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Investigação

Governo instaura grupo para mapear crimes na internet

O governo federal instaurou na última quinta-feira um grupo de trabalho para mapear atos de discriminação na internet.

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti, acredita que, além de incentivar as denúncias de violência e crimes de ódio no Brasil, é necessário investigar casos virtuais. "O crime virtual desemboca, infelizmente, no crime real", diz a ministra.

O grupo será formado por representantes de diferentes ministérios, além da Polícia Federal, e usará informações fornecidas pelo Laboratório de Estudos em Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo.

O laboratório desenvolveu um aplicativo capaz de monitorar em tempo real milhões de mensagens em redes como Facebook, Twitter, Instagram, YouTube e Flickr.

Direitos

Para Ideli, o crescimento do número de denúncias de atos violentos contra homossexuais revela um movimento de ação LGBT pela busca de seus direitos.

"Anos atrás, as pessoas tinham receio de denunciar pelo medo da exposição e de novas agressões. Estamos mudando esse paradigma e precisamos desenvolver novas ações."

A cada hora, um homossexual sofre algum tipo de violência no Brasil. Nos últimos quatro anos, o número de denúncias ligadas à homofobia cresceu 460%. Segundo números do Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDHPR), foram registrados 1.159 casos em 2011. Neste ano, até outubro, os episódios de preconceito contra gays, lésbicas, travestis e transexuais já superam 6,5 mil denúncias, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.

Os jovens são as principais vítimas dos atos violentos e representam 33% do total das ocorrências. A cada quatro casos de homofobia no país, três são com homens gays. Estudante de Direito na USP, André Baliera, de 29 anos, foi espancado em 2012 por dois homens no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Ele voltava a pé para casa pela Rua Henrique Schaumann quando dois jovens o ofenderam por causa de sua orientação sexual. Depois de uma discussão, acabou agredido pela dupla.

"Nos primeiros dias, não saía de casa. Fui ao psiquiatra, tomei remédios e fiquei seis meses sem passar na frente do posto em que fui agredido", conta Baliera. Quase dois anos depois, receio e medo ainda estão presentes no dia a dia, assim como o preconceito. "Em junho deste ano, estava com meu namorado assistindo a um filme em Santos e fomos xingados de 'viados' dentro do cinema. Chamei a polícia na hora."

Para a SDHPR, o crescimento das denúncias é um fator positivo para combater a violência homofóbica. A coordenadora da área LGBT, Samanda Freitas, diz que o desafio é apurar os crimes. "Precisamos melhorar o atendimento desses casos e isso passa por um treinamento dos policiais para que identifiquem os crimes de ódio LGBT e investiguem com o mesmo cuidado que as demais ocorrências."

Cerca de 26% dos casos ocorrem nas ruas das grandes cidades. Em 2007, a transexual Renata Peron voltava de uma festa com um amigo quando nove rapazes os cercaram na Praça da República, centro da capital paulista. Trinta minutos de violência foram tempo suficiente para chutes, socos, xingamentos, três litros de sangue e um rim perdidos por Renata. "Ninguém foi preso e fica um sentimento de pena. Nem bicho faz essas coisas. Passei seis meses fazendo terapia para entender a razão de ter sido agredida."

Assassinatos

O filho de Avelino Mendes Fortuna, 52 anos, não teve a mesma sorte. Anteontem fez dois anos que Lucas Fortuna, 28, foi assassinado em Santo Agostim, no Grande Recife, em Pernambuco. Jornalista, ele foi espancado por uma dupla de homens e jogado ainda vivo no mar. Os assassinos foram presos e confessaram o crime por homofobia, mas no inquérito a polícia trata o caso como latrocínio. Depois da morte, Avelino virou ativista na ONG Mães pela Igualdade, que luta pelo fim da discriminação contra homossexuais e pelo engajamento dos pais LGBTs na vida de seus filhos. "O pai que não sai do armário juntamente com seu filho se torna cúmplice da morte e da agressão dele no futuro. Um dos nossos objetivos é fazer com que os pais participem, lutem pelos direitos da sua família."

Discriminação

A discriminação e a violência psicológica, no entanto, estão entre as ocorrências mais comuns registradas na SDHPR e delegacia de Direitos Humanos. Cerca de 76% dos casos são de homossexuais que sofrem preconceito no trabalho, assédio moral e perseguição.

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