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| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Entrevista com Cássio Rolim, professor de Economia da UFPR e coordenador do Projeto OCDE Paraná.

Transformar o Paraná em uma região de inovação por meio da integração das universidades com as empresas. Este é o principal objetivo do programa criado pela Organização para a Coo­peração e Desenvolvimento Eco­nômico (OCDE) e que está sendo implantado no estado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em conjunto com o Se­­brae-PR, o Sistema Fiep, o Con­selho Nacional de Desen­volvi­mento Científico e Tecnológico (CNPq), a Universidade Tecno­lógica Federal do Paraná (UTFPR) e o Movimento Pró-Paraná, entre outras entidades.

A OCDE é um fórum internacional, com sede em Paris, que reúne os governos de 30 países para debater e solucionar desafios econômicos, sociais e políticos relacionados à globalização. Atualmente, a organização apoia projetos de inovação em 15 regiões de 11 países. No Brasil, que não é membro da organização, além do Paraná também participa do programa a região metropolitana de Campinas, no estado de São Paulo.

Quem coordena o projeto no Paraná é o economista Cássio Frederico Camargo Rolim, professor da UFPR. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele fala como o projeto está sendo conduzido no estado e o que ele significa na prática.

Como surgiu a ideia de participar do programa da OCDE?

Na verdade, esta é a segunda rodada do programa. A primeira rodada aconteceu entre 2004 e 2007 e o Brasil foi o único país não-membro a participar. Na época, a região avaliada foi o norte do Paraná. Nós é que entramos em contato com a OCDE porque tínhamos o objetivo de fazer um trabalho semelhante ao que eles desenvolvem em outros países. Pedi ajuda a eles para avaliar o impacto de longo prazo das universidades estaduais paranaenses no desenvolvimento econômico local. Eu já havia conseguido avaliar o impacto a curto prazo, a pedido da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), mas não tinha condições de aprofundar o estudo. Assim, fomos convidados a participar da primeira rodada. Infelizmente, não conseguimos fazer a discussão que era necessária na época, mas fomos novamente convidados para participar do programa e, dessa vez, conseguimos reunir um bom número de instituições interessadas em viabilizar a expansão do projeto para todo o estado.

Quais são os principais objetivos do programa?

Há muito tempo que a OCDE tem estudado qual o impacto das instituições de ensino superior no desenvolvimento econômico, social e cultural de uma determinada região. Foram criadas muitas universidades na Europa em regiões distantes das metrópoles e foi percebido que essas universidades funcionavam como o grande motor de desenvolvimento daquelas regiões. Para a OCDE, além do ensino e da pesquisa, as universidades têm esse terceiro papel, de desenvolvimento, de aumentar a produtividade de suas regiões, uma função muito mais ampla do que o antigo conceito de extensão. O principal objetivo da organização é ajudar as instituições que não estão cumprindo esse papel para promover a inovação.

Como o programa está sendo implantado no Paraná?

O primeiro passo foi entrar em contato com todas as universidades e faculdades do estado e convidá-las a participar de um workshop para esclarecer o trabalho a todos os envolvidos. A cada uma das instituições foi pedido que respondesse um questionário de autoavaliação. Com base nessas informações, vamos elaborar um relatório que apresente as características do ensino superior no estado e de que forma as instituições hoje colaboram com o desenvolvimento da região. Em dezembro, uma equipe formada por quatro especialistas vem para analisar as primeiras atividades do grupo e orientar de que forma o projeto será colocado em prática. A ideia é criar um fórum permanente de discussão entre o setor produtivo e as universidades, através de reuniões e seminários.

O que é perguntado no questionário?

Cada universidade fez uma análise profunda de sua estrutura e de suas ações. Precisamos levantar, por exemplo, de que forma as suas pesquisas contribuem para a atividade econômica do estado, se os temas convergem com os interesses do setor produtivo, qual é o grau de dificuldade que os empresários enfrentam para ter acesso a essas pesquisas, que tipo de profissional estamos formando para o mercado de trabalho, a sua contribuição em termos de produção cultural e social, a sua responsabilidade em relação ao meio ambiente e por aí vai. Em uma cidade grande como Curitiba, a produção cultural universitária acaba se perdendo no meio de tudo o que acontece, mas, em uma cidade como Londrina, a universidade tem um papel fundamental.

Quais universidades aceitaram responder o questionário?

Estão participando a Univer­sidade Estadual de Ponta Grossa, a Unioeste e a Unicentro, a UFPR, a UTFPR e, entre as universidades privadas, a única a responder foi a Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Do Norte do estado, já tínhamos a avaliação das universidades estaduais de Londrina e de Maringá, que participaram da primeira rodada do programa. No fim, quem respondeu à avaliação foram as maiores universidades do estado e as que já têm maior participação em termos de pesquisa e extensão.

As universidades que não participaram do questionário se justificaram?

Apenas a Universidade Tuiuti justificou, dizendo que não conseguiria responder o questionário a tempo. Essa autoavaliação não é fácil de responder, conta com muitas perguntas difíceis, como por exemplo, para onde foram os alunos que se formaram na instituição há mais de cinco ou dez anos atrás. Ninguém tem isso, nem a UFPR. Porém, é importante saber se eles estão no mercado, se eles foram bem-sucedidos, se eles estão contribuindo para o desenvolvimento do estado de alguma forma.

Por que estabelecer o diálogo entre universidades e empresas é importante?

Promover a interação entre esses dois mundos não é uma coisa fácil, muito menos imediata, mas, a ideia é que esse vínculo comece a crescer. Porque, na perspectiva mundial, o que esses estudos têm nos mostrado é que as universidades que não fazem isso estão perdendo a sua razão de ser. A maioria das instituições está tendo de encontrar novas alternativas de financiamento. E, para conseguir financiamento da iniciativa privada, é preciso mostrar serviço. A lógica do setor produtivo é diferente da lógica acadêmica e é preciso respeitar as características de cada um desses mundos. O papel da universidade é formar indivíduos com uma visão crítica, com conhecimento universal para solucionar problemas. Os empresários precisam entender que o papel dela não é formar técnicos, adequados ao mercado de trabalho. Por outro lado, os acadêmicos precisam entender que o mundo real funciona de uma outra maneira, tem necessidade de respostas mais imediatas e diretas. Essa passagem de um mundo para o outro e vice-versa é que torna difícil que a universidade assuma esse papel de motor de desenvolvimento.

Quais serão os maiores obstáculos?

Existem centenas de problemas internos que precisam ser superados. Muita gente da universidade pensa diferente, acredita que a sua função não é responder às questões do mundo "externo" e que a sua responsabilidade se limita ao mundo teórico. Da mesma forma que existem muitos empresários com uma visão estereotipada e preconceituosa em relação à universidade. Pensam que a universidade não pode contribuir em nada para o desenvolvimento econômico de uma região, sem se dar conta de que os seus funcionários se formam nestas mesmas universidades.

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