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Assista às imagens do momento em que Doralice tira a blusa para entrar no banco

Cinco dias após ter tirado a blusa para conseguir entrar em uma agência do Banco do Brasil no Centro de Jundiaí, a 58 km de São Paulo, a empregada doméstica Doralice Muniz Barreto, de 44 anos, diz ter vergonha de andar na região central da cidade. "Você acredita que tenho vergonha de sair na rua? Até a roupa que eu vesti naquele dia deixei em casa e não uso mais para as pessoas não me reconhecerem", disse nesta segunda-feira (9) ao G1.

Na tarde da quarta-feira (4), Doralice foi até a agência bancária situada na Rua da Padroeira. Ela diz que vai com freqüência ao banco para realizar depósitos e descontar cheques. Vestida com bermuda de tecido, blusa regata branca e sandália estilo plataforma, a doméstica foi até a agência e por várias vezes tentou entrar no local, sendo em todas elas barrada na porta giratória detectora de metais. As imagens foram gravadas por celular por Érica Cristina dos Santos, filha da costureira Cleide Aparecida dos Santos Silva. As duas estavam no banco no momento da confusão. (Assista ao vídeo.)

"Eu não travei a fila. Deixei as pessoas passarem. Tinha pessoas de idade, crianças que passavam. Mas quando chegava na minha vez a porta travava. Minha bolsa eu virei no chão várias vezes. Eu queria mostrar para ele (segurança) que eu não tinha nada de metal. Eu trazia uma sacola de supermercado com potes de comida. Mas em momento algum ele queria ver o que eu tinha. Ele queria mesmo era me humilhar", afirmou. De acordo com ela, até a roupa que usava era "leve" demais para que ela pudesse esconder algum objeto por baixo.

"No momento, eu ainda pensei: será que não tenho alicate de unha, lixinha? Nada, eu não tinha nada. Pedi para ele (o segurança) chamar o gerente. Ninguém veio me ver. Eu devo ter ficado uns 15 minutos tentando entrar", acrescentou. Depois de tantas tentativas, Doralice perdeu o controle e acabou tirando a blusa. "Quando eu tirei a roupa, a porta se abriu", disse ela que não é correntista do banco e foi ao local descontar o cheque dado pela "patroa" referente a suas férias.

Chaves e celular

Negra nascida na Bahia, Doralice disse que em seus 44 anos de idade nunca tinha enfrentado problema algum por causa da raça, mas acredita que isso ocorreu na quarta-feira. "Naquele dia eu percebi discriminação, preconceito", afirmou. A discriminação para ela ficou clara quando um advogado "vestido de terno e gravata" passou pela porta "com um molho de chaves e um celular" e não foi barrado.

A entrada do advogado é confirmada pela costureira Cleide, cuja filha fez o vídeo. "Eu estava sentada na frente da porta. Como é tudo de vidro, a gente vê. O advogado passou pela porta com um molho de chaves no bolso e um celular. Só que ele estava de terno e gravata. Quando viu o que estava acontecendo, ele disse que era advogado e mandou o segurança deixar a mulher passar. Foi quando ela tirou a blusa", conta Cleide.

Ação indenizatória

A advogada de Doralice, Gabriela Zara de Barros, disse que irá entrar até o início da próxima semana com uma ação indenizatória contra o banco. "Houve uma agressão prevista no Código Penal de várias formas. Uma delas é o preconceito." Apesar de no dia a doméstica ter ido até a delegacia, o boletim de ocorrência não foi registrado porque não teria ocorrido uso de força. Nesta segunda, ela prestou queixa na Delegacia da Mulher de Jundiaí.

Segundo a empregada, a ação será um pedido de justiça. "O problema ali foi porque não gostaram da minha roupa e de mim. Eu quero que isso vá em frente só por causa disso. Preconceito. O que passou comigo naquele momento não quero que aconteça com mais ninguém."

Enquanto a ação na é movida, ela já decidiu o que vai fazer. "Falei minha patroa que não quero mais nada daquele banco. Eu tenho vergonha de pisar ali. Eu não quero nem ver porta giratória por uns bons dias."

Resposta

Questionado sobre o caso, o Banco do Brasil divulgou a seguinte nota na sexta-feira (6): "O Banco do Brasil segue as normas institucionais, entre elas, a portaria 387 da Polícia Federal que em seu artigo 62 diz que o banco é obrigado a ter vigilante, alarme e um item de segurança, que pode ser portal com detector de metais ou outro item que retarde a ação dos criminosos. O objetivo é garantir a segurança dos clientes." Procurado pelo G1 nesta segunda-feira (9), o banco disse que o posicionamento segue o mesmo.

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