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Preso, Raimundo Gregório da Silva disse nunca ter recebido carinho dos pais: “Sempre fui rejeitado” | Dirceu Portugal/Gazeta do Povo
Preso, Raimundo Gregório da Silva disse nunca ter recebido carinho dos pais: “Sempre fui rejeitado”| Foto: Dirceu Portugal/Gazeta do Povo

Polícia fará exame de DNA em ossadas

Os ossos humanos encontrados na fossa da Escola Estadual Vinicius de Moraes, em Campo Mourão, foram encaminhados ao Instituto Médico-Legal (IML) de Curitiba para análise. A polícia informou que vai colher sangue das famílias das duas vítimas para fazer exames de DNA.

Na tarde de ontem, oito investigadores com a ajuda de um posseiro encontraram partes de uma arcada dentária, um dente com aparelho ortodôntico, ossos de costela, do crânio e do ombro. "Como a Iara usava aparelho, é provável que o dente seja dela", afirmou o superintendente da Polícia Civil, Claudinei Pereira.

Por enquanto, o trabalho de busca em meio ao barro retirado da fossa é precário. Para localizar as ossadas, os policiais improvisaram uma tela de exaustor e uma peneira de pesca, emprestada por moradores. "Vamos tentar concluir os trabalhos neste local para amanhã [hoje] começar as buscas nas outras duas fossas", disse.

Equipamento

Pereira informou que a polícia requisitou à Universidade Estadual de Maringá (UEM) o empréstimo de um equipamento que funciona como um raio X de alta precisão para vistoriar outras duas fossas na escola. A suspeita é de que há mais ossos enterrados no local. A máquina é semelhante à usada após a Segunda Guerra Mun­­dial para detectar minas explosivas no solo.

O aparelho consegue rastrear até 30 metros de profundidade. Uma tela de computador mostra o que o aparelho detecta. As ondas mudam de padrão se forem encontrados pontos ocos ou materiais que tenham sido enterrados. "Os geólogos vão fazer as buscas em outras duas fossas da escola", explica o policial.

Segundo ele, as outras duas fossas estão desativadas, o que deve dificultar as escavações. "Como o solo está compacto, o equipamento vai auxiliar nas buscas pelos restos das ossadas. Na primeira fossa foram encontradas partes de dois cadáveres. Restam ainda os membros inferiores que podem estar nestas outras duas fossas."

A polícia não descarta a possibilidade de parte dos ossos terem sidos destruídos pelo fogo. "Por algumas vezes, os vizinhos perceberam enormes fogueiras no pátio da escola, mas imaginavam que era mato sendo queimado", disse Pereira. As fogueiras eram feitas a menos de cinco metros de três salas de aula da escola, que atende cerca de 600 alunos nos períodos da manhã, tarde e noite. Os corpos eram enterrados ao lado de uma das salas de aula.

  • Entenda como é o processo do exame de DNA

O zelador Raimundo Gregório da Silva, 52 anos, assassino confesso de duas estudantes em Campo Mourão, no Centro-Oeste do Para­­ná, relatou ontem com frieza os motivos que o levaram a cometer os crimes. Parte das ossadas das ví­­timas – Dimetria Laura Vieira, 17 anos, que estava desaparecida havia dois anos, e Iara Pacheco de Olivei­­ra, 21 anos, sumida havia sete meses – foi encontrada em uma fossa na Escola Estadual Vinicius de Mo­­raes, onde ele trabalhava e morava. Exames de DNA vão confirmar se os ossos são mesmo das vítimas.Silva alegou ciúmes para justificar a morte da adolescente. "Foi uma bobeira. Ela conheceu um rapaz, queria ir morar com ele, mas fiquei com ciúmes. Dei um copo de refrigerante com sonífero e fiquei com medo que assim que ela acordasse, ficasse brava comigo. Dei apenas uma marretada na cabeça dela, enterrei o corpo e, após um ano, tirei, queimei e joguei os ossos na fossa", contou.

Pai de seis filhos, o zelador contou que conheceu a adolescente por meio de uma tia de Dimetria, com quem teve um relacionamento amoroso de três meses e um filho, que hoje tem 2 anos. O zelador disse ainda que guardou roupas de Dimetria como recordação. "Dela, só queria a amizade. Sinto muita falta dela. Estou arrependido do que fiz."

De acordo com a avó da vítima, Marieta Ferreira Vieira, 57 anos, o zelador presenteava a neta com roupas, sapatos, ursinhos de pelúcia e flores, além de buscá-la todos os dias no colégio. "Mesmo com a minha proibição, ele não largava dela". A avó contou que os pais da adolescente são usuários de drogas e a neta constantemente era agredida. "Ela veio morar comigo, pois não suportava mais apanhar do pai."

No caso de Iara, o zelador contou que, antes de ser morta, ela teria pedido dinheiro para comprar crack. "Tivemos relações sexuais, dei dinheiro, mas ela queria mais. Ficou nervosa e começou a pegar minhas coisas de dentro de casa. Joguei uma moeda no chão. Quando ela se abaixou dei uma marretada. Ela ficou tonta, dei outras duas. Enterrei o corpo e, após 45 dias, tirei da ‘horta’ e queimei. Os ossos foram jogados na fossa", confessou.

Silva disse que "ouvia vozes" e por isso não contou antes sobre os crimes. "Uma voz falava para não contar. Na [última] quinta-feira, o diretor achou que eu estava estranho e disse que caso tivesse feito algo de errado era para contar para a polícia. Aí contei tudo a ele." Tentando justificar os crimes, o zelador disse nunca ter recebido carinho dos pais. "Sempre fui rejeitado. Estou arrependido e peço perdão às famílias da Iara e da Dimetria."

Novas descobertas

No celular do zelador, policiais encontraram fotografias de duas professoras da escola. Algumas fotos mostravam os seios e as costas de uma delas. As imagens fo­­ram feitas sem o consentimento das professoras. "A primeira eu sentia atração por ela. A ou­­tra fiz as fotos por fazer", disse Silva.

"Ivan", como o zelador era conhecido, trabalhou na escola por 18 anos. Ele cuidava dos alunos no recreio e vigiava os portões na saída. "Nunca percebi nada de anormal com ele. A única atitude estranha é que ele não gostava que passasse próximo da casa dele, não sei o motivo, mas o deixava irritado", contou a auxiliar de serviços gerais Maria de Lurdes da Silva, 60 anos, que há 22 anos trabalha na escola. Em 2000, o zelador foi candidato a vereador pelo PSB, tendo recebido 11 votos.

Para o chefe do Núcleo Regional de Educação, João Luiz Conrado, o envolvimento do zelador nos crimes foi uma surpresa. "Ele era uma pessoa prestativa. Por algumas vezes foi em minha casa fazer serviços de instalação elétrica e encanamentos", lembrou.

Por causa das escavações no pátio da escola, as aulas foram suspensas por tempo indeterminado. "Ainda não há uma data para o retorno das aulas. Quanto ao diretor [Cláudio Pereira], será aberto um processo administrativo para investigar o seu grau de conhecimento em relação ao zelador", disse Conrado. Na manhã de sábado, o diretor foi preso por porte ilegal de arma, mas pagou fiança e foi liberado.

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