Violência escancara a desigualdade

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O que leva uma pessoa a matar outra? Essa pergunta intriga e não tem apenas uma resposta possível. Da facilidade para cometer um crime à sensação de impunidade, as mais diferentes motivações podem resultar num assassinato. De acordo com o coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná, Pedro Bodê, alguns aspectos indicam as causas de homicídio.

Para ele, a exclusão e a desigualdade social são o principal ponto a ser considerado. Não fosse assim o porcentual de pessoas negras assassinadas não seria tão superior ao número de pessoas brancas. O comentário é baseado no estudo da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) que demonstra que a taxa de homicídios é de 20,6 a cada 100 mil habitantes entre a população branca e de 34 por 100 mil entre os negros.

A morosidade da Justiça e o sistema penitenciário – que não recupera os marginais – representam mais dois motivadores de violência. A campanha de desarmamento, na opinião dele, deve apresentar efeitos a curto e médio prazo nos índices de homicídios.

A experiência de anos no serviço policial – e que resultou no livro Segurança Pública e seus Desencontros – leva o delegado aposentado Mário Machado a não ter dúvidas da associação entre miséria e violência. "A sociedade é neurótica, tudo é em função do ter e não do ser. E se o poder aquisitivo é o que conta, quem não tem está fora das regras de convivência", comenta. Essa descrença no futuro, associada à perda de princípios e à falta de educação básica, seriam as molas propulsoras da criminalidade.

Para ele, investir na polícia – sobretudo numa estrutura mais humana – é imprescindível. Mas Machado acredita que somente a priorização de políticas públicas voltadas para o social pode reverter a tendência de aumento na violência. Ele relata que muitas vezes foi a favelas cumprir mandados de prisão e que é muito triste entrar num barraco paupérrimo e ser rodeado por crianças que o agarravam, pedindo que não prendesse o pai delas. "Eu seguia a lei e cometia um crime contra aquela família", enfatiza. (KB)