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O crack vem ampliando sua participação no narcotráfico paranaense |
O crack vem ampliando sua participação no narcotráfico paranaense| Foto:

Policiais envolvidos com a investigação do narcotráfico são uníssonos em afirmar que o crack, que nos últimos anos ganha espaço a passadas largas, é um agente destruidor do organismo humano e da própria sociedade. "Há dez anos, os próprios traficantes não deixavam entrar crack nas favelas do Rio de Janeiro para manter o negócio sob controle", diz o delegado da Polícia Federal e secretário especial Antidrogas do município de Curitiba, Fernando Francischini. De acordo com ele, os grupos tradicionais do tráfico carioca já sabiam do poder viciante da droga, cuja abstinência potencializa a violência descontrolada. A mudança de mercado e a concorrência não permitiram essa proibição por muito tempo, e os números de apreensão comprovam que a droga está presente em todas as cidades. "As notícias que vemos hoje das gangues se matando sucessivamente é um reflexo do crack", diz Franceschini.

"De fato, enquanto a cocaína funciona como um forno convencional, o crack é violento igual a um microondas", diz o comandante da Polícia Militar da capital, coronel Jorge Costa Filho. De acordo com ele, 80% dos homicídios cometidos nos municípios da região metropolitana de Curitiba (RMC) estão relacionados ao uso ou ao acerto de contas no tráfico de drogas.

Segundo o secretário Antidrogas de Curitiba, o mercado do crack tomou força em São Paulo há cerca dez anos, e hoje já chegou a Manaus. O Paraná, naturalmente, não escapou da contaminação: de acordo com ele, a concentração do tráfico está na região metropolitana de Curitiba, no Litoral e em Foz do Iguaçu. Na capital, um conjunto de ruas do centro já foi batizada de "polígono do crack" – Cruz Machado, Riachuelo, São Francisco, Treze de Maio, Largo da Ordem e Saldanha Marinho. "Mas, infelizmente, não podemos dizer que não há crack nas cidades do interior", diz Franceschini.

Vários motivos fizeram o crack galgar espaço no mundo do tráfico. Os principais são o baixo preço – é feito a partir do refugo da produção de cocaína – e o mais rápido poder de vício em relação às outras drogas. "Por isso, os traficantes têm mudado seu perfil e aderido ao comércio de crack. Isso virou uma epidemia", assinala.

Francischini aponta uma pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU) ao dizer que apenas 7% dos dependentes químicos do crack conseguem se recuperar. "É uma sentença de morte", diz, reflexo da grande parte dos viciados que morre consumida pelo próprio tóxico, ou ainda morre executada, principalmente quando está no período de "nóia" (abstinência). A maior parte, no entanto, é assassinada. "E os que conseguem se recuperar da dependência são os filhos de classe média ou alta que são internados pelo preço de pequenas fortunas por mês", diz. Instituições particulares cobram cerca de R$ 300 por dia de tratamento, sendo que a média de internação vai de 30 a 45 dias.

Diferenças

Enquanto a maconha é mais associada a uso esporádico ("fumante social") e com menor poder viciante, a elitista cocaína que embala festas da alta sociedade perdeu seu espaço para o crack, que se desligou da imagem favelizada e passou a frequentar residências da classe média-alta – uma série de reportagens a esse respeito foi publicada pela Gazeta do Povo em março último.

Mas no tráfico moderno até os defensores mais românticos da maconha estão de costas para a parede. Para ganhar preço, os produtores adicionam na massa produtos diversos, como esterco e serragem. Além disso, pesquisas do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital de Clínicas também dizem que a planta cultivada no Brasil é de má qualidade, possuindo concentração inferior a 1% do princípio ativo tetraidrocanabinol (THC). Uma forma de burlar essa erva mais fraca é adicionar crack. "Para compensar essa baixa qualidade, agora colocam também pedras de crack nos cigarros de maconha, viciando o usuário de uma forma diferente, sem ele saber que está consumindo", diz o secretário. (AL)

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