chegar a R$ 5 mil por mês, e até R$ 10 mil na área da indústria, ao passo que um profissional que trabalha em andaime ganha em média R$1,5 mil.

E o medo? "O medo é o que te faz ter segurança. Quem fala que não tem medo tem que tomar cuidado, porque é aí que os erros acontecem", resume Vinícius Brixel.

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