Salar de Uyuni, na Bolívia, pelas lentes de Claudia Maia, participante do projeto| Foto: Claudia Maia/Arquivo pessoal

Em um mundo no qual a tecnologia popularizou a máxima “cada movimento, um flash” e tornou a fotografia acessível a todos por meio de máquinas digitais e celulares, além de facilitar sua divulgação graças às redes sociais, que tal uma experiência fotográfica na qual a fotografia não é um fim, e sim um meio de enxergar o entorno? É isso que algumas pessoas, a maioria fotógrafos amadores, têm feito: uma espécie de imersão fotográfica que não apenas resulta em belíssimas imagens, como também apura o olhar, a percepção e a apreciação do objeto fotografado.

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O analista de sistemas Fernando Nobre, 49 anos, é uma dessas pessoas. Ele tem na fotografia um hobby de muitos anos, mas reconhece que o olhar não era aguçado. “Quando o olhar não é treinado para a fotografia, geralmente se fotografa o que se vê, não se espera pelo melhor momento, não se busca o melhor ângulo e luz. Nessa imersão fotográfica, consigo enxergar muito mais do lugar do que se estivesse ali apenas para admirá-lo. Não é só a técnica que se desenvolve, mas a capacidade de percepção também é aprimorada”, explica.

As chamadas “Vivências Fotográficas” são um projeto idealizado pelo fotógrafo curitibano Zig Koch, arquiteto de formação que há pelo menos três décadas trocou as plantas e os esquadros pelas lentes. O nome do projeto faz jus ao que ele é: uma intensa experiência fotográfica. “São viagens programadas para a fotografia, onde cada atividade é pensada para se buscar a melhor imagem”, explica Zig. Mas não é necessário ter curso de fotografia nem mesmo um super equipamento, para viver a fotografia, basta gostar e ter disposição.

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“Para fotografar tem que explorar, tanto o lugar quanto as possibilidades que o equipamento oferece. Antes, eu fotografava no modo automático. Durante a Vivência aprendi a usar o que a máquina oferece”, conta a engenheira agrônoma Claudia Maia, 56 anos, que encarou o Altiplano boliviano e altitudes superiores a três mil metros a base de muito chá de coca. “O mais bacana é o intercâmbio de experiências com os outros participantes. As fotos produzidas assim marcam. Uma das que mais gosto foi feita no Salar de Uyuni, no entardecer. Consegui capturar a textura do salar de maneira que dificilmente conseguiria se estivesse sozinha”, acrescenta.

Roteiros

Zig já levou grupos para o Pantanal Norte, Argentina, Bolívia e Rio Grande do Sul. Para esse ano, estão programadas excursões para o Pantanal Sul, Chapada dos Veadeiros (Goiás) e Jalapão (Tocantins). Os roteiros fogem do convencional e são inteiramente planejados para atender as demandas fotográficas. Isso significa que cada atividade é planejada com base na luz, no movimento turístico, no clima da região e no desafio fotográfico da vez – capturar a fauna e a flora, o céu noturno ou o amanhecer, por exemplo.

“Um roteiro de viagem convencional muitas vezes incluí mais destinos, porque as pessoas ficam menos tempo em cada local. No roteiro fotográfico fazemos escolhas para poder aproveitar todo o potencial de um cenário. Podemos visitar o mesmo local pela manhã e à noite e encontraremos paisagens muito distintas”, explica Zig.

Especializado em fotografia de natureza, Zig conhece bem os destinos e planeja as atividades conforme o potencial da região. “O Pantanal é bom para quem gosta de fotografar fauna. A região tem fase de cheia e de seca, de vazante e de enchente e cada período proporciona uma experiência diferente. No Cerrado tem época de seca e de chuvas. A chuva produz imagens mais dramáticas, já a seca gera cenários mais contemplativos. Toda experiência na natureza é muito bonita”, avalia.

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Serviço

Viagem de imersão para fotógrafos profissionais ou amadores. Dura no máximo sete dias, e para um grupo de até dez pessoas. Custa, em média, R$ 3 mil, incluindo hospedagem e parte da alimentação – passagens à parte. O que vestir? Leve sapatos e roupas confortáveis: prefira botas próprias para trilhas e caminhadas e roupas dry fit. Equipamento: Zig sugere levar uma grande angular, uma semi-tele, tripé, disparador e cartão de memória de alta capacidade. Mais informações no site do fotógrafo Zig Koch .

Destinos

O fotógrafo Zig Koch conta um pouco sobre o que os destinos das Vivências Fotográficas reservam de melhor:

Pantanal

Indo na época certa e com um pouquinho de paciência, sua grande-angular pode flagrar onças, antas, macacos, quatis, jacarés, tamanduás, jaburus, araras, pica-paus, gaviões e outras inúmeras espécies de aves. E qual é a melhor época para ir até lá?

“A época da cheia é bacana para fazer cavalgadas com a água batendo na barriga do cavalo e para acompanhar as comitivas que deslocam o gado. Já no período de vazante, centenas de peixes ficam ilhados em pequenas lagoas, atraindo muitas aves e outros animais que vão até o local para se alimentar. Todo período é bom para foto.”

Bolívia

A Vivência na Bolívia incluiu uma incursão pelo Altiplano boliviano, planalto que se estende pela Cordilheira dos Andes ao longo de toda a faixa central do país, da Argentina até o Peru. Além da capital La Paz, o grupo também conheceu o lago Titicaca, localizado na fronteira com o Peru e o Salar de Uyuni, a planície de sal mais extensa do mundo.

“Uyuni é impressionante. É um horizonte branquíssimo. Nós encontramos esse cenário, mas alguns dias antes, um outro grupo de turistas encontrou tudo marrom. Como venta muito na região, a poeira se espalha pelo salar. Nós tivemos sorte porque choveu forte e a água lavou tudo.” Outro ponto alto da Vivência é a Lagoa Colorada, cuja água avermelhada por conta de sedimentos vermelhos e pigmentação de algas combinada aos tons rosados dos flamingos que abundam na área proporciona uma visão ímpar.

Rio Grande do Sul

Na serra gaúcha o ano se divide em meses de frio intenso e meses de calor, a chuva, no entanto, aparece com regularidade durante todo o ano. Zig destaca um fenômeno chamado por quem vive na região de “Nada”: trata-se de um nevoeiro bastante denso que se forma de repente e estende-se por todo o campo, bem rente ao chão, transformando um cenário de sol e céu azul em um grande nevoeiro branco.

“Você vê o Nada chegando como se fosse um rolo compressor. Se não tiver um GPS ou um cavalo que conhece a região, você não consegue sair, tem que esperar até o amanhecer do dia seguinte para seguir viagem. Já vi o Nada chegando, é uma imagem belíssima.” (CP)

Salar de Uyuni pelas lentes de Claudia - uma das imagens mais marcantes para a engenheira agrônoma
Salar de Uyuni pelas lentes de Fernando Nobre
Panorâmica da Cordilheira dos Andes, na Bolívia
Flamingos na Laguna Colorada, na Bolívia
Salar de Uyuni, na Bolívia
Gavião flagrado no Pantanal
Lagoa na Bolívia
Lago Titicaca, na Bolívia
Participantes da Vivência na Bolívia
Grupo que viajou para a Bolívia na Vivência Fotográfica organizada por Zig Koch
Fotógrafo Zig Koch, o responsável pelas Vivências Fotográficas