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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Soluções

Humanização do trânsito passa por mudanças culturais

O aumento da frota de veículos tem motivado mudanças que fogem do escopo de urbanistas e gestores públicos. Em grandes centros, como São Paulo, são comuns as histórias de moradores que optaram por viver em ruas próximas aos locais de trabalho, justamente para evitar o tempo perdido dentro do carro. O movimento também tem valorizado imóveis construídos próximos a estações de metrô, devido à facilidade de acesso ao transporte.

Para especialistas, ações relativamente simples, como a carona solidária, podem surtir efeitos se adotadas em larga escala. Em Los Angeles (EUA), carros que transportam duas ou mais pessoas podem utilizar vias exclusivas. Além de economizar, ao compartilhar os custos da viagem com os colegas, o motorista chega mais rápido ao local de trabalho. "Não é uma solução que vai resolver o problema, mas é uma estratégia criativa. Sinaliza que dar carona vale a pena, não só operacionalmente, mas financeiramente", afirma o professor do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da UFPR, Ramiro Gonçalez.

Outra alternativa é o escalonamento de horários entre as escolas e o comércio, mas isso não é cogitado, segundo o secretário de Trânsito, Joel Krüger. "É uma questão bastante complexa, porque envolve uma negociação com todos os atores da cidade. Só seria viável se ocorresse um verdadeiro pacto entre toda a cidade", diz.

As ruas de Curitiba já têm data marcada para voltarem a ficar congestionadas. A partir da próxima quinta-feira, 377 mil estudantes das redes de ensino municipal, estadual e privada iniciam o ano letivo. A estimativa da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) é que o fluxo de veículos aumente em 30%.

O porcentual é uma média histórica e não permite sinalizar quantos automóveis estarão ao mesmo tempo nas ruas. Mas basta o motorista sair com o carro da garagem para entender, na prática, o efeito de mais veículos em vias que, mesmo na época de férias, ficam esgotadas nos horários de pico.

O crescimento da frota também desafia a mobilidade na capital. Somente no último ano, 28,3 mil automóveis foram adquiridos em Curitiba, atingindo a marca de 914,3 mil carros (excluindo motos, ônibus e caminhões). Os números evidenciam uma realidade cada vez mais preocupante para urbanistas e gestores públicos: o transporte individual continua sobrepujando o transporte coletivo. Isto em uma cidade que ganhou fama internacional justamente pela criação de uma infraestrutura pioneia para os ônibus.

Com a volta às aulas, quem enfrenta o trânsito diariamente vai demorar um pouco mais para chegar ao destino, principalmente no início da manhã e no fim da tarde – as aulas na rede municipal e na estadual começam às 7h30 no período matutino e encerram às 17 horas no vespertino. Isso somado às obras e desvios que já impactam na mobilidade do veículos. Entre as intervenções em andamento estão as readequações das estaçõestubo ao longo da Avenida Sete de Setembro, a interdição parcial da Avenida Vicente Machado e as obras na Avenida Salgado Filho.

Para diminuir os efeitos da volta às aulas no trânsito, a Setran informa que vai monitorar o fluxo nas principais escolas do anel central e enviar agentes assim que houver sinais de interrupção do tráfego.

Segundo o secretário de Trânsito, Joel Krüger, outras medidas adotadas incluirão a reprogramação dos semáforos, conforme o horário e o local dos cruzamentos, e o envio de boletins durante todo o dia para as rádios, com o objetivo de disseminar informações sobre os pontos que devem ser evitados pelos motoristas.

Paliativos

O próprio secretário e especialistas em mobilidade urbana, no entanto, concordam que estas são medidas paliativas, frente ao esgotamento do trânsito na capital. Confira ao lado as principais ações que estão sendo pensadas a curto, médio e longo prazo para Curitiba, envolvendo três áreas consideradas estratégicas: o transporte coletivo, a gestão de tráfego e o incentivo a modais alternativos.

Gestão de tráfego

O uso da tecnologia para o monitoramento e a gestão do tráfego é uma das alternativas mais viáveis para agilizar o fluxo de veículos na capital a curto prazo. Medidas relativamente simples, como a reprogramação dos semáforos conforme o volume de tráfego, podem evitar congestionamentos. A previsão é que o Sistema Integrado de Mobilidade (SIM) de Curitiba, que prevê painéis informativos (alguns já em operação), câmeras de monitoramento e uma central de controle para agilizar a resposta dos órgãos de trânsito, esteja em pleno funcionamento até o fim deste ano. O secretário de Trânsito, Joel Krüger, afirma que a pasta já iniciou estudos para melhorar a sincronização dos semáforos – motivo de críticas constantes dos motoristas.

Ônibus

Convencer os motoristas a deixar o carro em casa e migrar para o ônibus tem sido uma tarefa difícil em Curitiba – o número de automóveis aumentou 21% nos últimos seis anos, enquanto o de passageiros estagnou em 309 milhões de pagantes por ano desde 2010. Discussões sobre melhorias no conforto dos ônibus e aumento da frota e da frequência, principais reivindicações dos usuários, têm sido deixadas de lado frente a uma questão básica, ainda sem resposta: como tornar o sistema financeiramente viável. A prefeitura tenta manter o subsídio estadual ao transporte, enquanto se prepara para iniciar as discussões sobre o reajuste na tarifa. No campo das ações práticas, a Urbs cogita implantar faixas exclusivas para ônibus em algumas ruas de Curitiba para tentar retirar os veículos do congestionamento. A medida está na fase de estudos e é vista com simpatia por especialistas.

Ciclovias

A expansão da rede cicloviária atual, de 120 quilômetros, é uma das prioridades da prefeitura da capital. Ainda não há prazos, porém, para que o incentivo à bicicleta evolua do discurso para ações práticas. O secretário de Trânsito, Joel Krüger, afirma que a pasta trabalha em conjunto com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para projetar as novas ciclovias, que devem formar uma malha total de 300 quilômetros. A expectativa é que, até o próximo ano, os projetos estejam prontos, para aí sim começar a busca por recursos. Paralelo à expansão da rede, a Setran promete criar também espaços de apoio aos ciclistas, como bicicletários e vestiários públicos. Outra demanda, defendida pela Comissão de Urbanismo e Obras Públicas da Câmara de Vereadores, é que parte das ciclovias sejam instaladas junto às canaletas de ônibus, para aproveitar os eixos estruturantes do transporte.

Metrô

O sistema metroviário é uma solução um pouco mais demorada. Não apenas pelo tempo de construção, mas também devido às incertezas que ainda rondam o projeto, que teve os recursos anunciados no final de 2011. Uma comissão foi instaurada pela prefeitura mês passado para analisar a necessidade de mudanças e a viabilidade do projeto. A expectativa é que, logo após o carnaval, o grupo apresente algum parecer. Segundo o prefeito Gustavo Fruet, a previsão é lançar o edital ainda neste primeiro semestre. O orçamento inicial da obra gira em torno de R$ 2,33 bilhões. O projeto prevê 14,2 quilômetros de metrô, da CIC-Sul até a Rua das Flores, no Centro, a serem construídos ao longo de quatro anos. "O metrô é uma boa alternativa, mas sozinho não funciona. Precisa ser interligado com outros modais. Se o ônibus já não para na porta de casa, o metrô muito menos", alerta o professor do Departamento de Transportes da UFPR Garrone Reck.

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