• Carregando...

No próximo vestibular, nem todos os candidatos estarão envergando as camisetas coloridas dos cursinhos. E quando sair o resultado, haverá um número significativo de calouros que, pelos motivos mais diversos, encararam a disputa "sem armadura" – tendo estudado por conta própria, no peito e na raça. Embora a gangorra da aprovação ainda oscile a favor dos estudantes que passaram por cursos preparatórios, as conquistas do outro time não são nada desprezíveis.

Os números são do questionário socioeducacional do último concurso realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR): dos 46.104 inscritos, 14.288 (30,99%) declararam não ter feito nem "terceirão" – curso preparatório extensivo, com um ano de duração – , nem cursinho. Desses, 854 sobreviveram à prova – o equivalente a 19,83% dos 4.306 aprovados.

A presença de quase 20% de autodidatas entre os novos universitários da instituição mais concorrida do estado não deixa de ser um estímulo para quem está na bola da vez. "Normalmente quem toma a decisão de estudar sozinho é mais autônomo, não depende tanto da orientação dos professores e do ritual dos cursinhos", afirma a psicopedagoga e mestre em Educação Laura Monte Serrat. "Até porque tem muita gente que vai ao cursinho para ficar jogando truco na esquina, não está nem aí para as aulas... só vai porque os pais estão pagando."

Os motivos que levam o estudante a enfrentar o vestibular por conta própria variam: vão da barreira financeira à fobia pura e simples – comumente encontrada entre aqueles que já encararam a rotina medieval dos cursinhos por várias vezes. Mas também há aqueles que consideram a neurose dos pré-vestibulares mais nociva que a falta de preparação especializada.

Foi o caso de Laís Oliveira Santos, 18 anos, que passou em Ciências Sociais na UFPR no seu primeiro vestibular, sem nunca ter freqüentado um cursinho – e por vontade própria. Laís fez o ensino médio regular no Cefet-PR, uma escola conceituada, e a graduação que ela escolheu não era tão disputada assim – aproximadamente cinco candidatos por vaga. Mesmo assim, a estudante deixou muito rato de cursinho para trás, tendo feito sozinha a sua preparação para o concurso.

"Minha mãe chegou a me matricular nas provas do meio do ano, para tentar conseguir uma bolsa em algum cursinho, mas eu conversei com ela, disse que não queria fazer e ela concordou", conta Laís. E explica: "Eu não quis porque eu acho o cursinho muito desgastante, uma pressão muito grande, e parece que as pessoas ficam ainda mais neuróticas naquele ambiente. Como eu já não sou uma pessoa muito calma e o Cefet ocupava bastante a minha cabeça, achei que se eu estudasse em casa seria o suficiente."

Ela então freqüentava as aulas pela manhã e reservava a parte da tarde para se preparar para o vestibular: "Eu estudava por livros, apostilas, material da escola... e tive que me conscientizar de que se não deixasse algumas coisas de lado, poderia ter problemas mais tarde". Também foi necessário um acordo com a mãe. "Falava para a minha mãe sair de perto, desligar a tevê, o celular...", relembra a universitária.

Para Laís, a maior vantagem de ter estudado em casa foi a autonomia. "Se um dia eu não estava bem, deitava, dava um cochilinho de uma hora, e voltava a estudar depois ou tirava o dia para não fazer nada. No cursinho eu nunca poderia fazer isso."

Como dica aos que vão tentar o vestibular "na raça" este ano, ela aconselha: "Tem que ter consciência de que não é fácil, de que é preciso se disciplinar, mas também não dá para ficar obcecado. Quando você não estiver bem, saia e vá fazer alguma coisa que você goste. Porque tem dias que tudo o que a gente quer é picotar os livros e jogar pela janela".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]