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Pessoas que moram em regiões vizinhas a indústrias de cal e calcário em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, sofrem mais de problemas respiratórios do que as residentes em outras áreas. A conclusão é do médico sanitarista Darci Braga, que recentemente tratou do assunto em sua dissertação de Mestrado em Gestão Ambiental do UnicenP (Centro Universitário Positivo), de onde também é professor do curso de Medicina.

Durante os meses de dezembro de 2005 e janeiro de 2006, Braga coletou amostras do ar nas redondezas de duas indústrias mineradoras instaladas no município e constatou que a concentração de partículas sólidas era suficiente para ser absorvida pelo pulmão humano. A dissertação é a primeira prova científica de que a emissão de partículas no ar por essas indústrias interfere na saúde da população do seu entorno. Para comprovar a suspeita, além de fazer a análise da qualidade do ar, o pesquisador aplicou 200 questionários com os moradores vizinhos das indústrias e outros 200 com pessoas que vivem em regiões mais afastadas. O levantamento confirmou que os habitantes das proximidades apresentavam mais problemas respiratórios.

Segundo Braga, em geral a qualidade do ar na região está dentro dos parâmetros estipulados pela resolução 3/1990 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), mas mesmo assim a atividade está sendo danosa para a saúde da população. A resolução permite que num período de 24 horas pode ser inalada uma concentração de partículas de até 240 microgramas por metro cúbico de ar. Esses valores não devem ser excedidos mais de uma vez por ano. Segundo o professor, as amostras coletadas revelaram uma quantidade mil vezes menor ao estipulado na resolução, e ainda assim estão fazendo mal à população. Com base nisso, faz um alerta: "Pode-se dizer que a própria legislação não garante o limite seguro de poluição".

Agravamento

A análise dos questionários demonstrou que a população próxima às indústrias apresenta 10% mais sintomas de tosse do que a que vive mais longe. Assim como 12% dos entrevistados próximos acusaram falta de ar, enquanto somente 5% dos distantes relataram o mesmo problema. Segundo o pesquisador, dados oficiais do Datasus (banco de dados do SUS) confirmam que há mais registros de doenças respiratórias em Colombo do que em São José dos Pinhais, municípios que têm população equivalente.

Para o médico, a presença de partículas inaláveis na atmosfera é um fator de causa e agravamento das doenças pulmonares, tanto agudas como crônicas. "Isso explicaria uma relação de causalidade com os índices de morbidade (chances de complicação) e mortalidade por doenças pulmonares que é elevado na população de Colombo", afirma. Segundo ele, a percepção em relação a poluição do ar também varia de acordo com a proximidade das indústrias. A população das redondezas tem maior consciência da poluição, enquanto os entrevistados de regiões mais afastadas, quando questionados sobre as causas de poluição, apontaram o lixo jogado em terrenos vazios, poeira das ruas não pavimentadas e valetas abertas com descarga de esgoto domiciliar. "Percebemos que as pessoas que moram próximas às indústrias reconhecem que estão sendo prejudicadas em sua saúde, mas permanecem ali morando por circunstância de contingência" afirma.

Aumento de casos

É o caso da dona de casa Claudinéia Belarmino de Jesus, 24 anos, que vive há cerca de 100 metros de uma pedreira de onde é extraída a cal. Com o marido trabalhando em uma das indústrias, ela reclama que não tem alternativas. "Ele tem que trabalhar, não temos para onde ir", conta. Segundo Claudinéia, o filho de 3 anos, Gabriel, sofre de bronquite. "Já levei no médico, mas não adianta tomar remédio", diz.

O aposentado João Castro, 70 anos, também sofre com as crises de tosse. Morando no local há 10 anos, ele conta que já chegou a procurar tratamento, mas que por conta do alto preço de um exame acabou desistindo. "Tinha que pagar 80 reais. Não tenho esse dinheiro. Aí vou levando e tomo algum remédio quando pioro", afirma.

De acordo com o secretário de saúde de Colombo, Helder Lazarotto, nesta época do ano é comum um aumento no número de atendimentos referentes a problemas respiratórios nos postos de saúde da cidade. No entanto, ele diz que não tem como confirmar que sejam em decorrência do pó produzido pelas indústrias. O secretário reconhece que embora haja um trabalho diretametne com as empresas para tentar minimizar a emissão de poluentes, não existe nenhum programa específico focado na saúde dos moradores da região ou dos trabalhadores das fábricas.

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