A voz de um bombeiro anuncia um número de celular. O clima já tenso na sala da Câmara dos Vereadores, onde se concentram parentes e amigos dos desaparecidos no desabamento dos prédios no Centro, fica ainda mais pesado. Agoniadas, pessoas começam a puxar números pela memória, enquanto outras consultam a agenda do celular. Uma mulher diz: "O número é do celular do meu pai!", e cai num choro descontrolado. O aparelho havia sido encontrado próximo a um corpo resgatado nos escombros. Solidários, parentes de outras vítimas deixam de lado a sua dor e correm para abraçar a mulher.

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A cena foi a mais forte até agora presenciada pelo voluntário da Cruz Vermelha Eugênio Pereira. A filha que chorava a perda do pai era a secretária Sandra Maria Ribeiro. Ela reconheceu o corpo do porteiro Cornélio Ribeiro na manhã de quinta-feira.

"As pessoas tiraram forças não sei de onde para confortar aquela mulher", disse Eugênio.

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Funcionário público, Eugênio, de 51 anos, já estava em casa, no Engenho de Dentro, quando um telefonema o informou do desabamento. Rapidamente se arrumou, e pouco depois das 21h, já estava no local da tragédia. Voluntário da Cruz Vermelha há um ano e dois meses, ele atuou no apoio às vítimas das enxurradas da Região Serrana, em janeiro de 2011. Agora, cabe a ele confortar parentes e amigos dos desaparecidos que aguardam notícias numa tenda, inicialmente montada ao lado da Caixa no Largo da Carioca e, depois, transferida para a Câmara.

"Não tinha ideia do tamanho da tragédia. Minha tarefa era acalmar quem precisasse de ajuda. Se parasse para pensar na cena de um prédio desabando, não conseguiria manter o foco. Confesso que me pego com o coração apertado diante do sofrimento. É muita dor. A todo instante o silêncio da espera é cortado pelo som do choro agoniado de alguma pessoa".

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