• Carregando...

Há cerca de um mês, moradores de uma pacata rua no bairro Tarumã, em Curitiba, passaram a contar com um serviço que não solicitaram. Mesmo morando em um local tranqüilo, sem registros de assaltos e arrombamentos, eles foram surpreendidos por um insistente apito durante a noite e uma guarita instalada na esquina, ao lado de um terreno baldio. A surpresa maior veio quando as caixas de correio passaram a receber uma carta que orientava os moradores a regularizar a prestação do serviço.

Desconfiada, uma dona de casa resolveu relatar o caso ao Sindicato dos Vigilantes de Curitiba. Lá, ela descobriu que a empresa não tem registro para atuar no ramo. "Os vigias que ficam na rua dizem que, se não pagarmos pelo serviço, a casa pode ser assaltada", revela a moradora da Rua Raul Joaquim Quadros Gomes, que pede para não ter o nome revelado. A síndica de um condomínio que fica na rua, Adriana Lima, diz que o rodízio de vigias é grande. "Em uma semana mudou quatro vezes. E os vigilantes sempre dizem que não sabem de nada."

A situação ocorrida nesta rua de classe média não é única. Segundo o Sindicato dos Vigilantes de Curitiba, pelo menos 90 empresas sem registro atuam desta maneira na cidade. Há dois meses, o sindicato apontou os nomes de 103 empresas de vigilância que atuam de forma irregular na cidade, sem registro na Polícia Federal. A lista foi encaminhada à PF e está disponível no endereço eletrônico www.seesvc.org.br.

Para o presidente do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e da Federação dos Vigilantes do Paraná, João Soares, trata-se de coação. "Várias empresas atuam desta forma: ficam ameaçando as pessoas para que elas contratem os serviços. Os moradores ficam com medo de que alguma coisa aconteça com seu patrimônio", diz ele. "São empresas sem autorização para funcionar, que trabalham na clandestinidade." Segundo Soares, todos os dias o sindicato recebe telefonemas de pessoas que relatam situações semelhantes.

O Sindicato das Empresas de Segurança do Paraná (Sindesp) estima que haja pelo menos 200 empresas irregulares em Curitiba. "Achamos 103 um número humilde. Em casas lotéricas e videolocadoras sempre há vigilantes clandestinos", diz Sandro Maurício Smaniotto, diretor do sindicato. "A forma de as clandestinas venderem o serviço é essa: instalam guaritas e placas nas casas e passam a cobrar", comenta. "Quem não aceitar pode ser coagido e assaltado. As pessoas acabam pagando para não terem esse problema."

As 103 empresas denunciadas à Polícia Federal estão recebendo notificações. Elas têm 30 dias para regularizar a situação ou fechar as portas. "Passado o prazo não podem mais exercer a atividade. Se a empresa não regularizar a situação, retornamos e fazemos o auto de encerramento de atividade", diz Wilson Bonfim, da Delegacia de Segurança Privada da PF em Curitiba. As notificações começaram a ser enviadas no fim de junho. "Estamos fazendo uma depuração. Algumas empresas não têm interesse em continuar no ramo."

Segundo o Sindicato dos Vigilantes de Curitiba, as empresas costumam cobrar R$ 30 por semana de cada casa. "Geralmente um vigia cuida de 50 a 60 casas no bairro, e ganha em torno de R$ 15 por noite", afirma João Soares. Segundo ele, os bairros mais visados são os de classe média e classe média alta, como Jardim Social, Tarumã e Batel.

A reportagem esteve duas vezes na rua onde a guarita foi instalada. Na primeira, não havia ninguém no local. Na tarde de ontem, um vigia, portando somente um cacetete, disse que dá proteção apenas às casas que pagam. "Tem quem paga R$ 150 por mês", disse. Por telefone, Alceu de Paula, diretor da empresa, negou que haja coação. "Se existir isso, erraram o nome da empresa", garante.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]