O relatório do livro de ocorrências dos dias 15, 16 e 17 de julho da torre de comando do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, mostra que pelo menos 11 comandantes de aviões alertaram para a pista escorregadia na véspera do acidente com o Airbus A 320 da TAM. No último dia 17, o avião não conseguiu parar na pista principal do aeroporto, passou sobre a Avenida Washington Luís e bateu no prédio da TAM Express matando cerca de 200 pessoas.

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O relatório foi divulgado nesta terça-feira (31) pela CPI do apagão aéreo da Câmara durante o depoimento do presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. O documento relata ainda a impressão dos controladores sobre o Airbus após seu pouso no aeroporto naquele dia. Segundo eles, o piloto do avião da TAM foi alertado sobre a pista escorregadia e o pouso, como já se sabe, ocorreu sem problemas.

Em depoimento à CPI na noite desta terça-feira (31), o piloto da TAM José Eduardo Brosco confirmou que a pista do aeroporto de Congonhas ficou mais escorregadia após a reforma concluída em junho. Brosco pousou na pista no dia 16 de julho com o mesmo Airbus que caiu no aeroporto no dia seguinte. "Ela é mais escorregadia. É a sensação que eu, como piloto, tenho", disse.

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No dia do acidente

No livro de ocorrência, os controladores registraram os problemas verificados no momento do acidente com o vôo 3054: "aparentemente pouso normal, não conseguiu parar a aeronave na pista e foi lançada sobre a Avenida 23 maio", diz o relato. "Após o pouso e após a tentativa de parar, a aeronave ganhou velocidade e ultrapassou o final da pista, projetando-se para a avenida", afirmam os controladores no livro.

A torre de comando ainda aponta a demora dos bombeiros em atender ao chamado do acidente da TAM. "Bombeiros foram acionados de imediato, mas foi observado dificuldade e demora para as viaturas saírem dos limites do aeroporto".

No dia 16, cinco aviões tiveram problemas antes que uma aeronave da Pantanal derrapasse na pista. Segundo relatos da torre de controle, aviões dos vôos da Gol de número 1203 e 1879 e da TAM, números 3020, 3461, 3006 reclamaram da pista escorregadia. Logo depois, um avião da Pantanal derrapou. "Pousou, após o toque aquaplanou, saiu da pista", diz o relato.

Após esse incidente, um avião da TAM, do vôo 3215, "teve muita dificuldade para frear a aeronave", segundo o livro de ocorrências. De acordo com a torre de comando, o piloto teria dito que passou um "susto" com o episódio. Já o comandante do vôo 1657 da GOL teria alertado para "pista muito escorregadia". No mesmo dia, um avião da Varig, outro da Gol e mais um da TAM também reclamaram da pista.

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Já no dia 17, data do acidente, um piloto do vôo 1687 da Gol disse aos controladores que a pista estava escorregadia. Segundo a anotação dos controladores, uma inspeção foi feita logo depois para medir a água da pista. "A informação era de que não havia poças ou lâmina d'água", dizem os controladores.

Indagado sobre esses relatos, o presidente da Infraero minimizou. "No mesmo dia, outros pilotos pousaram e disseram que a pista estava muito boa", afirmou.

Caixas-pretas

Na quarta-feira (1º), a CPI vai realizar uma sessão secreta para analisar os dados das duas caixas-pretas. A sessão contará com a presença do chefe do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), brigadeiro Jorge Kersul Filho, e do coronel Fernando Camargo, responsável pela investigação.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), integrante da comissão, disse nesta terça-feira (31) que, segundo relatos de integrantes da Aeronáutica, o áudio gravado em uma das caixas-pretas é um "filme de terror". "Me disseram que é muito forte", afirmou. Após a sessão secreta, os deputados devem definir qual o conteúdo dos dados que será divulgado para a imprensa.

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Processo nos Estados Unidos

Nesta terça-feira (31), o advogado Steven Marks, do escritório americano Podhurst Orseck, afirmou que foi protocolado na Justiça dos EUA uma ação judicial contra a TAM e a Airbus motivada pela morte do peruano Ricardo Tazoe, que estava no vôo 3054. O passageiro, de 35 anos, tinha cidadania norte-americana e morava em Miami.

O processo abre caminho para que brasileiros recorram à Justiça americana. O advogado afirma que famílias de brasileiros entraram em contato com o escritório para saber de detalhes da ação. Os advogados irão processar a empresa brasileira TAM por negligência de sua equipe de pilotos e de manutenção. A Airbus, fabricante da aeronave, também está entre as partes acusadas.