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O pensionato Ana & Maria Masculino tem 36 moradores, todos rapazes com idades entre 15 e 25 anos | Antônio More/ Gazeta do Povo
O pensionato Ana & Maria Masculino tem 36 moradores, todos rapazes com idades entre 15 e 25 anos| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Garotos são tranquilos, mas querem atenção

As paredes decoradas com pôsteres do X-Men e Darth Vader indicam que naquele casarão quem manda são os garotos. E, claro, dona Lucimara Guimarães, gerente responsável por manter tudo em ordem. O Ana & Maria Masculino conta hoje com 36 moradores, entre 15 e 25 anos, todos estudantes. A rotina é semelhante à dos pensionatos femininos, mas o clima é bem diferente.

Os garotos, como conta Lucimara, são mais tranquilos e carentes do ambiente familiar que deixaram para trás. "Eles são bebezões. Quando ficam doentes, eu levo para o hospital, cuido para que tomem remédio. Quando chega um morador novo, eles sentem ciúme e reclamam que o novato recebe mais atenção", diverte-se. Eles também fazem fila para pegar bolo de chocolate e disputam quem será honrado com a raspa da cobertura.

Rodrigo de Oliveira Matos, 18 anos, de Rondônia, chegou a Curitiba para cursar Engenharia Civil. Mora no pensionato há apenas quatro meses e conta que a saudade da família foi o que mais pesou em sua adaptação. "Foi pedreira, teve dias em que eu chorei de saudade. Mas aqui pelo menos eu tenho companhia, fica mais fácil", diz.

Serviço

Conheça alguns pensionatos para estudantes em Curitiba:

• Ana & Maria

Feminino e masculino. Mensalidade: R$ 1.650, com refeições, faxina diária, lavanderia, tevê a cabo, academia e internet wi-fi incluídos.

F: (41) 3233-7085.

• Casa do Estudante Nipo-Brasileira de Curitiba

Misto. Mensalidade: R$ 150, apenas a moradia. F: (41) 3262-1912.

• Student Flat

Misto. Mensalidade: R$ 590 a R$ 950, pacotes personalizados.

F: (41) 3233-6333.

• Pensionato das Irmãs da Sagrada Família

Feminino. Mensalidade: entre R$ 714 e R$ 766.

F: (41) 3242-3365.

  • Os gêmeos Matheus e Gabriel Kava, 17 anos, vieram de Irati
  • Ana Júlia veio da Bahia para estudar em Curitiba. A rigidez do pensionato não a incomoda

Sair da casa dos pais para desbravar outras paragens em busca do sonho de cursar uma faculdade é um divisor de águas na vida de muitos jovens. Em um cenário totalmente novo e desconhecido, não convém abusar: antes que a filha coloque fogo na casa tentando cozinhar o arroz ou que o filho fique no escuro porque desconhecia que contas de energia elétrica são para pagar, o melhor é instalar a prole em local acolhedor e seguro. Uma das opções mais comuns para agradar aos filhos e tranquilizar os pais são os tradicionais pensionatos de estudantes.

Em Curitiba há vários. Existem aqueles que só aceitam homens ou então só mulheres; os que oferecem comida e roupa lavada e passada; os que oferecem ainda academia, internet wi-fi e tevê a cabo; os que taxam os aparelhos eletrônicos que o pensionista trouxer; os super-rígidos com as regras; e também aqueles que apostam na "independência" de seus hóspedes. Enfim, há opções para todos os gostos e bolsos.

Conheça como funciona a rotina em alguns deles e algumas opções de hospedagem em Curitiba:

Entre fotos, bibelôs, recados e fórmulas de Física

As toalhas das mesas da cozinha são de motivos florais. A sala lembra a da casa da mãe, acolhedora. Nas portas dos quartos, recados, adesivos e desenhos coloridos. Da porta para dentro do pensionato feminino Ana & Maria, o universo adolescente se desvenda: fotografias, bibelôs e maquiagens dividem o espaço com lembretes de fórmulas de Física e a tabela periódica. Ali moram, atualmente, 36 estudantes. Há reservas até para 2015.

Inaugurado em 2008, o local funciona sob a coordenação de Ana Paula Camilo, que herdou da mãe, Maria Elizabete, o gosto pelo ramo. Enquanto Ana é como uma irmã mais velha para as meninas sob sua tutela, Bete, como é chamada a matriarca, recebe cartas e presentes de agradecimento dos pais que confiam suas filhas ao cuidados dela. "É um negócio que exige muito trabalho, mas também recompensa com muito carinho", resume Ana.

Só o barulho é que rende motivo para discórdia entre as meninas. Mas nada que não seja superável com conversa e um puxão de orelha de Ana, que fica responsável por "cuidar" de cada uma de suas hóspedes. Quando o contrato é assinado, os pais determinam o que suas filhas podem ou não fazer, e cabe a Ana monitorar.

Há, por exemplo, a invejada chave da grade, uma espécie de garantia de ir e vir. Isso porque a porta de acesso ao prédio é trancada às 23 horas, e somente meninas autorizadas a retornar após esse horário possuem a chave. Ainda não há registros de "tráfico da chave", mas há boatos de empréstimos feitos na surdina.

Ana Clara Salla, 17 anos, e as conterrâneas Isabella Bianco, 17, e Mariana Aimi, 16, podem voltar após o "toque de recolher", mas garantem não usufruir muito dessa liberdade em nome de metas futuras. Mariana quer fazer Medicina e Isabella, Psicologia.

A maioria das garotas ali veio para fazer o vestibular. Ana Júlia Drum, 19 anos, deixou o interior da Bahia para estudar em Curitiba. O conforto e a segurança foram os maiores atrativos do pensionato. Com três refeições diárias e roupas lavadas, sobra mais tempo para estudar. Ana Júlia, que pretende cursar Medicina, gosta muito do pensionato e nem a rigidez dos horários a incomoda. Depois que for aprovada, os planos devem mudar. "Aí eu quero morar sozinha. Sair, fazer festa, depois de tanto tempo de dedicação."

Disciplina e organização para pôr a casa em ordem

A Casa do Estudante Nipo-Brasileira de Curitiba foi erguida em 1979 por iniciativa da Jamic – Imigração e Colonização, organização cujo objetivo era prestar assistência aos imigrantes japoneses no Brasil. O pensionato, que aceita homens e mulheres, hoje abriga 45 moradores, sendo 80% descendentes de japoneses. Mais isso não é requisito para ser aceito no lugar. Há, no entanto, um processo seletivo que inclui entrevista e análise de perfil.

A administração fica a cargo dos próprios estudantes, por meio de um conselho administrativo e um deliberativo, além de dez departamentos que tratam da rotina, como a convivência entre os moradores, a burocracia administrativa e a preservação da cultura nipônica, entre outras questões.

Modelo

Esse modelo de gerenciamento, de acordo com Felipe Watanabe, 20 anos, membro do conselho administrativo, funciona bem, fazendo jus à famosa disciplina japonesa . "Existe um Estatuto da Casa, então a discussão morre a partir do momento em que há uma definição do que pode e do que não pode. A casa tem uma filosofia japonesa de lidar com as coisas que é difícil de explicar em palavras", simplifica.

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