O Ministério Público (MP) tem o poder de decidir se alguém será processado criminalmente. Para que sua atuação não seja passível de manipulação política e ele aja sempre orientado pela igualdade de todos perante a lei, a CF de 1988 lhe deu independência frente aos demais poderes. O resultado pode ser visto ao longo dos últimos anos em milhares de ações propostas pelo MP nas mais diversas áreas em favor da cidadania.

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Na proteção ao patrimônio público, os símbolos maiores estão nos Casos do Mensalão e da Lava Jato. Daí porque no último dia 27 de agosto as atenções se voltaram à CCJ do Senado. Decidia-se ali se Rodrigo Janot, atual Procurador-Geral da República (chefe do MPF), exerceria novo mandato. Janot foi o mais votado em eleição do MPF e foi indicado pela presidente. O passo seguinte era submeter-se à sabatina no Senado.

O detalhe é que o cargo de PGR dá ao seu titular o poder de decidir se deputados e senadores – detentores de foro privilegiado no STF – serão processados criminalmente. E o que não passou despercebido é que na sabatina de Janot atuaram vários senadores que estão por ele sendo investigados na “Lava Jato”.

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Com a vigilância da imprensa a aprovação de seu nome veio mesmo assim. Fortaleceu-se a instituição, é certo. Mas, que ninguém se iluda: com um pouco menos de atenção da mídia, poderia ter sido diferente. O resultado é que mesmo com Janot deixando a marca de pessoa séria e que pauta sua atuação pela técnica e não pela política, demonstrando que prosseguirá com firmeza na Lava Jato, ficou patente essa falha no processo de escolha do PGR.

Por mais que o controle externo do Senado seja importante, enquanto o foro privilegiado existir, será preciso pensar em mecanismos que evitem os contrassensos vistos. Afinal, à democracia não é conveniente que esteja nas mãos dos investigados escolherem seu investigador. De resto, é esperar que a República se livre da herança estamental e consolide instituições isentas e éticas no trato da coisa pública.